A era Sir Alex Ferguson no Manchester United foi, sem dúvidas, gloriosa. Grandes elencos, ótimos jogadores e inúmeros títulos. Ao longo dessa era, que durou 27 anos, diversos atletas foram fundamentais para construir capítulos históricos para a equipe de Old Trafford. E um nome que merece menção honrosa é do lateral-esquerdo Patrice Evra.
O início do jovem Patrice Evra
Patrice Latyr Evra nasceu na cidade de Dakar, Senegal, em 15 de maio de 1981. No entanto, em sua carreira futebolística, o lateral-esquerdo sempre defendeu as cores da seleção francesa.
O franco-senegalês iniciou a sua carreira no esporte nas categorias de base do pouco conhecido CO Les Ulis, da França. E anos mais tarde chegou ao Paris Saint-Germain para jogar na equipe sub-19.
O lateral-esquerdo ficou apenas uma temporada no time parisiense e depois foi negociado sem custo para o Sport Club Marsala 1912, equipe que atualmente ocupa a quarta divisão do Campeonato Italiano.
Após atuar uma temporada no Sport Club Marsala 1912, Evra se transferiu para o modesto Calcio Monza, time italiano que nunca chegou a disputar a elite do Campeonato Italiano, a Serie A. No Calcio Monza, o francês ficou um ano e depois voltou para a França para jogar no Nice em 2000/2001.

A mudança de patamar e os ótimos momentos no Nice e Monaco
Em sua primeira temporada, o jogador viveu algo muito parecido com o que havia acontecido nas equipes anteriores. No entanto, tudo começou a mudar na campanha 2001/2002. Com mais minutos em campo e com boas oportunidades de mostrar o seu potencial, Evra se tornou uma das peças principais da equipe francesa e foi o dono da lateral-esquerda.
Com exibições consistentes e um maior reconhecimento no cenário nacional, Patrice chamou atenção de outros clubes da França. E em junho de 2002, o francês foi contratado junto ao Monaco, que na época desembolsou cerca de 4 milhões de euros para contar com o atleta.
Já consolidado e com mais rodagem, Evra foi contratado para ser o titular da equipe do principado. E, na temporada 2002/2003, ele teve o melhor momento de sua carreira até então.
Em 2003/2004, o Monaco viveu um dos seus maiores auges e foi finalista da Champions League, eliminando Real Madrid (quartas de final) e Chelsea (semifinal).
Na final, o time francês não conseguiu manter o mesmo desempenho das etapas anteriores e foi derrotado pelo Porto do técnico José Mourinho pelo placar de 3 a 0. Na campanha espetacular, Evra foi titular em todas as partidas e ainda deu uma assistência.
Com ótimas temporadas com a camisa do Monaco, Patrice Evra foi convocado pela primeira vez para a seleção francesa em agosto de 2004. E com o passar dos anos, o jogador foi peça cativa nas convocações dos Les Bleus.
Seleção francesa
Na seleção francesa, Patrice Evra ganhou as suas primeiras oportunidades em 2004, quando ainda atuava no Monaco, e teve a sua estreia em uma partida amistosa que terminou em 1 a 1 contra a Bósnia. No entanto, ele começou a ser de fato referência dentro do elenco dos Les Bleus em 2008.
Após isso, foi titular indiscutível da França, sendo capitão na Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul.
Pela seleção francesa, Evra não conseguiu ser tão vitorioso quanto nos clubes. No entanto, foi um dos jogadores que mais entrou em campo. Ao todo, foram 81 jogos e três assistências. A sua última participação com os Les Bleus foi em 2016 em um amistoso contra a Costa do Marfim.
A ida ao Manchester United e o ápice da sua carreira

Mais experiente e sendo um dos principais atletas da posição, o francês deixou o Monaco para alcançar voos mais altos. E em janeiro de 2006, Evra acertou a sua transferência para o gigante Manchester United, que pagou cerca de 8 milhões de euros para levar o francês. Ele fez a sua estreia na derrota por 3 a 1 para o Manchester City no dia 14 de janeiro de 2006.
Por chegar no meio da temporada, o jogador não foi a primeira opção de Alex Ferguson logo de cara. Evra teve dificuldades de adaptação no seu início e disputou posição com o seu compatriota Mikael Silvestre. Porém, com o passar dos anos, o francês não só se adaptou à equipe, como também ao estilo de muita intensidade da Premier League e do futebol inglês.
Adaptado e coroado: títulos, títulos e mais títulos…
Na temporada seguinte o cenário foi diferente. O francês começou a ter mais espaços e figurar entre os onze iniciais. Tanto que, de 24 jogos que participou da Premier League, o lateral-esquerdo foi titular em 22 ocasiões. No total, foram 36 jogos, dois gols e quatro assistências. Além disso, conquistou o seu primeiro título da Premier League com a camisa dos Red Devils.
Em 2007/2008, o Manchester United fez história mais uma vez. E Patrice Evra foi peça fundamental em uma campanha impecável. A equipe comandada por Sir Alex Ferguson foi novamente campeã da Premier League e venceu o título da Champions League em uma decisão dramática contra o Chelsea nos pênaltis.

