Newcastle 4×4 Arsenal: a maior reação já vista na Premier League

3 minutos de leitura

Conhecida por seus jogos incríveis e reações espetaculares, a Premier League teve uma partida inesquecível no dia 5 de fevereiro de 2011: Newcastle 4×4 Arsenal. No entanto, ninguém estava preparado para o que aconteceu.

Em duelo válido pela 26ª rodada do certame, o Newcastle recebeu o Arsenal e entrou para história com uma reação de tirar o fôlego e fazer o St. James' Park explodir.

É bem verdade que os torcedores do Newcastle tinham poucos motivos para comemorar na temporada 2010/2011. Isso porque a equipe tinha acabado de voltar da Championship e já enfrentava uma crise nos bastidores sob a, até então, recente administração de Mike Ashley. A venda de Andy Carroll para o Liverpool revoltou a torcida.

Em campo, os resultados eram dentro do esperado para uma equipe que tinha acabado de subir. Meio de tabela e com uma certa folga em relação a zona de rebaixamento. Já do outro lado, sob o comando de Arsène Wenger, o Arsenal estava no topo da tabela e brigava pelo título inglês. Todo esse cenário levava a crer que o jogo seria fácil para os Gunners.

Newcastle 4×4 Arsenal, um jogo inesquecível

E quando a bola rolou, essa expectativa se concretizou muito rapidamente. Foram necessários apenas 41 segundos para que Theo Walcott abrisse o marcador para os visitantes. Dois minutos depois, Johan Djourou ampliou de cabeça. Aos 10, Walcott encontrou Van Persie, que finalizou para o fundo das redes.

Com menos de 15 minutos, o Newcastle já estava perdendo por incríveis 3 a 0. E o cenário piorou. Aos 26, Sagna encontrou Van Persie completamente livre para o holandês ampliar o placar em acachapantes 4 a 0. Um vareio de bola que deixou tanto o Newcastle quanto sua torcida completamente atordoados e sem reação.

Richard Heathcote/Getty Images

“Estava deitado e pensando: ‘Isso só pode ser um sonho'. Eu me lembro que o quarto gol foi aos 26 minutos e só conseguia pensar: ‘Nós precisamos do intervalo'”, se lembra Steve Harper, goleiro do Newcastle na partida, em entrevista para o Chronicle.

Jose Enrique, um dos defensores do Newcastle, também falou sobre a partida para o Chronicle. “Eu estava com raiva no campo. Nós tínhamos vencido o Arsenal por 1 a 0 no Emirates, então sabíamos que eramos melhores que aquilo, mas não conseguíamos acompanhar eles. Não conseguíamos marcar e só corríamos atrás deles pelo campo. Isso era humilhante.”.

Leia mais: Saka: a promessa do Arsenal já é realidade?

Esses relatos acabam comprovando que ninguém, nem mesmo os jogadores, estavam entendendo o que tinha acontecido. Para alívio de todos, no entanto, o time conseguiu segurar o 4 a 0 e a partida, enfim, foi para o intervalo. Era o que o Newcastle precisava.

Nos vestiários, coube ao então treinador dos Magpies, Alan Pardew, levantar o ânimo da equipe. Se engana quem acha que o treinador ficou com raiva e explodiu. Pelo contrário. Pardew soube usar as palavras certas do jeito certo. Pardew destacou as responsabilidades dos jogadores, sobre seus familiares que estavam vendo o jogo, sobre respeitar a camisa do Newcastle e, acima de tudo, os torcedores.

O discurso inflamou o time de uma forma que a magia começou a tomar conta do St. James' Park no retorno do vestiário. As arquibancadas perceberam que algo estava diferente. Como se a torcida estivesse pressentindo que algo estava prestes a acontecer. Logo aos cinco minutos da segunda etapa, Abou Diaby e Joey Barton se estranharam e o jogador do Arsenal foi expulso.

Era o que o Newcastle precisava para acordar de vez. Com outra atitude em campo, o time começou a pressionar o Arsenal e a torcida foi se inflamando cada vez mais. Aos 22 minutos, Laurent Koscielny derrubou Leon Best na área. Pênalti para o Newcastle. Na cobrança, Barton diminuiu.

Seis minutos depois, Barton encontrou Best, que dominou, girou e bateu pro fundo das redes. O gol, no entanto, foi anulado de forma errada pela arbitragem. Mas isso não foi problema. No minuto seguinte, Best tentou cabecear e a bola acabou sobrando nos seus pés. Na pequena área, ele não titubeou: Arsenal 4 a 2 Newcastle.

Com um jogador a mais e faltando pouco mais de 15 minutos, o St. James' Park virou um inferno para o Arsenal. Os dois gols ressuscitaram, de vez, o Newcastle e a torcida. A pressão continuou de forma assombrosa. O terceiro gol parecia inevitável, mas demorou a sair.

O relógio marcava 37 minutos quando Phil Dowd viu outro pênalti a favor do Newcastle. Na cobrança, Barton, de novo, bateu e fez: Arsenal 4 a 3 Newcastle. E o impossível tornou-se realidade. Aos 42 minutos, após cruzamento, a bola sobrou para Cheick Tioté. O marfinense não pensou duas vezes e chutou de primeira, do jeito que a bola veio. Bola no fundo da rede. Golaço. Euforia.

GRAHAM STUART/AFP via Getty Images

Leia mais: Newcastle 3×2 Barcelona: hat-trick de Asprilla e a noite mágica para os Magpies

Pela primeira e única vez na história da Premier League, até aqui, um time conseguiu reagir após estar perdendo por quatro gols de diferença e pontuar na partida. De forma absurda. Histórica. E só não foi mais histórica por centímetros. Isso porque após o empate, Nolan ainda teve a chance de virar a partida, mas o chute foi para fora.

Ao apito final, no entanto, só restavam motivos para comemorações alvinegras. Até hoje, Jose Enrique ainda se lembra bem da partida.

“Após aquele jogo, nada parecia impossível no futebol para mim. Quando o Leicester ganhou a liga foi a mesma magia. É por isso que amamos o jogo. Nós celebramos nos vestiários. Éramos irmãos. Quando você passa por algo parecido, fica mais forte.”

Quase uma década depois, Newcastle 4×4 Arsenal continua vivo na memória dos torcedores. Recentemente, inclusive, os Magpies retransmitiram, em seu canal oficial no YouTube, a partida na íntegra e deixou disponível para que todos possam assistir quando quiser. Não há dúvidas de que o jogo é um dos maiores da década da Premier League.

Guilherme Batista
Guilherme Batista

Apaixonado pelo futebol e suas nuances, cresci nas arquibancadas e carrego essa paixão comigo não importa onde esteja. Não há, no mundo, invenção melhor que o futebol.