Marcus Rashford. Dezoito anos de idade. De jogador da base do Manchester United a convocado de Roy Hodgson para a Eurocopa 2016. E tudo isso em apenas uma temporada!
Para traçarmos uma linha cronológica referente a surpreendente ascensão do jovem atacante Red Devil em sua, até então, efêmera carreira, precisamos voltar no tempo: Shrewsbury 0x3 Manchester United. Quinta fase da Copa da Inglaterra – 22 de janeiro de 2016.
Rashford não viajou com o plantel de Louis Van Gaal para a partida. Há dois dias, ele acabava de fazer uma rara atuação como titular pelo Manchester United sub-21 contra os rivais celestes da cidade. Mas o que exatamente aconteceu em Greenhous Meadow, estádio do Shrewsbury, que foi determinante para a abrupta escalada do jovem atacante inglês?
Will Keane foi o personagem central da história. Naquela partida válida pela FA Cup, o outro jovem atacante do plantel Red Devil, que vinha ganhando mais chances do que Rashford nos titulares, se contundiu aos 11 minutos de jogo e precisou ser substituído.
Se Keane não tivesse machucado sua virilha, Marcus Rashford provavelmente não teria sido convocado pelo técnico holandês a disputar o confronto da Europa League contra o FC Midtjylland, três dias depois. E não para por aí!
No aquecimento contra os dinamarqueses já em Old Trafford, Anthony Martial, que entraria em campo como titular do ataque, machucou-se no aquecimento.
Marcus Rashford foi chamado às pressas para substituir o francês no comando ofensivo. E o resto, meus amigos, virou história! O jovem atacante da Inglaterra marcou nada mais nada menos do que dois gols em sua estreia como profissional do clube!
OITO ANOS DE IDADE: TALENTO E MOTIVAÇÃO
É claro que o desenvolvimento de Rashford não começou recentemente apenas em fevereiro. Vindo de Wythenshawe, distrito localizado no sul de Manchester, o garoto foi encorajado a entrar na equipe de futebol local, o Fletcher Moss Rangers. Seu pai, Robert, havia sido técnico lá. Rapidamente Rashford começou a atrair os olhares do gigante Manchester United.
“Ele tinha apenas oito anos de idade quando chegou ao centro de desenvolvimento e nove quando integrou as categorias de base”, disse Paul McGuinness, treinador dos jovens atletas durante 24 anos no Manchester United.
“O talento era eminente. Existem jogadores que demoram para crescer, mas se você quer ser o melhor, precisar ser o melhor já com oito anos de idade. Nessa idade, Danny Welbeck e Jonny Evans estavam no topo. Isso provavelmente aconteceu com Ryan Giggs também. E esse foi o diferencial no desenvolvimento de Marcus, que chegou de forma impressionante e elegante. Além de habilidoso, ele era dedicado e curioso. Ele sempre praticava algum truque todas as vezes em que tinha oportunidade. Quando o buscavam para treinar, ele frequentemente era encontrado chutando bola nos telhados de garagens só para vê-la caindo e treinar o domínio. Quando não fazia isso, tentava acertar bolas a distância em latas de lixo”.
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A FASE DO MENINO EMBURRADO
Rashford passou um tempo emburrado nas categorias de base devido ás rápidas transformações de seu corpo.
“Esse apelido que surgiu do nada me lembra uma história interessante”, confidenciou McGuinness. “Marcus já estava a um bom tempo na base desde o início de sua jornada no futebol. Com 14 ou 15 anos, ele passou um pequeno período chateado pois estava crescendo rapidamente. Suas pernas estavam ficando maiores e ele perdia coordenação. Isso é comum no desenvolvimento dos jovens. Ele ficou realmente emburrado por não conseguir fazer as coisas que conseguia fazer quando menor. Sem falar do esforço físico cada vez maior para subir de nível. Em um dos seus primeiros jogos no sub-18, contra o Newcastle, Rashford atuava pelas pontas do gramado quando, ainda no primeiro tempo, sua linguagem corporal já o entregava: ‘Meu Deus, eu não sabia que precisava correr tanto assim!’ Ele pediu para sair, mas o mantivemos no jogo. Era um garoto de apenas 16 anos dentro de um corpo inexperiente.”
