Entenda por que a compra do Everton pela 777 Partners, dona do Vasco, pode ser barrada

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Josh Wander e Steve Pasko, fundadores da 777 Partners, estiveram no Goodison Park para assistir a mais uma derrota do Everton na Premier League 2023/24, contra o Luton Town, no domingo (1º). Junto a eles, estava Don Dransfield, chefe de estratégia da empresa e ex-CSO do Grupo City. A empresa ganhou destaque nas últimas semanas na imprensa inglesa por ter oficializado a compra da maior parte do clube azul de Liverpool.

No dia 15 de setembro, pouco mais de duas semanas atrás, Farhad Moshiri, empresário iraniano que detém a maior parte das ações do Everton, anunciou que havia fechado um acordo de venda da sua participação de 94,1% no clube para a 777 Partners, empresa que tem investido em vários clubes de futebol pelo mundo, incluindo o Vasco da Gama, no Brasil.

Apesar de boa parte da torcida Toffee ter celebrado a venda porque deve desafogar o clube das dívidas, existe a possibilidade de o negócio não ser concretizado. A PL Brasil traz o histórico da situação financeira do clube e explica por que a venda pode dar errado – e qual o destino do Everton se isso acontecer.

Por que o Everton foi colocado à venda?

Farhad Moshiri comprou o Everton em 2016 com um objetivo claro: devolver o clube aos tempos de glória anteriores à era Premier League. E assim como manda a “cartilha” inicial dos milionários que compram os clubes de futebol da Inglaterra – como é o caso do Newcastle, um dos mais recentes -, Moshiri não poupor esforços financeiros para atingir sua meta.

Títulos mais importantes do Everton

CompetiçãoTítulosTemporadas
Campeonato Inglês91890–91, 1914–15, 1927–28, 1931–32, 1938–39, 1962–63, 1969–70, 1984–85, 1986–87
Copa da Inglaterra51905–06, 1932–33, 1965–66, 1983–84, 1994–95
Supercopa da Inglaterra91928, 1932, 1963, 1970, 1984, 1985, 1986*, 1987, 1995

Segundo o site “The AThletic”, de 2016 até a última janela de transferências, o empresário gastou um total de 750 milhões de libras (R$ 4,6 bilhões) em jogadores, técnicos e um novo estádio, que deve substituir o Goodison Park a partir da temporada 2024/25. Porém, tudo isso rendeu apenas uma mísera classificação para as eliminatórias da Europa League, em 2017/18 e nada mais.

Os resultados em campo, no entanto, não foram os grandes motivos para o colapso financeiro dos Toffees. A questão envolve, na verdade, a guerra entre Ucrânia e Rússia, iniciada em 2022. Alisher Usmanov, um dos parceiros de negócios de Moshiri, estava entre os indivíduos que foram sancionados no Reino Unido por envolvimento com a guerra. Algo similar com o que ocorreu com o oligarca russo Roman Abramovich, ex-dono do Chelsea.

Como boa parte da fortuna do dono do Everton estava conectada à Rússia, Moshiri precisou “fechar a torneira”. E foi assim que um clube de meio de tabela passou a brigar contra o rebaixamento duas temporadas seguidas, com dificuldades nas economias para trazer reforços e seguir com a construção do novo estádio.

Por que a 777 Partners foi escolhida como a compradora do Everton?

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O empresário Farhad Moshiri, em uma partida no Goodison Park, em novembro 2017 (Foto: Icon Sport)

Diante desse cenário, Moshiri passou a buscar novos investidores que pudessem salvar as finanças do clube. Os grandes interessados eram a 777 Partners, cuja sede fica em Miami, e a MSP Sports Capital, de Nova York, ambas nos Estados Unidos.

Inicialmente, a MSP foi a escolhida para fechar o negócio. Um acordo de exclusividade foi assinado, com o objetivo de seguir financiando as obras do Everton Stadium e injetar dinheiro em contratações. O plano dos novaiorquinos era investir até 150 milhões de libras (R$ 919 milhões), obtendo uma parcela de 25% das ações ao longo de um ano. Desse valor, 100 milhões seriam destinados apenas à nova casa dos Toffees.

