Canedo: O meu temor é ver Neymar desistir

As palavras escolhidas por Neymar após o diagnóstico da lesão mais grave da sua carreira indicam uma encruzilhada. Ele descreveu o momento como o “pior” e citou que vai precisar ainda mais dos amigos e família. Nas entrelinhas, é como se fosse possível ler o pedido por socorro.

O craque encerrará 2023 com apenas 17 partidas disputadas, o menor número desde que surgiu no Santos. Ele não ultrapassa a barreira dos 50 jogos num ano desde 2017, quando começou a sofrer lesões relevantes, ainda pelo Paris Saint-Germain.

Agora ficará, pelo menos, seis meses fora. Na melhor das hipóteses, voltará aos treinos no fim de março, perdendo praticamente toda a temporada com o Al Hilal e possivelmente a Copa América com a seleção brasileira. Mas a tendência é que esse processo leve até mais tempo por ser a primeira lesão grave no joelho.

Neymar terá, então, um novo recomeço no segundo semestre de 2024. O cenário que se apresenta é o seguinte: ele estará com 32 anos, com a vida mais do que resolvida, filha pequena recém-nascida e certamente exausto física e mentalmente das incontáveis sessões de fisioterapia. Daí não é absurdo imaginar que coisas passem pela sua cabeça…

Tentando se colocar em seu lugar, é difícil passar por todo esse processo sem questionar os propósitos e as consequências. Neymar perdeu em explosão nos últimos anos, embora a genialidade esteja intacta. O seu jogo já vem sendo adaptado desde que chegou ao PSG e, nos últimos compromissos pela seleção, foi o “10”. Não é isso que me preocupa, pois Neymar tem vaga enquanto o Brasil não produzir mais dois craques da mesma posição.

O meu temor é ver Neymar desistir.

E não me refiro a se aposentar, mas perder o faro de competitividade que o moveu até aqui. Ele também escreveu: “Fé, eu tenho até demais. Mas a força eu entro nas mãos de Deus para que ele possa renovar as minhas”. Tudo indica que essa recuperação não será fácil.

E aí, juntando todos os fatores, é inevitável pensar no que poderia ter sido. E, por favor, não me entendam mal: Neymar é um não-centroavante com mais de 400 gols em jogos oficiais, um número alcançado mesmo com tantas lesões e invejável para diversos atacantes renomados.

Se ele não cumpriu com todas as expectativas é porque a régua sempre foi muito alta. Ainda assim, conquistou Libertadores e Liga dos Campeões, Copa das Confederações, Olimpíadas (todas como um protagonista), foi por duas vezes um dos três melhores do mundo (atrás apenas de Messi e Cristiano Ronaldo, o que é absolutamente natural), é até hoje a transferência mais cara do futebol… O currículo não cabe neste texto.

Tecnicamente, firmou-se como um dos melhores dribladores, passadores e finalizadores da sua geração (unir os três quesitos é para exceções das exceções). Mais novo, ainda arrancava com a bola grudada no pé deixando marcadores sem reação.

Neymar tinha muitos argumentos para ser um dos maiores do jogo. Que ele ainda consiga voltar para escrever as bonitas páginas que faltam e nos deixar outras sensações.

Neymar comemora gol pela seleção brasileira na Copa do Mundo - Foto: Icon Sport
Neymar comemora gol pela seleção brasileira na Copa do Mundo – Foto: Icon Sport
Victor Canedo
Victor Canedo

Victor Canedo trabalhou por 12 anos como repórter de futebol internacional no Grupo Globo. E até hoje mantém o hábito de passar as manhãs e tardes dos fins de semana ouvindo a voz de Paulo Andrade. Para equilibrar a balança dos colunistas deste site, é torcedor do Arsenal desde Titi Henry.