O menino Matheus não pareceu sentir tanto a distância da família e a brusca mudança de clima depois de atravessar mais de 3 mil km, de João Pessoa, na Paraíba, até Curitiba, no Paraná. Aos 14 anos, após ser observado por um olheiro do Coritiba, fez a longa viagem pelo Brasil, abraçado no sonho de tantos meninos brasileiros de ser um jogador de futebol. Logo no primeiro teste realizado no Coxa, foi aprovado.
— Era um jogador bem franzino mesmo. Chamava atenção porque ele era um menino pequeno e o uniforme sobrava bastante assim nele, sabe? – contou o técnico César Bueno, que treinou Matheus Cunha na base do Coritiba e hoje atua no sub-18 do Cascavel, também no Paraná.
— Nesse período da formação de um atleta, o mais importante é você compreender a projeção que o atleta vai ter. A gente tinha jogadores até mais prontos do que ele naquele momento, mas essa projeção é o que fez com que ele ficasse e ele comprovou tudo isso.
Matheus Cunha, o 10 e o 9 já na base
Matheus Cunha começou sua carreira como meia no Coritiba, e sua habilidade chamou a atenção logo de início. Enquanto mostrava sua técnica apurada e evoluía taticamente, o corpo então franzino do garoto se transformou.
Depois das férias no final daquele ano, ele voltou diferente. Deu o famoso estirão da adolescência e daí já começou a trabalhar também de camisa 9. Aos poucos, os ensinamentos táticos desenvolveram ainda mais seu futebol, e a polivalência do jovem logo deu as caras.
— Um jogador muito intenso, muito hábil, de muita mobilidade. No sub-15, ele já começou a trabalhar mais como um camisa 9, virou titular da equipe e teve muito destaque. Ele é inteligentíssimo. A parte tática foi o grande ganho dele. Isso fez grande diferença.
Essa personalidade dele fez com que, nos jogos grandes, Matheus Cunha chamasse a responsabilidade e desse conta do recado. Era nos duelos difíceis, conta o treinador, onde o jovem de grande ambição tinha maior destaque, seja como camisa 9 ou 10.
– Nessas mudanças de posições, ele se adequou muito bem. Enquanto tem alguns jogadores que sentem essa pressão, o Matheus é o oposto. Ele precisa dessa pressão, de ser o ator principal, do time focar muito nele. É o momento em que ele mais rende — analisou Bueno em tom orgulhoso.
O atacante subiu à categoria sub-20, pulou etapas e assumiu a titularidade rapidamente. Em 2017, quando o Coritiba foi convidado para participar da Dallas Cup, competição de base nos Estados Unidos, o jogador foi observado de perto pelo Sion, da Suíça. Na volta do Coxa ao Brasil, já foi negociado com o clube europeu.
Matheus Cunha é um de vários jogadores que deixaram o futebol brasileiro sem ter atuado profissionalmente no país. Do futebol suíço, se mudou para a liga alemã, onde teve grande destaque. De lá, foi contratado pelo Atlético de Madrid e, hoje, está na Premier League. Para Bueno, foi a determinação do garoto que perserverou no longo caminho até o topo do futebol.
— Matheus sempre foi um cara extremamente carismático, comunicativo, nunca passou dificuldade. Sempre teve personalidade, nunca foi o boleirão. Gostava da conversa, das brincadeiras, mas a carreira dele ele sempre levou com um nível de concentração e ambição muito alto — explicou.
Consolidado no futebol europeu, Matheus Cunha tem como maior objetivo individual hoje voltar à seleção brasileira. Ele é um dos grandes destaques da Premier League, com oito gols e três assistências em 17 jogos pelo Wolverhampton na temporada, e pode sonhar com um retorno à Amarelinha.
Tendo passado por diferentes ligas e culturas de futebol, Cunha conseguiu absorver distintas ideias e se adaptar a contextos bem divergentes. Segundo Bueno, a mentalidade do atacante tem sido o diferencial na sua carreira.
— Já faz algum tempo que eu não converso com ele, mas sempre que batemos um papo, a gente fala sobre treinamento. Isso não é algo que os jogadores normalmente gostam de fazer, né? E ele gosta muito disso. Ele não acha diferente os treinamentos do que ele teve no Brasil apesar de só ter passado pela base aqui. O que ele vê muito é a diferença de mentalidade e nível de concentração nos treinos. Ele é um cara extremamente focado —