Peter Schmeichel, o gigante dinamarquês que virou lenda debaixo das traves

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Peter Schmeichel foi eleito pela PL Brasil o maior goleiro da história da Premier League. O arqueiro dinamarquês venceu cinco títulos do Campeonato Inglês defendendo o Manchester United de 1991 a 1999.

Quem foi Peter Schmeichel, o gigante dinamarquês que virou lenda?

Sua melhor temporada foi, sem dúvidas, a de 1998/1999 – sua última no clube, por sinal. O camisa 1 conquistou o treble (tríplice coroa), levantando a Premier League, a Copa da Inglaterra e a Champions League.

O Grande Dinamarquês (ou The Great Dane) era conhecido por suas defesas monumentais. Era seguro na saída do gol e possuía ótimo aproveitamento em duelos um contra um. Além disso, destacava-se por sua inquestionável liderança tanto no clube quanto na seleção.

(AFP)

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Ainda por cima, marcou gols decisivos, aparecendo na área nos momentos finais de jogos quando o time precisava. Em toda sua carreira, anotou 11 gols dessa forma.

Seu tamanho (1,91m e aproximadamente 100 kg) era um fator intimidante para os atacantes que tentavam vencê-lo. Tinha o comando completo da grande área, fosse defendendo os chutes ou organizando sua defesa.

Como se não bastasse, Schmeichel tinha certa habilidade com a bola nos pés e conseguia armar contra-ataques eficientes a partir de lançamentos ou reposições de bola perfeitos.

Todo seu talento foi reconhecido em vários momentos. Primeiro, o IFFHS (Federação Internacional da História e Estatística do Futebol) o elegeu Melhor Goleiro do Mundo em 1992 e 1993. Em seguida, acabou no top 10 entre os melhores goleiros do século 20.

Em votação popular com mais de 200 mil participantes feita pela Reuters em 2001, ficou à frente de nomes como Gordon Banks e Lev Yashin. Dois anos depois, atingiu o Hall da Fama do Futebol Inglês por suas contribuições em campo. E em 2004 foi nomeado um dos 125 maiores futebolistas vivos pela FIFA.

Origens de Peter Schmeichel

Peter Boleslaw Schmeichel, nascido em 1963 na cidade de Gladsaxe, na Dinamarca, é filho de uma enfermeira dinamarquesa e um músico de jazz polonês. Seu nome do meio foi herdado em homenagem a seu bisavô.

Começou jogando no time da cidade e foi por lá que conheceu seu primeiro mentor e futuro sogro, Svend Aage Hansen. Peter foi lançado após a confirmação do rebaixamento do time à terceira divisão, mas mesmo assim ganhou destaque no jornal local na primeira partida.

Antes de se tornar atleta profissional, Schmeichel teve empregos “comuns”. Primeiramente, trabalhou numa fábrica de tecidos e limpou casa de idosos. Em seguida, foi gerente de vendas de um escritório do WWF.

Logo depois, serviu o exército dinamarquês, mas teve que abandonar o serviço militar por conta de um camping de treinamento de seu novo clube, o Hvidovre.

Após completar suas obrigações militares, ainda foi trabalhar com seu sogro numa firma de pisos onde teve problemas no joelho e logo parou. Chegou a receber uma oferta do presidente do Hvidovre para trabalhar com propaganda, mas ao mesmo tempo, o Brondby quis contratá-lo.

Anos vitoriosos no Brondby

Peter chegou ao clube na temporada 1987-1988 e venceu o Campeonato Dinamarquês de imediato. Ajudou o clube a se tornar um sucesso no país e, como resultado, foi convocado para a seleção nacional por Sepp Piontek.

Nas cinco temporadas que ficou por lá, venceu quatro vezes o torneio nacional e fez parte do grupo de jogadores que disputou a Eurocopa de 1988. Certamente, o auge de sua carreira no Brondby foi na Copa da Uefa de 1991.

Naquele torneio, o clube alcançou as semifinais com Peter Schmeichel completando 7 clean sheets (jogos sem levar gols). Apesar de tudo, a campanha impressionante acabou com um gol no último minuto marcado por Rudi Völler em confronto contra a Roma.

