Os céticos dirão que a reputação de Marco Silva é exagerada. Um título da liga nacional na Grécia e uma taça em Portugal sugerem suas credenciais, mas para alguns, isso tem sido ofuscado por um rebaixamento com o Hull City e um tempo instável no Watford.
Avaliando o trabalho do técnico Marco Silva?
Como aqueles que trabalharam com Silva avaliam o seu trabalho? Qual é o veredito daqueles que o viram nos bastidores?
O atacante Tony Taylor viu a transição de Silva de jogador para treinador no Estoril; Pajtim Kasami esteve no Olympiakos e Ryan Mason fez parte do Hull City quando o português esteve lá. Aqui, eles nos falam sobre as principais facetas do novo comandante do Everton.
Um impacto imediato
Silva terá algo para construir no Everton, mas nem sempre foi assim para ele. Herdou uma situação difícil no seu primeiro trabalho de treinador no Estoril.
Assumiu uma equipe que estava em 10º na segunda divisão portuguesa. Ele ainda conseguiu orientar o clube para a promoção.
“Eu meio que vi sua carreira como treinador começar”, lembra Taylor. “Era o meu terceiro ano lá e ele tinha sido meu capitão, mas eu saí emprestado para outro clube e o Estoril não estava indo muito bem com o Vinicius Eutropio. Quando Marco Silva assumiu, ele se lembrou de mim e acabou por mudar tudo.”
“Acabamos vencendo a segunda divisão e sendo promovidos mesmo sendo a primeira vez dele como treinador. Foi uma loucura ver como ele deixou de ser treinado e, em seguida, como um jovem técnico com sua primeira chance, acabou até ganhar o título. Mas você pode ver imediatamente como ele é um bom treinador; ele estava certo desde o início”.
No Sporting e no Olympiakos, ele herdou equipes no topo da tabela e mostrou que podia ganhar consistentemente. Mas no Hull era mais do mesmo – transformar a sorte de um time em tempo rápido.
Os Tigers estavam em uma série de 10 jogos sem uma vitória. E ai tudo mudou. Marco Silva levou o Hull a oito vitórias e um empate em seus primeiros nove jogos em casa no comando.
“Depois de algumas sessões de treinamento, ele descobriu que time seria melhor jogar da maneira que ele queria jogar”, diz Ryan Mason. “Ele olhou para o nosso time e do jeito que estávamos jogando e, provavelmente, parecia um pouco medroso às vezes. Ele começou e estava realmente confiante de que a maneira como ele queria teria um grande impacto e inicialmente o fez.”
Atenção aos detalhes
Uma das características do trabalho de Silva é sua atenção aos detalhes. Os resultados são o que define os técnicos aos olhos do público. Mas é o trabalho diário no campo de treinamento que envolve e impressiona quem está no jogo e as habilidades de Silva estão lá em cima com os melhores.
“Ele está muito atento aos detalhes”, diz Taylor. “Ele é taticamente correto e sabe onde colocar cada jogador para obter o melhor deles. Seu treinamento também é muito bom. Ele é um grande treinador em todos os níveis”. Kasami vai ainda mais longe. “Ele dedica muito tempo aos detalhes”, diz o jogador da Suíça. “Ele é muito inteligente taticamente. É como um gênio.”
Mas o que faz com que o trabalho de treinamento do português o separe de muitos de seus companheiros de profissão?
“Um dia antes do jogo ele teria a equipe pronta e você jogaria contra um time de juniores ou o XI que não estava jogando.”
“Ele andaria com o time em certas situações. Ele teria uma reposição no terço final e uma reposição para o time adversário e mostraria como espremê-los. Foi alguns detalhes que nunca vimos. Foi uma grande diferença para o que estávamos tendo, e esses pequenos detalhes podem fazer a diferença no mais alto nível da Premier League.”
