Norwich: a epopeia na Copa da Uefa 1993/1994

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Na temporada 1993/1994, o Norwich City viveu momentos de glória ao disputar pela primeira e até agora única vez em sua história, uma competição europeia: a Copa da Uefa.

Campanha além das expectativas em 1992/1993 na Premier League

Na primeira edição da Premier League com a nova nomenclatura, os Canários chegaram com perspectivas de luta contra o rebaixamento, após uma 18ª colocação na temporada anterior. Vale lembrar que 22 equipes disputavam a competição e o time ficou apenas três pontos acima do primeiro rebaixado, o Luton Town.

Para a temporada de estreia da Premier League, a equipe de Norfolk promoveu o treinador Mike Walker, que estava no comando das categorias de base do clube. O time contratou apenas três jogadores (Mark Robins do Manchester United, Gary Megson do Manchester City e Efan Ekoku do Bournemouth), totalizando cerca de 1,3 milhões de libras.

Porém, a grande desconfiança vinha após a venda do principal jogador do clube nos últimos anos: Robert Fleck, que chegou ao Chelsea após transferência recorde para os Canários (cerca de 2,1 milhões de libras). A transferência foi repleta de polêmica na época e o jogador, que é tio do meio-campista do Sheffield United, John Fleck, não repetiu o bom desempenho nos Blues.

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Ben Radford Allsport Getty Images

Com uma vitória no lendário estádio de Highbury por 4 a 2 diante do Arsenal, a equipe iniciou sua trajetória na temporada 1992/1993. O time ficou marcado por uma mentalidade ofensiva pregada pelo novo treinador, mas também por ser uma equipe que sofria muitos gols.

Foram 65 gols sofridos e 61 marcados, com 21 vitórias, nove empates e 12 derrotas nas 44 partidas da temporada, totalizando 72 pontos que renderam uma inesperada 3ª colocação para o clube e classificação para a Copa da Uefa 1993/1994. Mark Robins, recém-contratado, foi o artilheiro da equipe na Premier League com 15 gols.

A zebra verde-amarela que apareceu no Estádio Olímpico de Munique

Um dos grandes desafios do clube era conciliar na temporada 1993/1994, quatro competições: Premier League, Copa da Uefa, Copa da Liga Inglesa e a Copa da Inglaterra. O início da caminhada europeia dos Canários foi uma vitória maiúscula diante do Vitesse, da Holanda, por 3 a 0. Com o 0 a 0 na volta, o time se classificou a segunda fase da competição, onde iria encarar ninguém menos que o Bayern de Munique.

A partida de ida seria na Baviera, no dia 19 de outubro. Três dias antes, o time conseguiu uma ótima vitória diante do Chelsea pela Premier League, jogando fora de casa, mas as perspectivas para o jogo eram nada animadoras para os Canários.

A grande maioria da imprensa colocava o Bayern como amplo favorito. Alguns jornalistas falaram que poderia ser uma goleada histórica diante do modesto Norwich. O treinador Mark Walker se mostrou tranquilo e otimista para essa partida, mesmo com as declarações da mídia.

O Norwich foi a campo em um esquema inusitado. 1-3-4-2, onde Ian Culverhouse fez uma espécie de líbero, tal qual Lothar Mathäus vinha fazendo no Bayern. Além disso, a estratégia dos Canários era acionar o ala esquerdo Mark Bowen.

Aos 12 minutos de jogo, após lançamento do zagueiro Newman, Matthäus afastou mal para o meio da área e Goss acertou belo chute, sem chances para o goleiro Aumann. Era o primeiro gol do Norwich em competições europeias, jogando fora do Carrow Road. Porém, aos 15 minutos, uma lesão obrigou Mark Robins a ser substituído e o time perderia assim sua grande esperança ofensiva.

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Aos 30, após falta no meio-campo, Ian Crook cruzou para a área e coube a Mark Bowen aparecer como elemento surpresa para cabecear para o gol e ampliar a vantagem. Novamente, a defesa do Bayern errou na marcação e esqueceram do ala, que apareceu livre na área.

Os bávaros descontariam aos 40 minutos com Nerlinger. Porém, o Norwich cadenciou o resultado graças a grandes defesas de Bryan Gunn (pai do goleiro Angus Gunn, do Southampton). Foi a primeira e única vitória de uma equipe inglesa no Estádio Olímpico de Munique, que foi a casa do Bayern até a inauguração da Allianz Arena em 2005.

Na volta, em Carrow Road, o Bayern abriria o placar com Adolfo Valencia, porém, novamente Jeremy Goss deixava sua marca diante dos alemães. O Norwich havia se classificado diante de um gigante do futebol europeu, em uma das maiores zebras da história da competição.

Eliminação para Internazionale, saída de Mike Walker e rebaixamento

Ian Crook Norwich Inter Milan Bergamp Copa da Uefa 1993 Shaun Botterill Getty Images Sport
Shaun Botterill Getty Images Sport

Na terceira fase, o Norwich enfrentou a Internazional. A equipe foi derrotada por 2 a 0 no agregado, com duplo 1 a 0, tanto na Inglaterra como na Itália. A equipe italiana se sagraria campeã da competição vencendo o Austria Salzburg (atual RB Salzburg).

Walker foi demitido em janeiro de 1994 após desentendimentos com a diretoria. Os Canários terminaram o Campeonato Inglês na 12ª colocação, com 53 pontos, 12 vitórias, 17 empates e 13 derrotas.

Em 1994/1995, o Norwich foi rebaixado para a segunda divisão, retornando para a elite apenas na temporada 2004/2005, quando novamente caíram de divisão. O time passou pelo pior momento de sua história recente quando foi rebaixado a League One (Terceira Divisão) na temporada 2008/2009, voltando a segunda divisão no ano seguinte.

Muitos dos jogadores do Norwich que estiveram presentes nessa partida diante do Bayern, integram o Hall da Fama do clube. Ian Culverhouse, Mark Bowen, Ian Crook e Chris Sutton também a equipe ideal de todos os tempos do clube.

Bruno Bezerra
Bruno Bezerra

Apaixonado por futebol inglês e feminino. Colaborador da Southampton Brasil.