Destaque do Flamengo e convocado para disputar a última edição da Copa do Mundo com a seleção brasileira, o atacante Pedro voltou a ter seu nome especulado na Premier League. Agora, ele pode substituir Harry Kane no Tottenham.
Os Spurs consideram investir no camisa 9 do Rubro-Negro caso o seu capitão deixe o clube, de acordo com o jornal inglês “Independent”. Ele já foi alvo do Manchester United e tem conversas há algumas semanas com o Bayern de Munique.
Mas, afinal, o brasileiro seria um bom substituto ao atacante inglês? O porte físico pode lembrar, mas estatísticas e contextos dos modelos de jogo em que cada um está inserido podem dizer o veredito.
Pedro se parece com Kane?
Fisicamente, são protótipos parecidos. Os dois são altos – Kane tem 1,88m, enquanto Pedro tem 1,86 – e o inglês é ligeiramente mais forte, o que também será ilustrado em estatísticas logo menos.
No entanto, as semelhanças podem ser traçadas para além do físico. No último ano civil, os dois disputaram quantidades semelhantes de jogos: 60 para o inglês, 58 para o brasileiro, e têm alguns números bem parecidos, segundo a plataforma de dados “Wyscout”.
Pedro x Kane – de julho de 2022 a julho de 2023
Gols: 41 – 40
Gols esperados (xG): 28,6 – 33,4
Gols sem ser de pênalti: 38 – 29
Assistências: 6 – 7
Finalizações por 90 minutos: 2,65 – 2,78
Toques na área por 90 minutos: 4.04 – 3,03
Pedro é superior a Kane?
Além das estatísticas parecidas, o atacante do Flamengo tem até números superiores aos do capitão do Tottenham. Os de gols esperados (xG) e gols sem ser de pênalti, por exemplo, saltam os olhos. Pedro marcou um gol a mais, mesmo que o esperado fosse ter feito praticamente 12 a menos.
Sua média de gols por 90 minutos também é superior (0,8 contra 0,63) e também acerta finalizações com maior assertividade (55,5% contra 43,9%). O brasileiro, inclusive, tem melhor aproveitamento nos gols marcados: 30,3% contra 23,1%.
Não é bem assim…
São jogadores com algumas similaridades, é verdade — mas Kane e Pedro não estão no mesmo perfil de jogador. O atacante dos Spurs é muito mais móvel do que o brasileiro, joga em regiões mais baixas do campo e é mais articulador.
O mapa de calor do jogador do Tottenham na última temporada da Premier League, acima, ilustra como percorre mais regiões do campo e vai muito além de um centroavante de área — algo que ocorre há anos.
Pedro, por outro lado, é mais “estático”, como mostrado no mapa de calor do brasileiro no atual Brasileirão. Isso ocorre pelas características, qualidades individuais e modelos de jogo de cada equipe, que exigem funções diferentes de cada um.
Por isso, algumas estatísticas são desleais na comparação, uma vez que Kane é muito superior. Principalmente quando tratamos de números relacionados a passes e envolvimento no jogo.
Pedro x Kane – de julho de 2022 a julho de 2023
Passes por 90 minutos: 14 – 20,7
Passes para frente por 90 minutos: 3,29 – 6,61
Passes para o terço final por 90 minutos: 1,37 – 4,04
Passes progressivos por 90 minutos: 1,59 – 3,6
Ações atacantes com sucesso por 90 minutos: 2,51 – 3,65
Duelos ofensivos ganhos: 21,7% – 38%
Dribles por 90 minutos: 2,45 – 3,42
Dribles com sucesso: 34,4% – 51%
Contexto é crucial
Apesar de algumas semelhanças, o contexto deve ser levado em consideração. Pedro fez um gol a mais do que Kane em dois jogos a menos, mas o nível de competitividade do camisa 10 dos Spurs é inegavelmente superior, por exemplo.
Desde que estreou no Campeonato Brasileiro, em 2016, Pedro só fez uma temporada da competição com mais de 15 titularidades uma vez, em 2018. Na ocasião, ainda pelo Fluminense, quando foi absoluto nas 19 rodadas que jogou. No mesmo período, Kane só foi titular menos de 29 vezes em uma ocasião, em 2018/19 (foram 27 jogos).
Kane jogou grande parte do seu auge com Mauricio Pochettino, um técnico que marcava em pressão alta e com futebol ofensivo e de alta intensidade, principalmente nos primeiros anos. Passou por modelos mais conservadores, como José Mourinho e Nuno Espírito Santo. Foi aí que aflorou ainda mais seus dotes de armador, também levando em conta a queda de nível do elenco ao seu redor e o aumento de suas responsabilidades.
Pedro nunca foi um jogador com tanta responsabilidade quanto Kane. É quatro anos mais jovem, o que explica parte dessa condição, mas também é um jogador diferente. No último Brasileirão, por exemplo, participou de 14 gols com média de apenas 15,8 toques na bola por jogo, segundo dados da plataforma “Sofascore”. Muito menos exigido com a bola em fases de construção.
Nem mesmo quando foi treinado por Fernando Diniz, nos oito primeiros meses de 2019, ele foi tão envolvido. Seu ano mais participativo foi em 2018, quando o Fluminense, curiosamente, foi treinado por Abel Braga e Marcelo Oliveira — naquele Brasileirão, teve média de 32,9 toques na bola.