Pep Guardiola é um desses loucos por futebol que vivem tendo ideias maluas e trazendo coisas novas para o esporte. Em 2009 ele impactou o futebol quando escalou Lionel Messi como falso nove no Santiago Bernabéu. O conceito de um centroavante que flutua fora da área não foi criação exclusiva de Pep, mas ele trouxe de volta à tona naquele ano. Enxergou um problema que tinha e resolveu a situação com criatividade.
A Holanda de 1974 foi um marco especial no futebol nesse sentido. Rinus Michels tornou conhecidos vários conceitos diferentes no futebol. Entre eles, o falso nove de Cruyff e a marcação pressão alta.
Esse tipo de marcação é uma arma usada contra os times que constroem suas jogadas desde a defesa. E a cada nova artimanha inventada por alguém, surge algum antídoto bolado por algum outro gênio do futebol.
Formações com dois jogadores avançados eram bem comuns até o início dos anos 2000. E assim, quando alguma equipe era pressionada, seus zagueiros ficavam em igualdade numérica contra os atacantes adversários.
Isso causava problemas a equipes que saíam jogando curto. Vendo essa situação recorrente no futebol, o técnico argentino Ricardo La Volpe bolou um ótimo contraveneno: A saída Lavolpiana
A mecânica consiste no recuo de um volante entre os zagueiros, e assim, dá superioridade numérica para a equipe que tem a bola. Desse jeito, os dois atacantes não vão conseguir exercer a pressão. E então o time consegue progredir para o ataque.
PEP GUARDIOLA E OS MECANISMOS PARA SAIR PELO CHÃO
Desde que começou como técnico, as equipes de Pep Guardiola utilizam a lavolpiana para iniciar as jogadas. Ele absorveu o conceito após assistir o México, comandado por La Volpe, na Copa do Mundo de 2006 executando essa saída. Foi assim no Barcelona, no Bayern e no Manchester City.
Porém, na última temporada esse método não funcionou tão bem em algumas partidas. Especialmente contra o Liverpool. Os Reds pressionavam bem alto com três atacantes quando Ederson ia bater o tiro de meta.
Até o começo de 2019, os os defensores não podiam receber um passe dentro da grande área. Então, no tiro de meta, o goleiro teria que tocar a bola para alguém fora daquele espaço.
É por isso que o City tinha menos espaço para jogar por ali. Os zagueiros ficavam numa posição desfavorável e Ederson às vezes tinha que sair jogando com um chute longo para frente.
Este foi o antídoto que os rivais usaram para não deixar o Manchester City sair jogando do seu jeito habitual em tiros de meta. Porém, em março de 2019, a Internacional Board divulgou mudanças em algumas regras do futebol e entre elas estava essa do tiro de meta.
Agora os jogadores do time com a posse de bola podem receber dentro da grande área e o adversário não pode pisar nesse espaço até que aconteça o primeiro toque na bola.
E então, Pep seguiu a roda do futebol e criou um novo antídoto para a pressão que sofria: O City agrupa jogadores ali e agora sai tocando desde dentro de sua própria área.
SAÍDA DE BOLA EM QUADRADO
Com a mudança da regra no tiro de meta, o time com a posse de bola ganhou mais espaço no campo. Então, Guardiola começou a organizar seus jogadores em quadrado. Assim, desde o primeiro toque, sua equipe consegue ter um bom posicionamento, espaço, e mais jogadores para construir desde trás.
No confronto entre Liverpool e Manchester City na Supercopa da Inglaterra de 2019 nós já vimos esse mecanismo em ação. Com menos jogadores que o adversário e uma área maior para cobrir, os Reds não conseguiram pressionar tão efetivamente. Por mais de uma vez a tática funcionou. E então Rodri saía tranquilamente com a bola dominada rumo ao ataque.
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Assim como foi a pressão alta da Holanda e a lavolpiana de La Volpe, a saída em quadrado é mais uma evolução do jogo. Pep Guardiola identificou um problema, e amparado em novas regras, criou uma solução.
É possível que, daqui algum tempo, outros técnicos descubram um novo antídoto para essa saída de bola do City. Mas é assim que o futebol vai acontecendo e se desenvolvendo, para a sorte de quem assiste e acompanha.