Paulo Roca, o olhar que enxergou Estevão, Luis Guilherme e Rodrigo Muniz quando ainda eram crianças

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Ser um dos primeiros a identificar os talentos de Rodrigo Muniz, Estevão Willian, Endrick e Luis Guilherme é para poucos. Mas essa honraria está na estante de troféus da vida de Paulo Roca, consagrado empresário de futebol e dono de um dos olhares mais certeiros do futebol.

Muniz já brilha na Premier League, o que pode acontecer em breve com os jovens Estevão, no Chelsea, e Luis Guilherme, no West Ham. Roca viu esses jogadores darem os primeiros passos no mundo da bola e teve papel importantes em suas trajetórias.

Em entrevista exclusiva à PL Brasil, o agente conta sua trajetória, relembra como conheceu os jovens astros e elenca suas principais qualidades. Da pequena Guaíra, no interior de São Paulo, para os principais palcos do futebol mundial.

Como tudo começou para Paulo Roca, em Guaíra, a 433km de São Paulo

O primeiro caso de sucesso da carreira de Paulo Roca foi Alex Sandro, lateral-esquerdo que defendeu a seleção brasileira e a Juventus por anos. Em um teste em Catanduva-SP, ele enxergou um jovem já cansado, que não passava em testes, mas que tinha uma qualidade visível.

Era Alex Sandro, jogando como camisa 10. Roca interviu e indicou que o jogador passasse a jogar como lateral-esquerdo. Daí em diante, a vida do adolescente de 15 anos mudou e, depois de treinos na escolinha de Paulo Roca em Guaíra, um amistoso certeiro contra o Athletico-PR foi a mudança de chave. Ele agradou e ficou de vez no Furacão.

–Em primeiro lugar, sempre é a parte técnica. Mas eu digo que há 15 anos, quando descobri o Alex Sandro, a questão física ainda não estava tão inserida como hoje. Existia à época um privilégio à técnica. Hoje, é necessário equilibrar as duas partes.

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Alex Sandro antes de jogo da Juventus (Foto: Icon Sport)

Esse foi apenas um dos craques encontrados por Paulo Roca em sua carreira. O agente “descobriu” Endrick aos 10 anos e o levou para o Palmeiras. Levou também Estevão Willian ao Verdão, com a mesma idade, e viu os primeiros passos de Luis Guilherme, que gerou um grande interesse da sua agência. Perguntado sobre qual das três promessas reveladas pelo Palmeiras seria a melhor, a resposta do empresário é curiosa e criativa.

“Se eu sou o Florentino Pérez, eu compro os três e não olho para trás. Os três são fantásticos.”

A seleção brasileira pode ficar otimista no que depender da projeção de Paulo Roca. O observador crê que o trio pode conduzir o Brasil ao próximo título mundial.

–São três fenômenos que bem trabalhados, farão do Brasil novamente campeão do mundo… Lembra do nosso trio em 2002? Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho. Se Deus quiser, esses três serão o trio que vão nos dar o próximo título mundial, ainda muito jovem.

Luis Guilherme Endrick Estevão Willian
Luis Guilherme, Endrick e Estevão Willian no Palmeiras (Foto: Cesar Greco/SEP)

Endrick já está no Real Madrid. Mas Estevão e Luis Guilherme devem brilhar na Premier League nos próximos anos, assim como fez Rodrigo Muniz na atual temporada.

Rodrigo Muniz, o artilheiro que quase abriu mão da Premier League

Muniz terminou a última temporada com 10 gols pelo Fulham e foi um dos melhores brasileiros da Premier League. Depois de três anos, o atacante finalmente correspondeu pelo time londrino. Persistente e muito focado, o jovem de São Domingo do Prata (MG) colheu o que plantou, segundo Roca.

— Ele está no lugar que ele merece. Ele tem o sucesso que ele fez por merecer. É extremamente dedicado. Montou todo um aparato dentro de casa. Tem um personal trainer, cuida da alimentação. Ele é muito focado. Trabalhou para isso, teve paciência.

Os dois se conheceram quando Rodrigo Muniz tinha 16 anos e jogava no Desportivo Brasil. Ele era um dos principais centroavantes do Brasil de sua faixa etária e encantou Paulo Roca.

Eu monitorei ele em 2016, quando ele tinha 15 anos, jogando pelo Desportivo Brasil. Foi um ano em que os principais atacantes de base eram ele, o Yuri Alberto, no Santos, o Paulinho, no São Paulo, o Vinícius Popó, no Cruzeiro, e o Marcos Paulo, no Fluminense. Porém, o perfil físico do Muniz me chamava muita atenção. Apesar de um pouco desajeitado, um pouco mole ainda, mas a presença de área dele era surreal.

