Manchester City, Brighton, Watford e Wolverhampton – o quarteto de semifinalistas da Copa da Inglaterra desta temporada – têm trajetórias bem distintas na história do torneio. Enquanto City e Wolves já levantaram várias vezes a taça, os outros dois chegaram apenas a uma final cada.
Dos quatro semifinalistas, o Wolverhampton é o que mais vezes alcançou as semifinais da Copa da Inglaterra: contra o Watford, fará sua 15ª aparição nesta fase, uma a mais que o Manchester City, que agora terá o Brighton pela frente.
Os Citizens, no entanto, têm mais títulos e mais participações em finais: levantaram a taça cinco vezes em dez decisões disputadas (contra quatro e oito do Wolverhampton, respectivamente), caindo nas semifinais apenas em três ocasiões (contra seis dos Wolves).
Relembraremos a seguir todas as vezes em que os quatro candidatos atuais ao título chegaram às semifinais ou foram mais adiante no torneio, decidindo o caneco.
Wolverhampton e Watford
As primeiras participações dos Wolves em retas finais do torneio remontam ainda ao século XIX: em 1889, ano da primeira disputa da liga inglesa, o time perdeu a final da taça para o Preston, que completou a dobradinha ao vencer por 3 a 0 no campo de Kennington Oval, em Londres.
No ano seguinte, o time chegou às semifinais, mas acabou derrotado por 1 a 0 pelo Blackburn, que se sagraria campeão. O primeiro título dos Wolves viria em 1893, ao bater o Everton por 1 a 0 na única final da história a ser jogada no hoje extinto estádio de Fallowfield, em Manchester.
O clube ainda chegaria a mais uma final antes da virada do século em 1896, quando perdeu para The Wednesday (atual Sheffield Wednesday) por 2 a 1 no antigo estádio de Crystal Palace (não confundir com o clube de mesmo nome), em Londres.
No século XX, os Wolves voltaram a levantar a taça em 1908, num momento em que disputavam a segunda divisão. Na final, surpreenderam o Newcastle, na época um dos mais poderosos times da elite, vencendo por 3 a 1 novamente no estádio de Crystal Palace.
Já em 1921, o clube voltaria a uma final mais uma vez estando na segunda divisão, mas desta vez não teve a mesma sorte e foi batido pelo Tottenham por 1 a 0, num jogo disputado no gramado enlameado em Stamford Bridge, dois anos antes da inauguração de Wembley.
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No palco mais tradicional do futebol inglês, os Wolves decidiram a copa pela primeira vez em 1939 e foram surpreendidos: francos favoritos contra o Portsmouth, acabaram goleados por 4 a 1, na última final antes da interrupção provocada pela Segunda Guerra Mundial.
Após o fim do conflito, o clube voltou a levantar a Copa da Inglaterra em 1949, quando a equipe dirigida por Stan Cullis bateu o Leicester por 3 a 1 e deu início à era mais vitoriosa da história dos Wolves, que conquistariam na década seguinte seus três únicos títulos na liga.
Antes disso, porém, seria derrotado nas semifinais da edição de 1951 pelo Newcastle, perdendo por 2 a 1 no replay jogado no estádio de Leeds Road, em Huddersfield, depois de ter empatado em 0 a 0 na primeira partida em Hillsborough.
O Wolverhampton chegou pela última vez ao título (e à final) da taça em 1960, quando derrotou o Blackburn por 3 a 0, num jogo um tanto violento e marcado por protestos dos torcedores, que atiraram cascas de laranja no gramado, enquanto os jogadores davam a volta olímpica.
Daí em diante, foram mais quatro tentativas frustradas de se passar das semifinais no torneio. Na primeira delas, em 1973, o time foi derrotado pelo Leeds de Don Revie por 1 a 0 no campo neutro de Maine Road, com gol do meia escocês Billy Bremner.
Curiosamente, por um curto período naquela época, havia disputa de terceiro lugar na taça. Mais bizarro ainda: naquele ano, ela foi jogada mais de três meses depois da final. Os Wolves bateram o Arsenal por 3 a 1 em Highbury diante de pouco mais de 21 mil torcedores.
