Por que De Bruyne negociou renovação no City sem ajuda de empresário

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Se antes os empresários eram personagens centrais nas negociações durante as janelas de transferências, a renovação de Kevin de Bruyne no Manchester City, em 2021, se tornou o marco de uma importante mudança no mercado da bola.

Isso porque o meio-campista conduziu a negociação sem agentes, contando apenas com a ajuda de dois advogados para auxiliar em questões jurídicas. É o que revelou uma nova matéria do site “The Athletic”.

“Ele faz o scouting dele”: Como De Bruyne negociou renovação sozinho no City

O “The Athletic” revelou que De Bruyne, além de contar com a ajuda dos advogados, preferiu ir atrás de serviços de análise de futebol que oferecessem contexto em relação aos seus números ao invés de estar ao lado de um empresário no momento da negociação.

Uma das empresas contratadas teria sido a “Analytics FC”, que forneceu ao belga o seu serviço de assinatura, “que aplicou análises de dados inovadoras para solidificar o seu valor para o clube”.

— O uso de dados está crescendo porque os jogadores estão se tornando mais inteligentes, mas por enquanto é uma situação de caso a caso. É raro que um jogador produza estatísticas das quais ainda não tenhamos conhecimento, embora seja verdade que as negociações duram muito mais tempo – e são mais complexas – do que há alguns anos — relatou uma fonte anônima que trabalha na primeira divisão inglesa.

No caso de De Bruyne, o atleta pediu à Analytics FC um relatório de análise de desempenho que o comparasse com outros jogadores que atuam na mesma posição, “adicionando uma camada de visão financeira ao processo”. A ideia do jogador era usar os dados para mostrar o quão importante ele era para a equipe de Pep Guardiola e basear um pedido de aumento salarial na renovação com argumentos concretos.

— O processo é feito sob medida para cada cliente. Não é tão simples como imprimir um relatório de observação e dizer: ‘Olha, você é tão bom quanto este jogador, mas não tão bom quanto aquele’. Cada cliente tem objetivos diferentes. E o relatório é independente – não podemos fazer com que um jogador ruim pareça bom e somos sempre objetivos. Dito isto, todos os jogadores com quem trabalhamos têm a sua própria narrativa. Tomando como guia os objetivos do cliente, podemos moldar esse relatório para fornecer uma avaliação objetiva, mas sinalizando áreas de força real, aspectos que talvez eles não tenham considerado — explica Jeremy Steele, chefe-executivo do Analytics FC, ao “The Athletic.

O exemplo de De Bruyne se tornou tão emblemático que a Analytics FC passou a trabalhar especificamente com a renovação e contratação de jogadores no futebol masculino e feminino em times da Europa. No entanto, Steele deixa claro que a ideia não é “pegar os clubes de surpresa” ou algo nesse sentido, mas “fornecer informações valiosas para os jogadores se avaliarem de diferentes maneiras”.

— Acho importante deixar isso claro: estamos fornecendo um relatório objetivo que um jogador pode decidir usar ou não. Não somos nós que procuramos convencer ninguém de nada — arremata o CEO.

De acordo com o relato de outras fontes ouvidas pela reportagem, incluindo empresários, essa é uma tendência que veio para ficar e certamente será usada nesta e nas próximas janelas de transferência.

— Os jogadores são mais espertos do que muitos pensam e, com a ajuda das pessoas certas, continuarão a mostrar o seu valor através do uso adicional de dados. O destaque de De Bruyne na mídia fez com que muitos outros jogadores pensassem se estavam se ‘vendendo’ bem o suficiente durante as negociações de contrato e tenho certeza de que veremos mais exemplos disso em 2024 — conclui um agente em anonimato.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.