Julio César Puiati
James Joyce Bar. Uma manhã comum de domingo. Torcedores se reúnem para assistir a um jogo de futebol. Não se trata, no entanto, de uma partida do Cruzeiro ou do Atlético Mineiro. Tampouco do São Paulo, do Flamengo, do Corinthians ou do Grêmio. Aos fins de semana, o barzinho da região central de Belo Horizonte ressoa cânticos na língua inglesa. “You’ll neeeeever walk… alone!”, você pode escutar ao caminhar pela Rua Ludgéro Dolabela, no bairro Gutiérrez.
Ora, estamos falando de imigrantes da Inglaterra, certo? Errado. Estamos falando de belo-horizontinos legítimos. Mas que optaram por adotar uma paixão especial. Paixão essa que vem lá da Terra da Rainha.
O grupo de torcedores BH Reds surgiu em 2014. Os integrantes se conheceram pelas redes sociais após descobrirem um gosto em comum: o amor pelo Liverpool Football Club – clube de futebol bastante tradicional na Inglaterra. “O pessoal se reúne pra assistir os jogos. Os encontros sempre acontecem em bares”, explica Túlio Cruz, professor de inglês e um dos fundadores. Vestidos a caráter, os amigos torcem e vibram como se estivessem em um estádio da Inglaterra. “É uma válvula de escape para a rotina caótica do dia a dia”, brinca.
O Manchester United é outro clube inglês bastante popular na capital mineira. E com um grupo de torcedores também! O pessoal da Red Devils BH está junto desde 2012. De acordo com o fisioterapeuta Davi Henrique da Silva, um dos idealizadores da comunidade, os integrantes realizaram 25 encontros oficiais no ano passado. Eles se reúnem para assistir aos jogos, fazer churrasco e até mesmo jogar bola. “O United pra mim é amor, alegria, diversão e sonho. Não tem como descrever. O Manchester me proporcionou momentos inesquecíveis e me deu amigos que vou levar para o resto da minha vida”, conta.
O Túlio e o Davi nunca foram à Inglaterra. Nunca estiveram em Old Trafford ou Anfield, os estádios de Manchester United e Liverpool, respectivamente. Nunca respiraram a cultura local. Portanto, a pergunta que fica é a seguinte: o que leva essas pessoas a se identificarem tanto com elementos e valores culturais de outros países? De acordo com o sociólogo José Ricardo Faleiro, professor da PUC Minas, isso só é possível devido ao caráter popular e universal do futebol. “É um esporte que tem uma cultura própria. São as mesmas regras em todos os lugares. E é assimilável por qualquer um que goste do jogo. Em muitos casos, o que interessa é o desempenho do clube e não o local da sua sede”, explica.
Os hábitos culturais do homem estão profundamente ligados à cidade de origem, base familiar, experiências coletivas, ideologias particulares e outros elementos sociais. Mas segundo José Ricardo, “nada impede que haja uma identificação forte de uma pessoa com outra cultura que ela admira e que lhe seja acessível. Num mundo globalizado, a cultura é cada vez mais homogênea e as fronteiras culturais cada vez mais tênues”.
Comparado ao futebol brasileiro, o futebol europeu tem uma grande capacidade de atrair olhares do mundo inteiro. Afinal, são nas grandes ligas do Velho Continente que os maiores times e os maiores jogadores do planeta estão concentrados.
Além disso, as transmissões televisivas e as plataformas e vídeos online facilitam cada vez mais o contato do público com as ligas estrangeiras. “Não é incomum que torcedores se identifiquem com clubes de outros países em função do sucesso desses times, dos famosos que lá atuam, de suas glórias e conquistas”, avalia o sociólogo.
Por enquanto, Túlio e Davi não se preocupam em viajar para a Inglaterra. A paixão pelo futebol inglês é um sentimento importado, é verdade, porém sem fronteira. Dá pra torcer aqui de Belo Horizonte, com os amigos da comunidade e com o escudo no peito. “É um sonho meu ir ao estádio do Manchester United”, admite Davi. “Mas isso não é um fator essencial. Não te faz mais torcedor. Você pode apoiar o seu time de onde você quiser”, conclui.
E tem mais!
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