Em 1979, o Wolverhampton chegou de novo à semifinal, caindo para o Arsenal – que levantaria a taça na decisão contra o Manchester United – por 2 a 0 no Villa Park. Frank Stapleton e Alan Sunderland marcaram os gols que frustraram os Wolves.
Dois anos depois, o carrasco seria o Tottenham, que venceu por 3 a 0 o replay na antiga casa dos rivais Gunners, em Highbury, com dois gols de Garth Crooks e um golaço do argentino Ricky Villa, após ter empatado a primeira partida, em Hillsborough, por 2 a 2.
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A última vez que os Wolves chegaram às semifinais da taça foi em 1998. Na época disputando a Division One (atual Championship), a equipe vinha de eliminar o Leeds em Elland Road, mas caiu diante do Arsenal no Villa Park por 1 a 0, gol do liberiano Christopher Wreh.
Rival do Wolverhampton nas semifinais, o Watford tem história bem mais modesta na FA Cup, chegando a seis semifinais e avançando só uma vez à final, em 1984, quando foi batido pelo Everton por 2 a 0, em partida que chegou a ser transmitida para o Brasil pela TV Globo.
Mas em suas demais tentativas frustradas de chegar à decisão, acumulou boas histórias. Como na primeira vez, em 1970, na qual deixou pelo caminho o Stoke de Gordon Banks e o Liverpool de Bill Shankly, antes de cair goleado pelo Chelsea por 5 a 1 em White Hart Lane.
Três anos depois de alcançar sua única final, o Watford esteve perto de repetir o feito. Depois de derrubar Chelsea e Arsenal, o time de Graham Taylor teve mais um londrino pela frente, mas o Tottenham não deu chances e goleou por 4 a 1 no Villa Park.
As outras três vezes em que os Hornets chegaram às semifinais foram neste século. Em 2003, caíram para o Southampton (2 a 1), de novo no Villa Park, mesmo local da eliminação de 2007, com goleada (4 a 1) para o Manchester United de Wayne Rooney e Cristiano Ronaldo.
Na última vez, em 2016, o Watford deixou nada menos que Newcastle, Nottingham Forest, Leeds e o atual campeão Arsenal (batido no Emirates Stadium) pelo caminho, apenas para cair diante do Crystal Palace por 2 a 1 na semifinal.
Manchester City e Brighton
Se não tem uma história tão antiga na competição quanto a dos Wolves, o City já acumulava uma tradição considerável na Copa da Inglaterra ainda na primeira metade do século XX, com dois títulos, dois vices e outras duas semifinais.
Tudo começou em 1904, quando o time conquistou o primeiro título de sua história vencendo o Bolton por 1 a 0 no estádio de Crystal Palace. O autor do gol foi o ponta galês Billy Meredith, um dos primeiros grandes astros do jogo, e ídolo em ambos os clubes de Manchester.
Vinte anos depois, o clube perdeu sua primeira chance de jogar uma final em Wembley ao cair na semifinal da taça para o Newcastle – numa campanha na qual, curiosamente, os Citizens eliminaram o Brighton, goleado em casa por 5 a 1.
Em 1926, depois de atropelar o Crystal Palace por 11 a 4 e de vencer o rival Manchester United na semifinal por 3 a 0, enfim o City decidiria a copa em Wembley, e contra o mesmo Bolton batido em 1904. Mas desta vez os Trotters deram o troco, vencendo com gol de David Jack.
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No início da década de 1930, o Manchester City chegaria a três semifinais consecutivas, subindo um degrau de cada vez até seu segundo título na competição. Em 1932, uma derrota por 1 a 0 para o Arsenal de Herbert Chapman impediu o time de avançar à final.
No ano seguinte, o City foi a Wembley depois de bater o Derby County nas semifinais, mas não resistiu ao Everton de nomes lendários como o goleiro Ted Sagar e o artilheiro William “Dixie” Dean, autor de um dos gols na vitória por 3 a 0.
