Por que Andrey Santos deveria ter espaço no Chelsea

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Mudou a temporada, o treinador e o elenco, mas o Chelsea parece o mesmo. Depois de ficar em 12º lugar na Premier League passada, o clube apostou em Mauricio Pochettino e num elenco recheado de promissores (e caros) jogadores, que ainda não deram resultado.

Os Blues estão apenas em 10º lugar na atual tabela do Campeonato Inglês. O cenário ainda piorou com a derrota por 1 a 0 para o Middlesbrough, nesta semana, pelo jogo de ida da semifinal da Copa da Liga Inglesa — uma das poucas, se não a única, possibilidade de título em 2023/24.

O desempenho dá sinais de que algumas apostas na última janela de transferências não foram as mais certeiras. O clube gastou mais de 250 milhões de euros para reforçar o meio-campo com Moises Caicedo (a maior contratação da história da Premier League), Romeo Lavia, Lesley Ugochukwu e Cole Palmer.

Todos jovens e inflacionados, a exemplo do negócio que o Chelsea já havia feito para trazer Enzo Fernandez no meio da última temporada. E nenhum tem conseguido fazer muita diferença.

Seria irresponsável dizer que Todd Boehly deveria gastar ainda mais para “consertar” o meio-campo. Por isso, a intenção aqui é o contrário: defender que a solução pode estar dentro dos vestiários de Stamford Bridge.

Andrey Santos foi uma das promessas contratadas pelo Chelsea mas, ao contrário das anteriores, não recebeu chances com a camisa azul. Fez a pré-temporada com o elenco atual, foi emprestado ao Nottingham Forest, mal jogou por lá e já voltou para Londres.

Tudo indica que os Blues procuram um novo destino para o brasileiro, num elenco onde tenha mais espaço para jogar. Nesta segunda-feira, Andrey Santos disse em entrevista ao “ge” que vai decidir seu futuro após o Pré-Olímpico.

Acontece que a fase de grupos da competição termina no dia 1º de fevereiro, data em que a janela de transferências já se encerrou. Caso decida seu futuro depois da competição de seleções, pode acabar ficando nos Blues.

E por que não ficar no próprio Chelsea? Separamos alguns motivos para defender que Andrey poderia, sim, jogar no time de Pochettino.

Mauricio Pochettino, Moises Caicedo e Enzo Fernandez no Chelsea (Foto: Icon sport)
Mauricio Pochettino, Moises Caicedo e Enzo Fernandez no Chelsea (Foto: Icon sport)

Bom encaixe com Enzo (e com Caicedo)

Baseado nos valores pagos, a ideia do Chelsea era começar a temporada com Caicedo e Enzo Fernandez como os volantes titulares. Mas o desempenho tem mostrado que a dupla sul-americana é mais semelhante do que complementar.

Os dois são primeiros volantes — o camisa 6, como é conhecido na Inglaterra — técnicos, com boa saída de bola e mobilidade. Também são características de Lavia, outro volante promissor da lista.

Mapa de calor de Enzo Fernandez na Premier League 2023/24 (Foto: Wyscout)
Mapa de calor de Enzo Fernandez na Premier League 2023/24 (Foto: Wyscout)
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E o de Moises Caicedo no mesmo período. Jogadores ocupam espaços parecidos (Foto: Wyscout)

A resposta para um meio-campo mais dinâmico pode estar na escalação de um segundo volante “box-to-box”, que tenha um encaixe melhor com Caicedo, Enzo e até Lavia. Esse seria Andrey Santos.

O fato de Andrey se destacar nas seleções de base com a camisa 5 pode ter passado a ideia que o revelado pelo Vasco da Gama é um primeiro volante, o que não é verdade.

O jovem é um autêntico camisa 8, que aparece muito bem no ataque, joga de cabeça erguida, rápido, bom no jogo aéreo e preciso nos desarmes. Sua inteligência para ler espaços é destacada por treinadores.

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Enquanto isso, Andrey Santos pelo Vasco, na Série B: um jogador mais dinâmico e presente no ataque (Foto: Wyscout)

No Sul-Americano sub-20 em que se destacou no time de Ramon Menezes, no início de 2023 — e que terminou com a sua venda concretizada ao Chelsea –, Andrey começou atuando como primeiro volante, atuando atrás de Marlon Gomes, Luis Guilherme, Guilherme Biro e Giovane.