No ano seguinte, mais um título de Premier League. O primeiro e único tricampeonato de Patrice Evra com a camisa dos Diabos Vermelhos. Além disso, a equipe alcançou de forma consecutiva a final da Champions League. No entanto, os ingleses acabaram ficando com o vice-campeonato, perdendo o título para o Barcelona de Pep Guardiola.
O Manchester United de 2006 a 2009 foi um dos melhores times da Europa. Um ataque arrasador, com Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, Carlitos Tévez e Ryan Giggs. Porém, o time tinha um dos melhores sistemas defensivos do velho continente.
A linha de quatro formada por Gary Neville, Rio Ferdinand, Nemanja Vidic e Patrice Evra era impecável. Consistência, precisão e controle sob os adversários. Era uma defesa capaz de tudo. E, ao longo desses anos, foi um dos pilares de um dos melhores elencos da história da Premier League.
Outras conquistas, Luis Suárez e fim da era Manchester United
Evra foi um dos símbolos do Manchester United na última década e no início desta. Além de grandes conquistas e de um desempenho tático e técnico impecável, o francês também se tornou em um dos grandes líderes do elenco. E sendo, em diversas ocasiões, o capitão de um dos maiores times da Inglaterra.
Em 2009/2010 o Manchester United terminou apenas com o título da Copa da Liga Inglesa e não conseguiu repetir os feitos dos anos anteriores, já que haviam perdido a sua principal estrela, Cristiano Ronaldo, que acabara de ser negociado junto ao Real Madrid.
Mas, essa talvez tenha sido uma das melhores temporadas do lateral-esquerdo com a equipe de Manchester em termos de números. No total, o francês participou de 51 gols e deu sete assistências.
Na temporada seguinte, mais um título incontestável de Premier League (o quarto em cinco anos) e mais uma final de Champions League. Na final, outro duelo contra o Barcelona de Pep Guardiola, que terminou com o resultado favorável para os espanhóis.
Porém, 2010/2011 ficou marcado por uma grande polêmica. No duelo entre Liverpool x Manchester United pela Premier League, Evra acusou o uruguaio Luis Suárez de racismo.
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O francês perguntou ao uruguaio por que havia sido chutado pelo atacante. Suárez respondeu. “Porque você é negro”. Irritado, Evra ameaçou agredir o jogador do Liverpool se ele repetisse a palavra. O uruguaio voltou a provocá-lo. “Eu não falo com negros”.
A Federação Inglesa (FA) investigou o caso e puniu Suárez com uma suspenso de oito partidas e uma multa de 40 mil libras na ocasião.
A história rendeu mais um episódio. Em fevereiro de 2012, em jogo válido pela Premier League no estádio Old Trafford, Manchester United e Liverpool fizeram mais um clássico que terminou com vitória dos mandantes pelo placar de 2 a 1.
No entanto, as atenções ficaram voltadas para a entrada dos times em campo. No famoso “cumprimento”, Luis Suárez passou por Patrice Evra e não apertou a mão do francês.
O lateral-esquerdo até tentou puxar as mãos do uruguaio para cumprimentá-lo, mas Luisito acabou o ignorando. Na sequência, alguns jogadores do United como por exemplo, Rio Ferdiand, Danny Welbeck e Antonio Valencia não cumprimentaram o ex-camisa 7 dos Reds.
Último título de Premier League e adeus ao Manchester United
Com Nemanja Vidic lesionado, Patrice Evra assumiu o posto de capitão do Manchester United na maior parte da temporada 2012/2013. Essa que foi uma campanha especial. Não pela sua liderança, mas também por fazer a sua melhor temporada com os Diabos Vermelhos e pela aposentadoria de uma das maiores lendas do futebol, Sir Alex Ferguson.
Naquele ano, os Red Devils contrataram o goleador Robin van Persie. O holandês foi fundamental para levar o lado vermelho de Manchester a conquistar o 20º título inglês do clube, o último do Manchester United. Uma temporada incrível, que corou a todos e marcou o fim de uma era.
Que PAULADA do Evra! Um do maiores laterais-esquerdos da história da PL?
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— PL Brasil (@plbrasil1) January 8, 2020
Evra terminou 2012/2013 com ótimos números. Foram 42 jogos, quatro gols e seis assistências. Esse foi o maior número de participação direta em gols do francês em uma temporada com a camisa do Manchester United.
O ano de 2014 foi o seu último defendendo os Red Devils. Sem Alex Ferguson, o United fez uma de suas piores campanhas na Premier League. O time terminou na sétima colocação e não conseguiu alcançar nenhuma vaga por competição europeia.
O final não foi dos sonhos, mas nada disso apaga a brilhante carreira de Patrice Evra no Manchester United. Uma referência técnica, liderança, comprometimento e amor pelo clube. Pelo United, o francês participou de 379 partidas, marcando dez gols e distribuindo 40 assistências.
Além disso, ele conquistou 15 títulos em nove temporadas no clube. Foram cinco títulos de Premier League, três Copas da Liga Inglesa, um título do Mundial de Clubes, cinco da Supercopa da Inglaterra e o mais importante de todos, a conquista da Champions League em 2008. Um verdadeiro ídolo.

