‘Não pode tratar jogador como marionete’: Casemiro recorda Copa América polêmica no Brasil em meio à pandemia

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Há dois anos, quando o Brasil passava por um dos piores momentos da pandemia de covid-19, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e governo federal acharam uma boa ideia trazer a Copa América para o país. A polêmica foi relembrada por Casemiro, que jogou o torneio pela seleção brasileira.

Na época, a competição estava para acontecer na Argentina e Colômbia. O primeiro desistiu por conta da situação sanitária, e o segundo pelos caóticos protestos sociais que tomaram conta do país. A solução, então viabilizada pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo, e o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, foi levar às pressas o torneio para o maior país do continente.

O problema é que os campeonatos — a maioria ainda sofrendo as consequências da paralisação por conta do vírus — não pararam, o que obrigou CBF e Conmebol a utilizarem estádios alternativos. Além, é claro, da falta de estrutura para receber delegações de 11 países em pleno colapso sanitário. O número de mortos pela covid-19 beirava os 500 mil.

Casemiro: “Era só uma questão de respeito”

Casemiro, hoje no Manchester United, lamenta que a discussão tenha ido para o “lado político” e reclama que os jogadores da Seleção foram tratados como marionetes no episódio.

— [A discussão] foi para o lado político, algo que não tinha nada a ver com a história. O lado era humano, só isso. O mundo estava numa pandemia e a seleção brasileira arrasta multidões. A Copa América foi cancelada na Argentina por causa da pandemia, sendo que o Brasil estava num momento até pior da pandemia. Era só uma questão de respeito. Muda em questão de dias e o jogador não tem opinião? Nós temos familiares que nos acompanham, poderia acontecer algo com eles. Você não pode tratar o jogador como marionete — desabafou o jogador em entrevista exclusiva à revista “Placar”.

Casemiro foi um dos poucos a se pronunciar na época da polêmica. Dias antes da competição começar, o volante declarou que os atletas não poderiam falar sobre o assunto, embora “todo mundo saiba o nosso posicionamento”.  

— A estrutura não foi boa, os campos não estavam preparados, os hotéis. Se eu fico numa bolha, trancado quarenta e poucos dias, comida boa, jogo e volto, não teria problema. O problema era o entorno. Nos acusavam de não querer jogar, mas não era isso, tanto que nós jogamos. Em momento algum nós dissemos que não queríamos jogar. O que não queríamos era sermos marionetes de uma competição, que sai daqui, vai para lá. Como se pode preparar uma Copa América em três dias? — indagou ele, dois anos depois.

Brasil não reclamou publicamente da Copa América e perdeu a final para a Argentina

Nenhum jogador se manifestou abertamente contra a realização da Copa América, e tampouco fez Tite ou o então coordenador da Seleção, Juninho. O Brasil acabou derrotado pela Argentina de Messi na final, no Maracanã com público limitado de cinco mil pessoas.

Quem também se pronunciou sobre o assunto nesta semana foi Juninho, em entrevista exclusiva para o “ge”.

— Tinha aquela questão da desistência de um país, a indefinição de onde iríamos jogar e, em cima da hora, o Rogério [Caboclo] tentando trazer essa Copa América para o Brasil no momento pandêmico complicado. E com opiniões diversas dos jogadores, da própria comissão técnica. Esse elo entre a parte técnica e a parte administrativa eu também sofri um pouco para falar com o Rogério, para resolver essa situação. Foi uma parte bem complicada — declarou o ex-coordenador.

Diogo Magri
Diogo Magri

Jornalista nascido em Campinas, morador de São Paulo e formado pela ECA-USP. Subcoordenador da PL Brasil desde 2023. Cobri Copa América, Copa do Mundo e Olimpíadas no EL PAÍS, eleições nacionais na Revista Veja e fui editor de conteúdo nas redes sociais do Futebol Globo CBN.

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