Mas Ramon encaixou o time a partir do momento que trouxe Aleksander, cria do Fluminense, para a posição mais defensiva do meio-campo, e adiantou Santos. Foi assim que o capitão começou a pisar mais na área, fez seis gols em oito jogos e foi o grande destaque do título da Seleção.

Até no Vasco, onde fez uma boa Série B em 2022, Andrey se destacou como segundo meio-campista, ao lado de Yuri Lara — esse sim, um volante mais defensivo e marcador.

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O posicionamento “box-to-box” de Andrey na vitória por 2 a 0 contra o Uruguai, último jogo do Sul-Americano sub-20, no qual ele inclusive fez um gol (Foto: Wyscout)

Andrey Santos seria alternativa a Gallagher

Com Caicedo e Fernandez desempenhando papéis parecidos, Pochettino tem escalado Conor Gallagher no meio-campo — o inglês tem sido o elo de ligação entre o primeiro volante e o meia mais avançado, vaga que é frequentemente preenchida por Cole Palmer (que, por sua vez, também já jogou de ponta e de falso 9).

Mas Gallagher, apesar de ter moral em Stamford Bridge — é o vice-capitão do time –, está longe de ser uma unanimidade. Recentemente, o portal inglês “talkSPORT” fez uma matéria usando o fato de o meia ser “intocável” no time titular de Pochettino como um símbolo da queda do Chelsea nos últimos anos.

O inglês também é o jogador da Premier League com mais chutes certos sem conseguir marcar um gol (9) e o que mais cometeu faltas na liga (47) — o dados são do “WhoScored”.

Depois da derrota para o Boro, um torcedor questionou nas redes sociais “como Conor Gallagher se tornou um jogador profissional de futebol”.

Será que Andrey Santos não faria melhor?

Fez boa pré-temporada no Chelsea

E, no fim das contas, não é como se Andrey Santos nunca tivesse sido testado no Chelsea de Pochettino. Contratado em janeiro, ele passou um semestre emprestado ao Vasco e chegou para jogar em Londres em julho, após o Mundial sub-20, na pré-temporada que o clube fez nos Estados Unidos.

O brasileiro não só participou, como foi bem. Andrey começou como titular por mais de uma vez e, mesmo numa realidade onde o Chelsea ainda não tinha contratado Lavia e Caicedo, despontou com chances de assumir certo protagonismo na posição.

Os minutos em que esteve em campo lhe renderam uma boa análise do site “The Athletic”, que colocou Andrey ao lado de Gallagher e Chukwuemeka (dois jogadores que acumulam minutos no Chelsea) como jogadores que “podem ter papéis relevantes no time principal quando o futebol de verdade começar”.

— O desejo de Pochettino de poupar Enzo Fernandez na pré-temporada (o argentino não teve descanso no último ano e meio) deu a Andrey Santos ainda mais minutos que o planejado, e ele viveu um bom momento. Andrey move a bola com precisão e inteligência, influenciando na estabilidade na posse de bola e oferecendo progressão com ela — escreveu Liam Twomey, setorista do Chelsea no “The Athletic”, na época.

Andrey Santos no Nottingham Forest (Foto: Icon Sport)

De volta após a passagem apagada pelo Forest, Andrey só pode ser emprestado para um time inglês — o Chelsea já chegou ao limite de emprestados para clubes de fora do país.

Ou seja, as opções para o volante fora de Stamford Bridge ficam entre jogar a Championship ou buscar a adaptação em outra equipe com aspirações menores e um estilo diferente do de Pochettino.

Dentro desse contexto, por que não utilizar Andrey Santos no time principal dos Blues? Na pior das hipóteses, o brasileiro ganha um tempo de adaptação. Na melhor, o Chelsea pode resolver seu meio-campo — e salvar a temporada.

Diogo Magri
Diogo Magri

Jornalista nascido em Campinas, morador de São Paulo e formado pela ECA-USP. Subcoordenador da PL Brasil desde 2023. Cobri Copa América, Copa do Mundo e Olimpíadas no EL PAÍS, eleições nacionais na Revista Veja e fui editor de conteúdo nas redes sociais do Futebol Globo CBN.

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