Itália: novo país e novas conquistas
Depois de vencer praticamente tudo na Inglaterra, Patrice Evra deixou o Manchester United para buscar novos objetivos. E um dos clubes interessados no lateral-esquerdo francês era a gigante Juventus. Na janela de verão de 2014, a Velha Senhora pagou cerca de 1,5 milhão de euros e contratou o já veterano de 33 anos.
Apesar de ser uma das referências na posição de lateral-esquerdo, Evra já não era mais o mesmo dos tempos de Red Devils. A sua intensidade, ponto fortíssimo do atleta, não era como a de antes.
No entanto, tratava-se de um jogador extremamente campeão e experiente. E isso era tudo que a Juventus desejava. O francês chegava a Turim com a vaga de titular garantida.

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E logo em sua primeira temporada ele demonstrou um bom desempenho. Ajudou a Juve conquistar o seu tetracampeonato da Serie A, e também a Copa da Itália. Além de vencer os dois campeonatos nacionais, a equipe italiana foi finalista da Champions League.
Porém, Evra encontrou a sua grande “pedra no sapato”. Mais uma vez, em mais uma decisão, o Barcelona. Mesmo roteiro e mesma história, vitória dos catalães por 3 a 1.
O francês terminou a temporada 2014/2015 com 34 jogos, um gol, quatro assistências e dois títulos na bagagem.
Em 2015/2016 o jogador começou a perder um pouco do seu espaço, muito por conta da contratação do brasileiro Alex Sandro.
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Disputando a posição com o brasileiro, Evra já não figurava sempre como titular absoluto. Não bastasse a concorrência, o veterano perdeu inúmeras partidas por lidar com algumas lesões, algo natural para um atleta que já tinha os seus 34 anos.
Depois de mais um ano de sucesso nacional, Evra foi pouco utilizado em 2016/2017 e iniciou apenas três partidas entre os onze titulares. Dessa forma, o francês já não era a prioridade do técnico, Massimiliano Allegri.
E com Alex Sandro cada vez à vontade, ao mesmo tempo as oportunidades começaram a se restringir para o francês. Isso era uma prova de que o seu ciclo na Juventus já estava no fim. Em 2017, surgiu a oportunidade de voltar à França.
O retorno para a França e o “começo” do fim
Em janeiro de 2017, o Olympique de Marselha pagou 1 milhão de euros e tirou o francês da Juventus. Participando apenas de meia temporada, Evra fez 11 jogos pelo Marselha e contribuiu com uma assistência. O time terminou na quinta colocação da Ligue 1 e conquistou a vaga para disputar a Europa League.
Em 2017/2018, o francês perdeu espaço no Olympique, fez poucos jogos, mas a campanha ficou marcada por um episódio polêmico.
No dia 2 de novembro, em duelo válido pela Europa League diante do Vitória de Guimarães, em Portugal, Patrice Evra foi expulso de campo antes mesmo do início do duelo continental. Após receber insultos de próprios torcedores do time francês, que invadiram o campo, o experiente lateral respondeu às provocações e acertou um chute em um dos torcedores.
Depois da atitude em Portugal, o atleta foi então demitido pelo Olympique de Marselha.
De volta à Premier League e o adeus definitivo aos gramados

Depois de ficar alguns meses sem clube, o West Ham investiu na contratação de Patrice Evra para o restante da temporada 2017/2018, mesmo com os seus 37 anos. O francês fez a sua estreia como titular na partida diante do Liverpool, que terminou com derrota dos Hammers por 4 a 1.
Após a sua estreia, o lateral-esquerdo ficou apenas 138 minutos em campo. O final, definitivamente, já estava próximo. O seu contrato com o West Ham terminou em junho de 2018. Sem mais propostas, Patrice Evra enfim anunciou a sua aposentadoria um ano após o término do seu último vínculo com um clube de futebol.
No seu auge de Manchester United, Patrice Evra certamente foi um dos melhores jogadores do mundo na posição. Sempre muito consistente, o francês chamava atenção pela sua imposição física nos combates 1×1 e pela alta intensidade de jogo, que ficou ainda mais evidente na sua adaptação ao estilo da Premier League.
Evra era um lateral que gostava de utilizar bastante o corredor e dando muita profundidade ao time com as chegadas às linhas de fundo. Ele não tinha o estilo de um lateral de construção por dentro, como muitos atletas da posição fazem atualmente.
Nos seus últimos anos de carreira, Evra mostrou o seu lado “artístico”. Sempre brincando nas redes sociais com algumas dancinhas, desafios e com o seu característico bordão que virou meme: “I love this game”.