Com fortes relatos, novas vítimas acusam jogador da Premier League de estupro

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Um jogador da Premier League, cuja identidade tem sido preservada por motivos legais, foi acusado de violência sexual por mais duas mulheres na Inglaterra. O caso se tornou público em julho de 2022, quando ele foi preso pela primeira vez. Agora, já são cinco pessoas diferentes acusando-o de estupro.

As supostas cinco vítimas deram uma entrevista ao site da “BBC”, trazendo fortes relatos de como elas se sentiram negligenciadas pela Premier League e a Associação de Futebol da Inglaterra (FA), já que o atleta continua atuando normalmente em seu clube.

O jogador foi preso pela primeira vez em julho de 2022 após ser acusado de estupro por duas mulheres entre abril de 2021 e junho de 2022. Depois de ser detido, uma terceira mulher o acusou de agredi-la sexualmente em fevereiro de 2022.

O atleta foi entrevistado pelas autoridades e, em seguida, foi libertado sob fiança policial em agosto de 2022. No momento, ele está sob investigação.

Por questões jurídicas, a identidade do atleta não pode ser revelada por veículos de imprensa da Inglaterra. No Reino Unido, os suspeitos detidos têm direito à privacidade até que a polícia decida apresentar acusações contra eles.

Premier League, FA e clube teriam negligenciado vítimas de abuso

As duas primeiras denunciantes, chamadas Leah e Kira, afirmam à BBC que foram estupradas e sofreram com “comportamento controlador” por parte dele. “Ficou claro que ele se achava tão importante que você não podia dizer ‘não’ para ele”, contou Kira, que foi a segunda mulher a denunciá-lo.

Kira contou que, depois de ir à polícia pela primeira vez em agosto de 2021, ela enviou um e-mail à FA, à Premier League e ao clube sobre suas alegações no mês seguinte. Ela estava preocupada com o fato de ele continuar jogando em uma equipe tão importante enquanto ainda era investigado. As respostas de cada uma das entidades não foram nenhum pouco positivas.

Segundo a suposta vítima, o clube disse que “não poderia discutir suas alegações por motivos legais”. Mas, pouco depois, ela viu uma publicação nas redes sociais do time celebrando algum feito do jogador.

Já a Premier League direcionou-a a ir falar diretamente com a FA sobre o caso. Kira diz que essa foi a resposta que a deixou mais chocada. Depois de quatro meses do email, a FA respondeu “não poderia tomar nenhuma atitude”, uma vez que o alegado comportamento do atleta não violava os regulamentos da entidade.

Além disso, a FA afirmou que “não havia evidências” que sugerissem que o jogador “representa um risco de danos a crianças ou adultos em vulnerabilidade” e ainda mandou um documento chamado “Política de proteção às crianças no futebol”, deixando claro que aquelas regras não se aplicavam ao caso dela.

Procurada pela BBC, a FA relatou que acredita que o pedido de Kira foi tratado de forma adequada.

— Eles se esconderam atrás da sua falta de políticas, embora soubessem que os regulamentos que estabeleceram se destinavam a proteger os lucros e não as vítimas — relatou Kira.

logo Premier League
Logo da Premier League (Foto: Icon Sport)

“A decisão do clube e das entidades me fez sofrer”

A terceira suposta vítima, Mia, contou como conheceu o jogador. Eles começaram a conversar depois de ele ter mandado uma mensagem para ela no Instagram, em fevereiro de 2022. Ela visitou a casa dele com amigos, local onde alega que foi abusada sexualmente.

Mia fez a denúncia à polícia em julho de 2022, depois de descobrir que um jogador de futebol havia sido preso por estupro e imaginar que poderia ser ele. À BBC, ela diz que “isso a fez sentir menos medo de se apresentar, pois sentia que não estava sozinha”.

Ao saber da fala de Kira sobre as respostas recebidas do clube e das entidades de futebol, Mia contou que se o atleta não estivesse mais jogando em seu clube quando ele mandou a mensagem para ela, isso poderia ser um sinal de alerta para que ela recusasse o convite dele.

— Se eles tivessem decidido levar a sério a primeira alegação… se o tivessem suspendido, eu nunca teria ficado na situação em que estava naquele dia. A decisão deles me fez sofrer — disse Mia.

Duas novas mulheres acusam jogador de estupro

No início do ano, uma quarta mulher, Emma, relatou ter sofrido com comportamento controlador do atleta, incluindo pressão para fazer sexo. Ela o acusa de continuar o sexo à força, prendendo as suas mãos depois de ela tentar empurrá-lo porque estava com dor. Segundo a BBC, ela o denunciou à polícia recentemente.

