Por que McClean se recusa a usar a papoula em homenagem aos soldados britânicos?

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O início do mês de novembro é um momento importante no Reino Unido, pois esse é o período que em diversas atividades – e entre elas o futebol -, presta-se homenagem aos mortos em guerras que a Grã-Bretanha esteve envolvida, numa forma de refletir e agradecer pelo sacrifício daqueles que faleceram com o objetivo de manter o país seguro.

No dia 11 de novembro, as homenagens são intensificadas por conta do Dia do Armistício, data que deu fim aos conflitos entre Aliados e a Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Como neste ano, o dia 11 de novembro coincide com a data Fifa, os clubes prestaram homenagens nos últimos fins de semana, com a realização do um minuto de silêncio e a aplicação do desenho da papoula nos uniformes e na lapela dos técnicos.

A flor acabou se tornando o símbolo do movimento em homenagem e respeito aos soldados britânicos mortos em guerras.

Um dos motivos é o fato dos campos de batalha em Flandres, no norte da Bélgica, terem ficado cobertos por papoulas ao fim do conflito – num sinal de renovação, esperança, a flor que brota numa terra arrasada pelo chumbo.

Papoula simboliza a homenagem dos britânicos aos que morreram pelo país em guerras (Foto: Reprodução)
A papoula simboliza a homenagem dos britânicos aos que morreram pelo país em guerras (Foto: Reprodução)

No entanto, há muitas temporadas, James McClean, atualmente no West Bromwich Albion, recusa-se a usar a papoula e tem causado uma grande polêmica na Grã-Bretanha.

Ele decidiu não prestar a homenagem nos jogos contra Manchester United e Leicester na temporada passada, mantendo a postura que já adotava quando jogou pelo Wigan Athletic e pelo Sunderland.

Em 2016/2017, seu uniforme contra o Manchester City não teve a papoula aplicada no peito, diferente dos demais jogadores dos Baggies. Atento ao fato, uma reportagem do jornal Birmingham Mail tentou descobrir o motivo.

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Uniforme do WBA com a papoula aplicada (Foto: Divulgação/West Bromwich Albion)
Uniforme do WBA com a papoula aplicada para as homenagens em 2016 (Foto: Divulgação/West Bromwich Albion)

Para entender a polêmica, precisamos voltar no tempo. McClean é nascido em Derry, a segunda maior cidade da Irlanda do Norte, país que como a Escócia e o País de Gales, são ligados politicamente ao Reino Unido.

No entanto, no nível de seleções, McClean representa a República da Irlanda, que obteve sua separação de forma nada amigável. Foram anos de conflitos até o Tratado Anglo-Irlandês, que em 1921, pôs fim à Guerra de Independência da Irlanda.

Neste tratado, ficou definido que seis dos nove condados da província de Ulster, no norte, passariam a ser a Irlanda do Norte.

Além disso, Derry foi palco do “Domingo Sangrento”, eternizado pela música “Sunday Bloody Sunday” do U2.

Em 30 de setembro de 1972, tropas britânicas reprimiram cruelmente uma manifestação pelos direitos civis realizada na cidade. Estes protestavam contra as prisões sumárias por suspeita de envolvimento com atos terroristas, ligados ao Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês).

O IRA luta pela separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e posterior (re)união com a República da Irlanda. McClean cresceu no bairro de Creggan, justamente de onde seis pessoas mortas no episódio também vieram.

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Em entrevista recente ao site oficial do West Brom, McClean justificou o porquê não usa a papoula:

“Nós estamos chegando no período de homenagens, e não vou usar a papoula em meu uniforme”, disse McClean. “As pessoas dizem que estou sendo desrespeitoso, mas não perguntam o porquê escolhi não usá-la. Se a papoula fosse usada pelas vítimas da Primeira e da Segunda Guerra Mundial, somente, eu a usaria sem problema. Eu a usaria em todos os dias do ano se este fosse o caso, mas não é. Ela se refere a todos os conflitos que a Grã-Bretanha esteve envolvida. Por conta da história de onde vim em Derry, eu não posso usar algo que represente isto.”

McClean já relatou ter sofrido várias ameaças de morte por conta de sua decisão de não usar a papoula.

Na pré-temporada de 2015, reacendeu a polêmica num amistoso realizado nos Estados Unidos, virou as costas quando o hino do Reino Unido, “God Save The Queen”, foi executado antes da partida.

Você concorda com a postura de McClean de não usar a papoula em homenagem aos soldados britânicos? Ele poderia ter lidado com a situação de alguma outra forma? Opine!

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Thiago Ienco

Jornalista formado pela Universidade Estadual de Londrina e apaixonado por futebol - especialmente o inglês. Co-administrador do site Premier League Brasil