Em 1934, enfim, veio a segunda taça. Depois de golear o Aston Villa por 6 a 1 na semifinal, o City – que contava com um certo Matt Busby de médio-direito – bateu o Portsmouth por 2 a 1 de virada, com dois gols do ponta-esquerda Frank Tilson, o segundo a dois minutos do fim.
Após a Segunda Guerra, o clube voltou a viver uma história de recuperação nos anos 50, quando, após perder a final de 1955 para o Newcastle por 3 a 1, voltou a Wembley no ano seguinte para levantar a terceira taça ao bater o Birmingham pela mesma contagem.
Aquela final foi célebre pela atuação memorável do goleiro alemão Bert Trautmann, que parou o ataque do Birmingham – considerado o favorito ao título pela imprensa – mesmo tendo quebrado um osso do pescoço ao se chocar com um atacante adversário.
A final e a conquista seguintes viriam em 1969, já sob o comando da dupla Joe Mercer/Malcolm Allison, que faria história no clube. Vindo de levantar seu segundo título inglês no ano anterior, o Manchester City bateu o Leicester do jovem Peter Shilton por 1 a 0 na final da copa.
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Aquela conquista seria fundamental para a história do clube por ter sido o pontapé inicial para levantar seu único caneco europeu, o da Recopa europeia na temporada seguinte, vencendo o Gornik Zabrze polonês na decisão em Viena.
O City voltaria à final da Copa da Inglaterra em 1981, numa decisão marcante contra o Tottenham. O primeiro jogo terminou empatado em 1 a 1 com um gol do meia escocês Tommy Hutchison, dos Citizens, para cada lado – a favor e contra.
No replay, os Spurs venceram por 3 a 2 numa partida repleta de reviravoltas e lembrada por dois gols antológicos: o voleio de Steve McKenzie, de fora da área, para o City, e a corrida incrível do argentino Ricky Villa, driblando quem aparecesse pela frente, para o Tottenham.
Depois daquela decisão, o City teria que aguardar até a década atual para voltar às finais da copa. Em 2011, após eliminar o rival Manchester United na semifinal por 1 a 0, gol de Yayá Touré, o time repetiu placar e goleador para bater o Stoke na decisão no novo Wembley.
Dois anos depois, no entanto, após superar o Chelsea na semifinal, o galáctico time de Roberto Mancini foi surpreendido pelo Wigan, que acabaria rebaixado da Premier League ao fim daquela temporada. Ben Watson marcou, já nos acréscimos, o único gol da final.
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A última vez em que os Citizens chegaram à semifinal foi há dois anos, quando caíram de virada para o Arsenal: Sergio Agüero abriu o placar no segundo tempo, mas Nacho Monreal empatou nove minutos depois e Alexis Sánchez levou os Gunners à final marcando na prorrogação.
O Brighton, por sua vez, realiza um feito na atual temporada: chega apenas à segunda semifinal de FA Cup em sua história. A primeira – e até então a única – havia sido a de 1983, justamente no ano em que avançou à final e esteve muito perto de levantar a taça.
Naquele ano, o time dirigido por Jimmy Melia chegou a vencer o Newcastle no St. James’ Park, o Liverpool de Bob Paisley em Anfield e golear o próprio Manchester City por 4 a 0 em seu caminho até à decisão. Nas semifinais, despachou o Sheffield Wednesday em Highbury.
A final foi contra o Manchester United, e os Seagulls chegaram a abrir o placar com Gordon Smith, antes de os Red Devils virarem com Frank Stapleton e Ray Wilkins. Até que a três minutos do fim, Gary Stevens voltou a igualar o marcador, recolocando o Brighton na partida.
O time chegou a ter a bola do jogo, quando Gordon Smith recebeu sozinho num contra-ataque e ficou cara a cara com Gary Bailey, mas o goleiro do United fez uma defesa corajosa, levando a decisão para o replay. Nele, os Red Devils não deram chance e golearam por 4 a 0.