Era uma tarde ensolarada de mais um final de semana, no qual o objetivo como sempre era jogar muito videogame. Naquela época, o PES dominava o cenário do futebol no Play Station 2, e acompanhado de meu melhor amigo disputamos grandes batalhas para saber quem era o top-1.
Já fazia algumas semanas que ele estava jogando com um tal Merseyside Red, que logo descobri ser o Liverpool. Os Reds não estavam em seu auge em 2010, mas tinha alguns jogadores respeitáveis: Jamie Carragher, Steven Gerrard, o grande goleador Fernando Torres, entre outros.
Já eu variava muito de time e perdia em quase todas. Não conseguia parar as arrancadas do capitão do Liverpool e os golaços do “El Niño”. A rivalidade só aumentava, assim como a disparidade de nível entre meu amigo e eu.
De tanto tomar goleada decidi procurar um time alternativo, que pudesse talvez surpreender com algum jogador superestimado em overall – o que era bastante comum nos jogos de futebol da época. Ao navegar pelos times ingleses, me chamou a atenção um tal de “Merseyside Blue”. Interessante, parecia ser o rival direto do Liverpool. Logo pesquisei na internet e descobri que era o Everton, time da mesma cidade.
Eu nunca tinha ouvido falar do Everton. Na Inglaterra, só conhecia os principais: Manchester United, Liverpool, Arsenal e o Manchester City, que começava a cair nas graças dos brasileiros devido à grana investida e a presença de Robinho.
O time não era forte. É claro, tinha lá suas qualidades. Um goleiro seguro (Howard), um lateral com bons atributos ofensivos (Baines), uma meia com altíssima precisão nos passes em profundidade (Arteta) e um monstro no cabeceio (Tim Cahill). Mas não era um esquadrão e a tendência era tomar mais uma goleada do meu amigo.
Mesmo assim, decidi arriscar. Gostei mesmo do nome genérico confrontando o nome do Liverpool e para ser bem sincero, não faria muita diferença. Eu estava perdendo todas, com qualquer time. Uma derrota a mais não faria diferença.
De repente, algo mágico aconteceu. O Everton surpreendeu e simplesmente passou o trator no Liverpool: 5 a 0. Massacre de Tim Cahill pelo alto e até o atacante nigeriano Victor Anichebe deixou o dele. Uma grande vitória, que eu não conseguia há meses.
É claro que eu segui pegando o Everton, mas os resultados positivos foram embora. O meu amigo logo tratou de normalizar as coisas e voltou a me vencer frequentemente. Para mim, restaram algumas vitórias ocasionais e os empates no finalzinho do jogo que mata qualquer um de raiva. Era o suficiente.
Também foi o suficiente para me interessar pelo Everton. Comecei a pesquisar a história do clube e vi que era um dos maiores da Inglaterra. Passei a acompanhar o time na Premier League e a ver os jogos sempre que era acessível na TV aberta. Eu, torcedor do Everton, e meu amigo, torcedor do Liverpool.
O meu sentimento pelos Toffees começou a crescer e me declarei torcedor do Everton depois de uma temporada acompanhando. Durante este tempo, vi grandes campanhas como em 2013/2014, quando quase beliscamos uma vaga na Champions League, com um Lukaku endiabrado.
A expectativa alta logo foi frustrada com um modesto 11º lugar na temporada seguinte. Roberto Martinez não conseguiu manter o nível e logo foi demitido. Passamos por um período instável, com muitas trocas de treinadores.
E assim seguiu. Grandes arrancadas seguidas de frustração. Esse é o sentimento de todo torcedor do Everton. O sentimento de que sempre podemos mais. Podemos voltar a ser aquele Everton dominante da década de 1980, que ganhou diversos títulos e batia de frente com o Liverpool. O clube é um gigante adormecido e, a cada jogo que assisto, eu tenho a esperança de que voltaremos ao pleno potencial logo em breve.
Independente disso, sigo torcedor do Everton por aqui. Para quem enfrentou o início dos anos 2000, hoje o time é uma potência. Temos muitos jogadores qualificados e um técnico de ponta. Estamos mais pertos de conquistar coisas grandes do que há 10 anos.
E se hoje eu já consegui ganhar títulos com o time no videogame, a esperança agora é que isso aconteça na vida real.