No entanto, o período de exclusividade do acordo acabou e a MSP decidiu tirar o time de campo. A empresa desistiu de seguir com a compra das ações e não irá mais enviar nenhum valor para o clube. É aí que a 777 surge novamente como a possível salvadora do clube de Merseyside.

Além de ter fechado acordo pela compra da maior parte do time, a empresa de Miami já emprestou dezenas de milhões de libras para cobrir um déficit imediato de fluxo de caixa e um “último projeto de lei” para a finalização do estádio, conforme revelado pelo “The Athletic”.

Por que a venda pode não ser concluída?

Apesar de o negócio já ter sido fechado, para a comprar ser oficializada, ainda é necessária a aprovação regulatória da Premier League, da Associação de Futebol da Inglaterra e da Autoridade de Conduta Financeira, órgão que regula as transações no futebol inglês.

Esse processo pode demorar cerca de doze semanas, segundo um comunicado emitido pelo prefeito de Liverpool, Steve Rotheram. O chefe de estado da cidade teve uma reunião com os representantes da 777 na última quinta-feira (28 de setembro) para tratar de assuntos relacionados à construção do estádio, localizado em Bramley-Moore, um antigo cais comercial da região.

O ponto é que, durante essa checagem, a venda do clube pode ser barrada. De acordo com o jornal inglês “Daily Mail”, o governo da Inglaterra está preocupado com reaproximação entre a empresa e o clube. Também não há certeza se a 777 irá passar na sabatina da Premier League para novos proprietários e diretores de equipes da primeira divisão.

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O futuro Everton Stadium está em construção no Bramley-Moore Dock. A previsão de estreia do novo estádio é na temporada 2024/25 (Foto: Icon sport)

O “grande” problema da 777 partners

O jornal relata que, ainda que o Estado não possa interferir no negócio, os governantes estariam prontos para levar suas ressalvas à liga se o acordo for aprovado. Eles informam que os proprietários de outros clubes também estão preocupados.

A grande questão que ronda a 777 é a falta de clareza sobre a fonte financeira da corporação. Uma reportagem publicada no site norueguês “Josimar Football”, em julho deste ano, abalou os bastidores do Vasco por ter questionado de onde vem o dinheiro da 777 e ter trazido informações que mostram que o modelo de negócios dos americanos é inviável financeiramente.

As suspeitas de fraude que rondam a corporação estão relacionadas ao fato de não haver histórico para a movimentação financeira que originou o aporte da empresa. Como informado pela matéria da “Josimar Football”, não é possível ter acesso ao balanço da 777 por ser uma companhia de capital privado, além de a companhia ter processos na justiça por atividades das suas empresas de investimentos alternativos.

Um exemplo é o processo na Justiça movido por Timothy O’Neil-Dunne, que trabalhou na 777 entre 2018 e 2021, e na companhia aérea Flair Airlines anteriormente. Ele acusa a empresa de fraude e quebra de contrato.

Para além disso, a 777 Partners ainda não teve sucesso em nenhum dos clubes em que investiu. Junto com o Vasco, foram comprados o Genoa (Itália), Red Star Paris (França), Hertha Berlin (Alemanha), Standard Liege (Bélgica) e uma parte minoritária do Sevilla (Espanha). No histórico de todos, houve desde flerte com rebaixamento até protestos das torcidas. Ainda assim, é importante frisar que a jornada da 777 no futebol começou apenas dois anos atrás, em 2021.

O que acontece com o Everton se a venda for concluída – e se não for

Caso a venda do Everton passe pelo crivo da Premier League, isso não significa que o clube sai imediatamente do fundo do poço. Isso porque há a possibilidade da sabatina demorar mais de doze semanas, a depender do desempenho da 777 em comprovar sua fonte da renda.

Com esse atraso, não dá para ter certeza se os Toffees já estarão financeiramente hábeis para ir atrás de reforços na próxima janela de transferências, em janeiro.

E o que acontece se a venda para a 777 não for concluída? De acordo com o “The Mirror”, a situação do clube ficará complicada a ponto de precisar vender três importantes jogadores: Jordan Pickford, Onana e Calvert-Lewin.

Independente do destino do Everton nos próximos meses, não há 100% de segurança em nenhuma das opções oferecidas. O que resta aos Toffees no meio desse turbilhão é torcer por dias melhores no meio de mais uma temporada na luta contra o rebaixamento.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.