O governo do Reino Unido confirmou nesta quinta-feira (23) a criação de um órgão regulador independente para o futebol do país. A medida, que surgiu a partir do protesto de torcedores em 2021, promete melhorar a fiscalização em cima de novos donos de clubes ingleses, de modo a proteger suas identidades e evitar falências repentinas.
A princípio, o regulador será aplicado às cinco principais divisões do futebol masculino na Inglaterra, além de uma revisão paralela que deve contemplar o futebol feminino. Ele estabelece cinco objetivos principais:
- Fazer novas análises e avaliações para potenciais interessados a serem donos e diretores de clubes;
- Impedir clubes de se juntarem a competições como a Superliga;
- Dar mais poder para os torcedores impedirem mudanças de identidade dos clubes, como no escudo, cores e nomes;
- Revisar os critérios de visto para atletas vindos do exterior.
A iniciativa acontece num momento em que os fãs de futebol inglês estão cada vez mais acostumados com o investimento exterior nos clubes locais. Entre os maiores times do país, apenas o Tottenham pertence a um britânico. A imprensa inglesa tem noticiado sobre a suposta venda de Manchester United e Liverpool para bilionários do Catar. Além deles, há os casos mais famosos, como a aquisição do Manchester City por investidores do Emirados Árabes Unidos na década passada e a mais recente venda do Newcastle para o fundo saudita ligado à família real do país.
Critérios mais rigorosos
Até o momento, é a Premier League quem avalia as condições de investimento nos clubes da primeira divisão inglesa. A English Football League (EFL) faz o mesmo para segunda, terceira e quarta divisões, enquanto a Football Association cuida da quinta divisão. O novo regulador irá complementar os testes já existentes, com uma exigência maior sobre fontes de riqueza e planejamentos financeiros a longo prazo.
O governo diz que o novo órgão “protegerá clubes e seus torcedores de donos sem escrúpulos” como nos casos das falências financeiras de Derby County, Bury e Macclesfield Town.
— A introdução de um novo regulador independente do futebol fortalecerá nossa incrível pirâmide, dando aos investidores, torcedores e comunidades confiança na governança de nossos clubes, permitindo que eles prosperem nas melhores ligas do mundo. Futebol não é nada sem os torcedores, e o anúncio de hoje garante que eles permanecerão assim enquanto o esporte cresce aqui e no exterior — disse Tracey Crouch, membra do Parlamento britânico.
O novo regulador também introduzirá um novo sistema de licença para clubes que estão abaixo da quinta divisão, exigindo que os potenciais investidores demonstrem “um negócio financeiro saudável e boa governança corporativa”.
Regulador deve enterrar a Superliga
Com o objetivo de impedir que clubes ingleses se juntem a outras ligas, o novo regulador independente também deve enterrar de vez a ideia da Superliga europeia. A competição, que chegou a ser anunciada no começo de 2021, juntaria os principais clubes da Europa num campeonato de pontos corridos, que poderia substituir, de forma elitizada, as ligas nacionais.
Na época, o Big Six participou da iniciativa. Mas eles também foram os primeiros a desistirem após os protestos dos próprios torcedores – hoje, entre os 12 primeiramente envolvidos, só Real Madrid, Barcelona e Juventus seguem defensores da ideia.
Mesmo após o fracasso da Superliga, o episódio foi o estopim para a demanda popular, vinda de torcedores britânicos, que culminou na criação desse regulador independente.
Agora, o órgão terá o poder de impedir clubes ingleses de se juntarem a esse tipo de competição que, no critério do governo, “prejudique os campeonatos nacionais”. A promessa é de que os fãs também tenham um envolvimento maior na gestão dos clubes, com a possibilidade de barrar mudanças em nomes, escudos, cores ou uniformes. A aprovação do regulador também será necessária em caso de venda ou mudança de estádio.
De olho no futebol feminino
O mesmo anúncio prevê a publicação de um regulador para o futebol feminino do país ainda em 2023. O processo está sendo liderado pela ex-jogadora da seleção inglesa Karen Carney.
A ideia é que o regulador também ajude o futebol feminino a crescer estruturalmente na base e na elite, além de melhorar sua sustentabilidade financeira. A Federação Inglesa (FA) chegou a anunciar no ano passado que deve criar uma empresa particular para gerir a Women's Super League e o Women's Championship, as primeiras e segunda divisões inglesas do futebol feminino.
Premier League concorda com iniciativa
The #PL recognises the case for change in football governance and will carefully consider the Government’s plan to make football a government-regulated industry
Fan-Led Review ➡️ https://t.co/jtYf1Dr1aM pic.twitter.com/pvYGMeUUfp
— Premier League (@premierleague) February 23, 2023
A Premier League afirmou, através de comunicado à imprensa, que está de acordo com a iniciativa do governo britânico. O documento divulgado pela entidade afirma que o momento é “significativo na história do futebol inglês” e que “seus clubes agora irão cautelosamente considerar os planos do governo para que a Inglaterra se torne a primeira grande nação onde a indústria do futebol é regulada pelo governo”.
A Premier League reconhece o momento de mudança na governança do futebol e continua implementando regulações cada vez mais fortes e independentes.(…) Nós apreciamos o compromisso do governo em proteger o contínuo sucesso da liga. É vital que a regulação não prejudique o jogo que os torcedores amam assistir ou a habilidade de atrair investimentos e crescer o interesse no futebol britânico, diz o comunicado.
O documento também diz que o regulador não deve afetar a posição da PL como o campeonato nacional mais assistido do futebol mundial, e que a liga também está comprometida em trabalhar com a EFL e a FA por um jogo financeiramente melhor distribuído, controlado e organizado.