APRENDENDO A SER UM ATACANTE
Após migrar para o sub-18, Rashford treinou diretamente sob o comando de Paul McGuinness. O ex-jogador e ex-técnico das categorias de base do Manchester United também treinou Paul Pogba e Jesse Lingard. Juntos, venceram a Copa da Inglaterra sub-18 em 2011.
McGuinness e seus colegas de comissão técnica sentiram que poderiam lapidar ainda mais o talento de Rashford. Surgia ali um verdadeiro atacante…
“Ele não era obcecado por gols. As vezes jogava mais à frente, mas Rashford sempre quis ser o maestro da camisa 10. Um desperdício para alguém com tanta velocidade e habilidade. Aconteceu a mesma coisa com Cristiano Ronaldo. Quando chegou ao United, Ronaldo era todo elásticos e pedaladas, mas, com o passar do tempo, percebeu que os objetivos maiores eram mais importantes. E mudou, não é mesmo? Ele começou a marcar muitos gols e viu o quão proveitoso era ter uma mentalidade de atacante.”
A partir de então, Marcus Rashford iniciou todo um trabalho especial. Forma física, agilidade, tempo de bola, como receber um passe. Treino, treino e mais treinos.
“Naquela época, ganhamos um torneio na Alemanha diante de seis mil torcedores”, lembra McGuinness. “Colocamos Rashford para trabalhar bolas como pivô, recebendo passes de costas para a zaga adversária.”
A DECISÃO FUNDAMENTAL
Rashford sempre esteve um passe além em relação a sua idade. Quando estava prestes a ser promovido para o sub 21 – a última esquadra antes do profissional chefiada pelo comandante Warren Joyce – McGuinness e Joyce se encontraram para discutir o futuro do garoto. Ficou decidido, então, que Rashford treinaria um pouco mais antes de subir.
Collin Little e Crewe Alex, ex-atacantes profissionais, foram escolhidos para orientar Rashford a como se tornar um bom centroavante de ofício.
“Rashford precisava trabalhar com Collin a sua finalização e os seus movimentos de pivô”, explica McGuinness. “Ele iria aprender como se posicionar em relação ao zagueiro e como se movimentar nas linhas defensivas para abrir oportunidades de passe. E outros detalhes a mais. Fizemos e repetimos tantas vezes, pois ele merecia. Achávamos que ele tinha potencial para integrar a equipe profissional. Bom, agora ele pulou o elenco sub-21. Mas ainda não é um jogador pronto”.
CABE A RASHFORD DAR SEQUÊNCIA!
A partir de agora, McGuinness irá observar Rashford apenas de longe. Desde que deixou o Manchester United, o técnico está a procura de emprego. Ele espera poder usar a sua experiência como comandante em categorias de base ou até mesmo em times principais, embora ele admita que não esteja em uma posição confortável para escolher determinado tipo de trabalho.
Por hora, McGuinness aproveita a boa fase do seu pupilo Marcus Rashford.
“Foi muito gratificante vê-lo disputar a final da Copa da Inglaterra contra o Crystal Palace. Ele é uma cara muito legal e humilde. Quando deixei o United, foi o primeiro a se despedir de mim por mensagem. Rashford não chegou lá ainda. Ele ainda precisa crescer mais e ter sorte com as lesões. Mas o mais importante é que ele deu a si mesmo uma ótima base. E só ele pode dar continuidade a essa história agora. Mais ninguém”.
Matéria originalmente produzida por Simon Stone, da BBC Sport. Para conferir a versão em inglês, clique aqui.
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