Por que Pochettino nunca foi o nome certo para o Chelsea

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Em sua primeira temporada no Stamford Bridge, Mauricio Pochettino colocou o Chelsea na final da Copa da Liga Inglesa e na semifinal da Copa da Inglaterra. Mas com um aproveitamento de 48% em 27 jogos disputados na Premier League 2023/24, a atuação deste elenco dos Blues não convence nem a própria torcida, que já chegou a vaiar o treinador nas arquibancadas do estádio em Londres.

É fácil dizer agora, faltando poucas rodadas para o fim da temporada, que o argentino fracassou. Mas o seu retrospecto já demonstrava que as chances de dar certo na frente dos Blues não era das da mais altas.

A verdade é que Pochettino nunca foi o nome certo para treinar o Chelsea.

Esse texto não tem como objetivo chegar à conclusão de que Pochettino é um “técnico fraco, com áurea de perdedor”, como os haters gostam de dizer nas redes sociais. Até porque esse é um conceito bastante subjetivo — além da qualidade do treinador ser inquestionável.

A grande questão é que Pochettino não tem o perfil para o projeto do Chelsea. E eu vou explicar o porquê.

O Chelsea não é o Tottenham, nem o Southampton

Um dos argumentos que eram usados para defender a contratação de Pochettino era o fato de ser um treinador com experiência na Premier League. E, de fato, seus trabalhos de maior sucesso foram a revolução no Southampton entre 2013 e 2014 e a transformação do Tottenham em um clube relevante na Inglaterra, de 2014 a 2019.

Só que, olhando nas entrelinhas, dá para concluir que sua experiência no futebol inglês não justifica a contratação no Stamford Bridge.

Pochettino foi capaz de bater de frente contra times grandes da PL dirigindo um time que enfrentava o risco de ser rebaixado. Ele também possibilitou a uma torcida, pela primeira vez em décadas, sonhar com um título inglês e, por que não, com a Champions League.

Parece o histórico perfeito para um time que estava com a moral baixa depois de uma temporada frustrante e de perder o dirigente responsável por tornar o time competitivo ao longo de uma década no país, certo?

Errado. Porque o Chelsea não é o Tottenham, nem o Southampton.

A torcida do Chelsea está acostumada a figurar entre as primeiras posições e disputas de título. E, pelo menos de acordo com o que é publicado na imprensa inglesa, o objetivo do novo dono Todd Boehly era, no mínimo, voltar à Champions League.

Parece contraditório pedir isso a um treinador que ainda não tinha ficado à frente de um time de primeira prateleira na Inglaterra e que, o tempo todo, faz questão de frisar em entrevistas que seu trabalho é um projeto de longo prazo.

Some isso ao fato de o Chelsea ter gastado 464,1 milhões de euros (quase R$ 2,5 bilhões) na janela de transferências do meio de 2023, sendo boa parte desse valor usado para trazer jogadores jovens. De fato, trabalhar com os mais novos é um dos pontos fortes do argentino. Mas será que essa é a realmente a combinação para levar um time em construção de volta aos campeonatos europeus em um torneio com equipes bem mais consolidadas, já na sua primeira temporada?

Chelsea
Disasi, zagueiro do Chelsea (Foto: Icon Sport)

Pochettino não tem “pulso”

Prometi que não iria cair no argumento de que “Pochettino é fraco” e não irei. Mas uma coisa há de se convir: o argentino não tem “pulso” dentro do vestiário. Dá para elencar inúmeros exemplos de situações em que o técnico deveria ter chamado a responsabilidade e exercido sua autoridade como comandante de uma equipe para fazer as engrenagens girarem.

Vamos começar pelo PSG. Não tenho a menor dúvida de que dirigir um vestiário com Neymar, Mbappé e Messi, lidando com a megalomania de uma diretoria que não enxerga o tamanho do clube, seja difícil. Porém, em nenhum momento, o Paris passou a impressão de que Pochettino mandava em alguma coisa ali dentro.

Agora, já no Chelsea, é evidente que tendo uma equipe tão jovem, seja importante eleger jogadores mais experientes para liderar em campo. Mas, ao invés de deixar a braçadeira com Thiago Silva — o nome perfeito para assumir essa função –, Pochettino preferiu colocar nomes de vários jovens como prioridade na fila depois de Reece James.

Chelsea jogadores
Jogadores do Chelsea se unem antes de jogo. Foto – Icon Sport

Mais recentemente, vimos mais uma vez, Pochettino deixando a cargo dos jogadores uma escolha importante num momento de tensão em campo. Nas quartas de final da Copa da Inglaterra, contra o Leicester, mesmo com Palmer melhor no jogo, Sterling decidiu cobrar uma importante falta que poderia colocar o Chelsea de volta no jogo.

Pochettino poderia intervir, mas conforme o próprio disse na saída de campo, essa é uma decisão que prefere deixar para seus atletas. Resultado: o camisa 7 isolou a bola e complicou ainda mais os Blues na partida.

Houve ainda a situação na final da última edição da Copa da Liga Inglesa, quando o Chelsea estava com “a faca e o queijo na mão” para levar o título diante de um Liverpool cheio de desfalques e com jogadores extremamente jovens em campo.

Ao invés de dar aquele “empurrãozinho” para a equipe usar sua superioridade e finalmente acertar uma das dezenas de finalizações, o treinador revelou em coletiva que preferiu esperar a partida ir para os pênaltis. A estratégia não poderia ter dado mais errado: os Reds se sagraram campeões com um gol de Van Dijk aos 12 minutos do segundo tempo da prorrogação.

Fica para a próxima temporada?

Apesar de tudo, não dá para dizer que o trabalho de Pochettino é um fracasso total. É impossível fazer uma análise justa sobre seu desempenho sem levar em consideração as lesões que afetaram a equipe desde o início da temporada. E, claro, há pontos positivos para a torcida celebrar, como a consolidação de Palmer como melhor atleta do time nesta temporada. Ainda assim, há de se convir que o argentino não faz um trabalho consistente.

A pergunta que fica é: Pochettino deve permanecer no Chelsea?

Tudo vai depender da situação financeira do clube, do quanto o elenco e a diretoria confiam no argentino e o mais importante: do nível de paciência da torcida. A minha, por sinal, já teria acabado desde o anúncio de sua contratação.

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Pochettino no Chelsea (Foto: Icon sport)
Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.