Enquanto Jordan Pickford, do Everton, defendia a seleção inglesa em Wembley contra o Brasil, seu sobrenome era gritado no interior de Minas Gerais em um campeonato de futebol amador. Aos 20 anos, Gabriel Assis da Cunha também é goleiro e, na várzea da região central de Minas Gerais, leva como ídolo e alcunha o camisa 1 do Toffees e da seleção inglesa.
Por ironia do destino, Gabriel Pickford — como é chamado nos campos de Piranga-MG, sua cidade natal a 170 km de Belo Horizonte — entrou em campo no mesmo momento que sua grande inspiração tentava parar o ataque brasileiro de Vinicius Junior, Rodrygo e Endrick.
O desafio foi bem diferente. Gabriel atuou pelo Nacional Esporte Clube, time da cidade, que estreou na Supercopa dos Inconfidentes, um dos principais do torneios de futebol amador do interior mineiro.
O jovem havia trocado há poucos dias o Piranga Esporte pelo maior rival e de imediato precisou ser o titular da equipe.
De início, pode parecer uma história confusa, mas aos poucos é possível entender que é mais uma das tramas que reforça aquele velho clichê: o futebol vai muito além das quatro linhas.

Jordan Pickford é o ídolo de Gabriel. Por quê?
“Todo mundo quando é pequeno, quer ser uma pessoa…”
Quando a maioria de sua geração escolheu grandes e consagrados nomes como Neuer, Courtois, Alisson e Ederson para o gol, Gabriel surpreende com a admiração por Jordan Pickford. O goleiro foi titular da Inglaterra nas últimas duas Copas do Mundo e ajudou o Everton a evitar o rebaixamento nas últimas temporadas da Premier League.
— Todo mundo quando é pequeno, quer ser uma pessoa. Se você está driblando muito, você é o Neymar, o Messi, o Cristiano Ronaldo. Por eu ser goleiro, quando eu vi o jogo dele, eu falei: “quero ser igual a esse cara”. Comecei a brincar e quando eu defendia, gritava “PICKFOOORD!” Acabou ficando, o pessoal costuma me chamar assim.

Gabriel Pickford não esquece o exato momento em que sua admiração pelo inglês nasceu. Foi em 1º de maio de 2022, quando o Everton venceu o Chelsea por 1 a 0 pela Premier League. O gol foi de Richarlison, mas o herói do jovem mineiro naquele dia foi o camisa 1 dos Toffees.
— A partir de uma defesa que ele fez, que eu nunca vi ninguém fazendo. Ele entrou dentro do gol, deixou as duas mãos na linha, e defendeu. Depois disso eu falei: “esse cara jogando em um time pequeno, faz a diferença. Eu vou fazer igual esse cara.
PIIIIIIIIIIICKFOOOOOOOORD!!!! QUE SEQUÊNCIA FOI ESSA?!?! O goleiro do Everton salvou duas vezes de forma ESPETACULAR! #PremierLeagueNaESPN #ad @sportingbet_tv pic.twitter.com/F27wuR6Srf
— ESPN Brasil (@ESPNBrasil) May 1, 2022
Gabriel carrega Pickford do uniforme às redes sociais
A admiração é tanta que Gabriel carrega o nome do ídolo em seu perfil no Instagram: @gabriel.pickford. Segundo ele, isso é uma ferramenta para cada vez mais se inspirar no inglês.
–Eu quero tentar ser igual ao cara. Admiração demais por ele.
E o jovem não fica em cima do muro. No amistoso entre Inglaterra e Brasil, sua torcida era clara para Jordan Pickford. Ao sair da partida do Nacional Esporte Clube, Gabriel descobriu o resultado e não conseguiu esconder a decepção com a derrota inglesa por 1 a 0.
— 1 a 0 para o Brasil? Então infelizmente ele tomou… mas é Brasil, pelo menos. Torci para Pickford, sem dúvida! É o homem, não tem jeito.
As distâncias geográficas e de realidades não impedem Gabriel de seguir os passos do ídolo. Ele contou que assiste a todos os jogos do Everton que consegue apenas para ver Pickford jogar. Nos últimos anos, não tem sido tarefa fácil acompanhar o lado azul de Liverpool, mas o goleiro é um dos poucos que se salva.
–Vejo todos os jogos que eu posso. Comecei a assinar os serviços de TV, vejo em inglês, vejo narrador português… Só para ver ele, cara. É uma inspiração, mesmo.
Diferentemente de Pickford contra o Brasil, Gabriel não saiu derrotado em sua partida no sábado (23). O Nacional empatou em 2 a 2 com o Primeiro de Maio, de Ponte Nova, uma cidade vizinha, e segue firme em sua luta pelo título regional. Mesmo sendo jovem, o mineiro demonstra muita maturidade e tem claro em sua mente o objetivo de crescer cada vez mais no esporte amador da região.
Gabriel é o “Pickford da várzea” e trabalha como auxiliar de produção em um frigorífico durante a semana. No interior de Minas Gerais, poucos vão entender o significado daquele nome estrangeiro que ele carrega às costas. Mas o jovem sabe o peso e o sentido pessoal que gira em torno disso. E apenas isso importa.