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Habilidades de gestão humana
Nenhum desses detalhes importaria muito se Marco Silva não conseguisse ser respeitado, mas isso nunca foi um problema. “Imediatamente você o respeita”, lembra Mason. “Ele tinha essa aura ao seu redor. Ele era um bom homem e você precisa disso. Você precisa do respeito de seus jogadores e construir pequenos relacionamentos. Ele é relativamente jovem e está fazendo isso.”
A imparcialidade parece estar no coração de como ele é capaz de forjar esses laços com seus jogadores. Mesmo que eles não concordem com as decisões, eles entendem as razões para elas. Há clareza em seu trabalho. “A primeira coisa sobre Marco Silva é que ele é uma boa pessoa”, diz Taylor. “A segunda coisa é que ele também tem uma personalidade forte.”
“Eu acho que é muito importante se você quer ser um bom treinador, porque os jogadores precisam respeitá-lo. Uma coisa que eu notei sobre ele é que ele é muito justo. Ele coloca os jogadores certos em campo. Isso não só torna o time melhor, mas torna o grupo melhor, então todo mundo quer lutar por ele, porque ele respeita cada pessoa da equipe”.
Kasami acrescenta: “Ele aproveita o tempo para conhecer seus jogadores e é muito direto com você. Ele lida com todos da mesma forma e você sabe que, se treinar bem, terá a chance de jogar. É isso que eu gosto dele. Ele não se preocupa se você é uma estrela ou se você é um nome menor, todo mundo tem suas chances justas”.
Estilo de jogo de Marco Silva
Muitas dessas qualidades também são aplicáveis a Sam Allardyce, mas o principal diferencial para os torcedores do Everton é a espinhosa questão do estilo de jogo.
Silva está muito mais interessado em jogar um jogo progressivo e acelerado do que optar pela marca reativa implementada por Allardyce. Ele demonstrou disposição para seguir essa filosofia mesmo contra adversários fortes.
Por exemplo, o Olympiakos de Silva jogou contra o Arsenal e venceu por 3 a 2 na Liga dos Campeões em 2015.
“Nós vencemos jogando futebol, não defendendo com 10 homens atrás da bola”, lembra Kasami. “Ele tem suas idéias e nunca muda realmente dessa filosofia. Ele tem essa ideia de jogar futebol. Tivemos um tempo incrível.”
Kasami fez parte de uma equipe do Olympiakos que venceu 17 jogos consecutivos na Grécia – um recorde do clube. “Isso diz tudo. Não é a Premier League, mas foi difícil porque os adversários estavam sempre na defensiva.”
Silva encontrou um cenário totalmente diferente no Hull. Mas Mason ainda lembra que esses princípios de pressão e posse permaneceu.
Ele pediu aos seus jogadores não apenas para trabalhar incansavelmente, mas também para serem corajosos em querer recuperar a bola.
“Esse é o jeito que ele quer jogar. Ele quer que seus meio-campistas fiquem confortáveis com a bola”.
Conclusão
Silva prefere um estilo de jogo que entusiasme os fãs do Everton – mais expansivo que Allardyce, porém mais dinâmico que os antecessores Ronald Koeman e Roberto Martinez.
Ele já mostrou que seus métodos podem funcionar na Premier League. Já suas experiências na Liga dos Campeões sugerem que ele também pode lidar com os níveis mais altos de expectativa.
Como resultado, é fácil ver por que ele seria uma proposta atraente. Mesmo assim, há dúvidas. Ainda restam dúvidas sobre sua capacidade de manter um emprego à longo prazo.
Não durou mais do que uma temporada em nenhum dos quatro empregos desde que saiu do Estoril. Silva tem trabalho a fazer para mostrar que ele tem o temperamento ideal para ter sucesso no Everton.
Mas o que não deve ser uma dúvida é a sua capacidade de melhorar os jogadores e as equipes. Cada elenco com o qual ele trabalhou melhorou sob seu controle e os jogadores que trabalharam com ele testificam que isso não é um acaso.
Os torcedores do Everton têm todo o direito de ser cautelosamente otimistas de que ele possa repetir esse feito no Goodison Park.
Matéria originalmente escrita por Adam Bate, da Sky Sports