Rodrigo Muniz era agenciado por outra empresa à época. O tempo passou e eles foram se reencontrar quando o atacante havia se transferido para o Flamengo. O grupo de Paulo Roca passou a finalmente agenciar o atacante e foi fundamental para ele tomar as melhores decisões para o futuro.

Se dependesse do jogador, seu destino seria Dubai, para jogar no Al-Nassr, antes mesmo do Fulham aparecer em sua vida. Foi necessário um trabalho grande para demovê-lo da ideia.

— Em 2021, começa uma enxurrada de propostas. Boas, ruins. O próprio mercado ataca nesse momento. Lembro que recebemos uma proposta que financeiramente para ele, era fantástica, do Al-Nassr. Falamos que ele não era jogador para isso nesse momento, apesar da proposta ser muito boa e ele querer muito, por ser um dinheiro significativo.

Nesse bolo de propostas, Muniz quase parou em outras ligas do futebol europeu. Ele recebeu ofertas de Atlético de Madrid, Almería e Club Brugge. Ninguém menos que Ronaldo Fenômeno gostaria de levá-lo ao Real Valladolid através de uma parceria com um gigante de Milão, mas as tratativas não andaram.

— A gente começou a trabalhar Europa para ele. O Ronaldo queria que o Rodrigo fosse comprado pela Inter de Milão ou Milan, um dos dois, e fosse emprestado para o Valladolid. O Ronaldo gostava muito dele. O meu sócio foi contatado pela equipe do Ronaldo, para que esse negócio acontecesse.

Não foi fácil, mas Paulo Roca finalmente convenceu Muniz a se mudar para Londres. O Fulham pagou 8 milhões de euros pelo jogador (cerca de R$ 50 milhões na cotação da época) ao Flamengo em 2021 pelo atleta. Bom para os Cottagers e bom para o próprio Rodrigo, que hoje brilha entre os maiores.

–Nesse momento, surgem Fulham e Middlesbrough. Nós começamos a analisar o que era melhor para ele. Ainda tivemos uma resistência grande dele, que ainda queria ir para Dubai. Fico com ele de maio até meados de agosto, 70 dias no Rio, trabalhando isso com ele diariamente (…) Falei que ele tinha todo perfil para jogar Premier League, Championship. Até que conseguimos costurar o negócio com o Fulham.

Muniz foi para o Fulham e teve dificuldades no primeiro ano, pois Mitrovic vivia um ano brilhante. Incomodado com a falta de espaço, foi emprestado ao Middlesbrough, que tentou sua contração anteriormente. Em 2023/24, finalmente conseguiu seu lugar ao sol no futebol inglês.

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Rodrigo Muniz pelo Fulham (Foto: Icon Sport)

Luis Guilherme: talento puro para o West Ham

Na esteira dos talentos brasileiros na Premier League, Luis Guilherme é a bola da vez. O jovem nem sequer demonstrou todo seu futebol pelo Palmeiras e já se tornou um investimento que pode chegar 30 milhões de euros (R$ 175 milhões) pelo West Ham.

Paulo Roca garante: seu talento é fora da curva. O brasileiro de 18 anos tem características raras no futebol atual e pode se tornar um gigante do futebol inglês se for bem lapidado.

A categoria do Luis Guilherme é um pouco mais semelhante ao Estevão. São jogadores com dribles refinados

Seu primeiro contato com o jovem craque dos Hammers foi em 2017. Luis Guilherme ainda era uma criança de 10 anos e que só sonhava em ser jogador. Roca se encantou de prontidão com o futebol do meia-atacante.

— Quando vou no primeiro jogo que vi Luis Guilherme jogando, ele estava no banco. Ele entrou no segundo tempo e eu já me encantei de imediato. Ele era recém-chegado, isso era março de 2017. Ele era de uma escolinha de Sergipe, que o dono do projeto se chama Marcelo.

O contato foi curto, mas suficiente para Luis Guilherme mostrar o enorme potencial que tinha. O torcedor do West Ham pode esperar um jogador talentoso, de bola no pé, muita qualidade técnica e um estilo de jogo que hipnotiza.