Após a competição, Peter foi eleito o 10º melhor goleiro do mundo em votação do IFFHS daquele mesmo ano. Tais atuações e honrarias não passariam despercebidas pelos grandes do futebol europeu.

Schmeichel no Manchester United: o negócio do século

Em 1991, o Manchester United contrataria o goleiro pouco conhecido fora da Dinamarca por apenas 505 mil libras. Por conta dos títulos conquistados com Peter na meta Red Devil, Sir Alex Ferguson consideraria o negócio como “a barganha do século”.

Entretanto, o momento do United quando Schmeichel chegou não era dos melhores. O clube vivia uma seca de títulos ingleses desde 1967. Ferguson se mantinha no cargo graças a um título de Copa da Inglaterra em 1990.

O título da liga nacional não veio nos primeiros 12 meses de clube. Enquanto isso, conquistou a Copa da Liga Inglesa (atualmente Carabao Cup) pela primeira vez na história dos Diabos Vermelhos.

Foi quando a Division One se tornou Premier League em 1992 que o Manchester acabou com a fila de 26 anos e levantou a taça nacional. Naquela campanha, Peter Schmeichel garantiu incríveis 22 clean sheets e a melhor defesa da competição.

Contudo, na temporada seguinte, o Grande Dinamarquês discutiu com Ferguson após o United ceder um empate ao Liverpool após estar vencendo por 3 a 0. Como conseqüência, o goleiro acabou sacado do time até se desculpar com seus colegas e comissão técnica.

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O título da Premier League se repetiu e, além disso, conquistou também a FA Cup na temporada da morte de Sir Matt Busby (1993-94).

Em 1995, nenhum título nacional foi alcançado, mesmo assim, Peter Schmeichel foi essencial para o time mais uma vez terminar com a melhor defesa do campeonato. Foram apenas 28 gols sofridos em 42 jogos.

O Double (conquistar a Liga e a Copa nacional) voltou a acontecer na temporada 1995-96, mas Peter teve problemas extracampo. Ian Wright acusou o arqueiro nórdico de racismo após partida entre United e Arsenal em novembro de 1996.

Os dois tinham se estranhado em campo e saíram discutindo no final da partida. Até um inquérito policial tinha sido aberto para apurar o caso. Depois de meses de investigação, o caso foi abandonado por falta de evidências.

O clímax na final contra o Bayern de Munique

Schmeichel estava preparado para fazer sua última partida pelo United após nove anos e 14 títulos conquistados. Liga e copa já tinham sido conquistadas naquela temporada, só que o melhor estava guardado para o final.

A cereja do bolo viria com a Champions League, campeonato em que o clube não chegava à final desde a conquista do título em 1968. Contudo, Roy Keane, o capitão do time, não pôde jogar por suspensão, e foi o camisa 1 seu substituto como líder e levantador da taça.

Durante a fase de grupos, Bayern e Manchester United dividiram o mesmo grupo e passaram em primeiro e segundo, respectivamente. Os outros integrantes do grupo da morte eram o Barcelona e o Brondby, ex-time de Schmeichel.

Os Red Devils eliminaram os italianos da Internazionale nas quartas e Juventus nas semis, enquanto o Bayern eliminou o conterrâneo Kaiserslautern e o Dynamo de Kiev, de Andriy Shevchenko.

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Naquela partida no Camp Nou, uma das mais épicas da história da competição, o arqueiro levou um gol de falta de Mario Basler logo aos 6 minutos de jogo. Depois, viu seu time dominar, mas sem marcar e acabou sofrendo com contra-ataques.

Novos gols não saíram até os 45 do segundo tempo. Então Peter Schmeichel, como de costume, foi à área adversária para tentar um milagre. David Beckham tentou encontrá-lo entre a defesa bávara, só que sem sucesso.

A sequência do lance, terminada com o relógio marcando 90:26, foi o gol de empate de Teddy Sheringham, que entrou durante a segunda etapa. Em novo escanteio, aos 92 minutos, Ole Gunnar Solskjaer virou o placar e a história a favor do Manchester.

Assim, Schmeichel levantou a taça de campeão europeu pela primeira vez em frente a 90 mil torcedores na Catalunha. Se despediu do clube com 15 títulos em 398 partidas e um gol marcado.