Emma diz que quando começou a conversar com o jogador, ela ignorou os rumores de acusações contra ele porque seu clube não o suspendeu.

— Ele seguir jogando foi a única coisa que me fez pensar que (os relatos) eram falsos e não verdadeiros. Isso me passou a mensagem de que (o clube) não acredita neles e que o apoia. O que aconteceu comigo poderia ter sido evitado — contou Emma.

E uma quinta mulher, Bella, contou à BBC que o atleta a encontrou em uma festa. Ele teria prendido a vítima na cama e tentando pressioná-la a fazer sexo, enquanto estava em um quarto com outras pessoas, em abril de 2021. A reportagem do site conversou com uma outra pessoa que confirmou ter testemunhado o incidente. Dentre as cinco, Bella foi a única que não o denunciou à polícia.

Procurados pela BBC, o clube do jogador e a Premier League disseram que “não podem comentar sobre uma investigação policial em curso”.

— As nossas políticas e procedimentos de amparo nos permitem apoiar e proteger crianças e adultos em risco num ambiente relacionado com o futebol — relatou um porta-voz da FA.

Técnico denunciado por suposto estupro de menores também segue trabalhando

O técnico de um clube da Premier League também foi denunciado recentemente por estupro de uma menor idade. A denúncia foi recebida pela Polícia Metropolitana de Londres em setembro de 2021. O suposto crime, no entanto, teria acontecido “alguns anos atrás”. A vítima é descrita, hoje, como uma “mulher madura”. O acusado chegou a ser entrevistado pela Polícia na época, mas não foi detido.

A denunciante, chamada Kate, também participou da matéria da BBC. Ela contou que tinha 15 anos quando foi estuprada e levou o caso à polícia na década de 1990, mas como estava “apavorada”, preferiu prosseguir apenas se outras mulheres se apresentassem.

— Ele é um homem muito poderoso que me ameaçou e me manteve em silêncio — contou Kate.

Ela não teve mais nenhuma notícia da polícia até 2021, quando decidiu fazer a denúncia oficialmente. Ela se sentiu encorajada pelo “Me Too”, movimento de atrizes de Hollywood que decidiram denunciar abusos cometidos por homens poderosos da indústria do cinema americano.

Houve, ainda, uma outra denúncia contra este mesmo homem em 2021, feita por outra jovem que também o acusou de um abuso sexual supostamente ocorrido na década de 1990, quando ela tinha 15 anos. Porém, nada foi feito nesse caso porque a legislação inglesa diz que crimes de “relações sexuais ilícitas” ocorridos de 1956 a 2004, com vítimas femininas de 13 a 15 anos, precisam ser denunciados um período máximo de um ano.

Quando Kate descobriu que os clubes do Reino Unido tinham crianças a partir de 9 anos em suas categorias de base, ela entrou em contato com a FA e a Premier League. Apesar de estas entidades terem políticas claras relacionadas à proteção das crianças, o processo teve falhas. 

A FA respondeu a ela que, apesar das suas preocupações, Kate não será informada se alguma ação está sendo tomada, já que “normalmente não comenta publicamente sobre casos individuais”.

— Não consegui relaxar sem saber se alguma precaução foi tomada. Pelo que sei, ainda estão colocando as crianças em risco — disse Kate.

A Premier League, por sua vez, levou mais de dois meses para reconhecer seu pedido no endereço de e-mail próprio para esse tipo de assunto. A entidade alegou que ele se perdeu em sua caixa de entrada.

Uma terceira mulher, chamada Lisa, contou também que, no final dos anos 1990, foi trancada em um quarto pelo técnico enquanto ele tentava coagi-la a fazer sexo com ele. Esse episódio teria acontecido durante uma entrevista de emprego, quando ela tinha pouco mais de 20 anos, e está sendo investigado.

“Foi assustador”: torcedores perseguem e desencorajam as denunciantes

Parte das entrevistadas estavam preocupadas com a reação dos torcedores dos clubes. Essa possibilidade as deixou relutantes em falar abertamente sobre o assunto.

— Foi assustador a quantidade de pessoas dispostas a defender alguém que não conhecem, apenas porque são bons no futebol — disse Kate, que disse ter recebido, inclusive, mensagens de torcedores falando para ela cometer suicídio.

Uma outra mulher, Daisy, também contou à BBC que foi abusada por outro atleta da Premier League. Na entrevista, ela disse que tipo de comportamento online e a indiferença das autoridades do futebol são as razões pelas quais ela acha que não irá denunciar o caso à polícia.

— Se eu dissesse alguma coisa, estaria indo contra uma equipe inteira – milhões de pessoas ao redor do mundo — finalizou Daisy.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.