–Luis Guilherme é um cara que dribla muito fácil no espaço curto, tem uma arrancada muito boa. Dribla para fora, dribla para dentro. Bate bem de fora da área. Vejo ele como um jogador mais de lado, mas ainda pode jogar como um 10

“Eu vi 15, 20 minutos, mas vi que tinha muito potencial”

Luis Guilherme Palmeiras west ham contratado
Luis Guilherme pelo West Ham (Foto: Reprodução/West Ham)

Com Estevão Willian, Chelsea garante uma promessa geracional

Estevão foi o último brasileiro a fechar com um time inglês. Ele foi anunciado pelo Chelsea no sábado (22), mas só chegará em meados de 2025. De todos, talvez seja a maior promessa. O jovem de 17 anos tem jogado muito no futebol brasileiro e foi fisgado pelos Blues por um pacote que pode chegar a 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões).

Paulo Roca o encontrou ainda mais jovem, aos 7 anos. O empresário confessa que a pouca idade o afastou em um primeiro momento, mas dois anos depois, foi impossível não se render ao prodígio.

–Eu fui o primeiro a levar o Estevão para o Palmeiras. O Estevão foi a primeira vez na minha escola de futebol (em Guaíra), ele tinha 7, 8 anos. O meu sócio me liga e diz “olha, surgiu um menino aqui que você tem que pegar para trabalhar, é um absurdo o que ele joga, um absurdo o potencial dele”. Eu falei que ele era muito novo, precisaria de 10 a 12 anos de trabalho com ele para dar certo, e não fui atrás.

Estevão Willian recebeu holofotes pelo Cruzeiro, em 2019, durante uma reportagem do Fantástico, na “TV Globo”. O que pouca gente sabe é que o atleta é palmeirense e havia tido uma passagem pelo Verdão antes de jogar pela base da Raposa. Isso aconteceu em 2017 e o responsável foi Paulo Roca.

–Depois, eu vi o Estevão jogando com 9 para 10 anos, na escolinha do Cruzeiro, aí eu me encantei. Quando vi, procurei o pai dele e disse que o menino era fantástico, de um talento incrível. Falei que o filho é um absurdo, mas falei que estava num estado onde não tinha competições pra idade dele. Ele precisava competir urgente. Aí, eu levo ele para o Palmeiras. Eles se encantam, ele também se encanta pelo Palmeiras, porque ele é palmeirense. Mas existiam outras pessoas envolvidas e essas pessoas o convenceram de voltar para o Cruzeiro.

Estevão é diferente. Daqueles jogadores que o torcedor para no sofá para assistir mesmo sem que seu time esteja jogando. É dono de um talento que faz lembrar os áureos tempos de Neymar. O Chelsea esfrega as mãos e torce para o tempo passar rápido e que julho de 2025 chegue logo.

É um jogador de inúmeras qualidades e que faz tudo muito bem. Paulo Roca se empolga quando o camisa 41 do Palmeiras é assunto. Ele não mede adjetivos para descrever o “Messinho”.

— Estevão pra mim é um absurdo. Um jogador de uma qualidade técnica… A maneira como ele conduz a bola, como balança. que ele sai no contrapé do marcador. Ele espera o momento certo. Tem uma ambidestria fantástica.

Se sobra técnica, falta força. Por suas características e idade, Estevão é um jogador leve. Um prato cheio para a Premier League engolir, certo? A maior liga do mundo tem o fator físico como um de seus principais fatores, o que pode ser um ponto contrário ao brasileiro. Paulo Roca não pensa dessa forma e elege um antigo ídolo nacional para exemplificar como pode ser a passagem do jovem pela Inglaterra.

–É um atleta que cabe em todos os mercados. Apesar de não ser forte, é extremamente talentoso. E aí nós vamos lembrar do Juninho Paulista, que fez muito sucesso no Middlesbrough, numa época que era muito difícil hoje. Hoje acho que o futebol inglês se joga numa qualidade muito maior. Apesar do Estevão não ser tão forte, ele é muito rápido, e conduz a bola muito perto do pé.

Estevão Willian Juninho Paulista
Estevão Willian e Juninho Paulista (Fotos: Imago)

Pela primeira vez, um candidato à maior estrela do futebol brasileiro está na Premier League. Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Kaká e Neymar, por exemplo, não fizeram esse caminho. Sinal dos tempos e da mudança de mentalidade de um campeonato que olha cada vez mais para esses lados.

Paulo Roca viu esse trio e tantos outros jogadores crescerem — literalmente. Com o talento em primeiro lugar, a melhor liga do mundo fica cada vez mais verde e amarela.

Lucas Barbosa
Lucas Barbosa

Redator da PL Brasil. Foi por meio da Premier League, na tela do antigo Esporte Interativo, em 2007, que o Jornalismo entrou na minha vida. Duas paixões que abriram portas e me fazem realizar sonhos todos os dias. Passei pelos portais Mais Minas e Esporte News Mundo.