Portugal, retorno à Inglaterra e fim de carreira

Aos 36 anos, Peter Schmeichel procurou um futebol com uma velocidade menor. Escolheu, então, jogar a Primeira Liga em Portugal pelo Sporting. Assinou um contrato de dois anos com o clube verde e branco no segundo semestre de 1999.

Mais uma vez chegava a um clube com seca de títulos. O Sporting não vencia o Campeonato Português há 18 anos. Na primeira temporada do dinamarquês, título nacional conquistado.

A segunda temporada ficou marcada para Peter como a primeira em que ficou abaixo do segundo lugar. Desde o Hvidovre, os times por onde passou jamais ficaram “tão baixo” na tabela.

Voltou a Inglaterra em 2001 e disputou uma temporada pelo Aston Villa. Foi pelos Villans que marcou seu primeiro gol na Premier League. Com isso, se tornou o primeiro goleiro a marcar no campeonato.

Por fim, sua última temporada no futebol foi no clube rival de Manchester. Após uma transferência sem custos, Schmeichel disputou a Premier League de 2002-2003 pelo City. Aposentou-se invicto no dérbi de Manchester em abril de 2003.

A “Dinamáquina” de 1992

Classificada após o banimento da Iugoslávia, a Dinamarca chegava a Eurocopa com uma campanha de altos e baixos nas eliminatórias. O sorteio colocou o país nórdico ao lado de Suécia, Inglaterra e França.

Peter Schmeichel foi figura importante para segurar o 0 a 0 contra a Inglaterra no primeiro jogo. Mesmo com a derrota para a Suécia na segunda rodada, a equipe se classificou depois de vencer a França por 2 a 1.

Pelo regulamento da época, os dois primeiros de cada grupo já se classificavam para a semifinal. A Holanda foi o adversário dos dinamarqueses, enquanto Alemanha e Suécia se enfrentavam do outro lado da chave.

Henrik Larsen abriu o placar, mas Dennis Bergkamp empatou 18 minutos depois. O mesmo Larsen voltaria a dar a vantagem a Dinamarca ainda no primeiro tempo. Só que, aos 41 do segundo tempo, Frank Rijkaard levou o jogo para a prorrogação.

Sem gol, as seleções decidiriam a vaga nos pênaltis. Momento de Peter Schmeichel brilhar. O goleiro defendeu a cobrança de ninguém menos que Marco Van Basten e levou a “Dinamáquina” à final.

Final em Gotemburgo

Na decisão, o adversário foi a atual campeã mundial Alemanha. Acima de tudo, a vitória naquele dia foi uma zebra histórica. E claro, Peter teve muita importância para aquele título.

Primeiramente, salvou o país ao defender chute de Stefan Reuter cara a cara. Em seguida, viu John Jensen abrir o placar a seu favor aos 18 minutos. Jensen poderia ter marcado novamente de voleio, mas o goleiro germânico impediu.

No segundo tempo, a Alemanha não criava muito. Entretanto, a melhor chance apareceu para os campeões mundiais. Jürgen Klinsmann, na reta final, finalizou e, graças à grande defesa de Schmeichel, a bola foi no travessão.

A vitória e o título foram selados com o gol de Kim Vilfort após 78 minutos de partida. Então, depois de estrear em Copas do Mundo em 1986, a Dinamarca era campeã europeia.

Pela seleção, Schmeichel foi o atleta mais vezes convocado (129 jogos). Sua última aparição foi em amistoso contra a Eslovênia, em 2001, no estádio do Copenhagen.

Pai e filho goleiros: Peter e Kasper Schmeichel

Peter Schmeichel pode se orgulhar da sua família. O futebol segue correndo nas veias do seu filho. Peter e Kasper Schmeichel ainda dividem a mesma posição.

Kasper é um dos principais goleiros do futebol inglês nos últimos anos. Assim como seu pai, Kasper foi campeão inglês, mas defendendo o Leicester City.

Guilherme Rodelli
Guilherme Rodelli

Jornalista da Rádio Futebol Online, formado em Marketing, pós-graduado em Jornalismo Esportivo e apaixonado pela Premier League.