O treinador Rúben Amorim quer remodelar o Manchester United e, para isso, precisa começar a estruturar as bases, colocando os “primeiros tijolos”. Um dos passos iniciais pode ser justamente a escolha de nomes com perfis e funções semelhantes ao que teve em seu sucesso no Sporting.
Foram quatro anos de Sporting e, embora muitos jogadores tenham chegado e saído, a estrutura em campo e o modelo de jogo foram mantidos e aprimorados. Amorim mal chegou a Old Trafford, mas já é possível traçar pequenas comparações entre os dois projetos, especialmente, sobre perfis de jogadores e suas respectivas funções em campo.
A reformulação de Rúben Amorim no Manchester United
No gol, há poucas semelhanças, se comparados os dois casos. No Sporting, Amorim teve o experiente Adán, importante no primeiro título português de sua era, mas que acumulou falhas na temporada seguinte e deu espaço ao jovem uruguaio Franco Israel, que também convive com oscilações. Essa talvez seja a única posição que a diretoria leonina não deu as melhores opções de reforços para o treinador.
No United, o titular Onana foi contratado a peso de ouro, mas ainda não se firmou de forma definitiva. O camaronês se destaca pelo jogo com os pés — característica que Adán e Israel não dominam — mas, no geral, também tem convivido com altos e baixos.
A linha de defesa é onde podemos ver mais algumas comparações entre Sporting e Manchester United. Em Portugal, Amorim procurou explorar diferentes combinações no trio de zaga e isso pode ser replicado nos Red Devils.
No meio da zaga, ele aposta no veterano Harry Maguire, que tem o que é necessário para ser o que foi o uruguaio Sebastian Coates no Sporting, peça central da linha de três zagueiros, importante na cobertura e líder experiente do time. Altos, fortes e que, apesar de não serem velozes, ficam mais protegidos atuando com outros dois zagueiros.
Outra peça bastante utilizada e desenvolvida em Portugal foi o zagueiro com boa saída de bola, seja com passes que quebram linhas, seja com lançamentos precisos. Neste caso, Amorim contou com o ótimo Gonçalo Inácio e ainda tenta escolher sua “cópia” para a zaga do United.
Ainda na linha de três defensores, Amorim ora usa um trio de zagueiros de ofício, ora usa um jogador mais fluido, muitas vezes um lateral improvisado. Foi assim principalmente com o lateral-esquerdo brasileiro Matheus Reis, que foi várias vezes transformado em zagueiro. Agora, Amorim tem utilizado o marroquino Mazraoui pela direita para ser uma boa opção na construção de trás e peça importante nas transições.
Nas alas, o treinador gosta de diferentes perfis. Além de usar laterais de ofício no Sporting, como Pedro Porro, Esgaio e o próprio Reis, também adaptou pontas, de pés invertidos inclusive, como os jovens Geovany Quenda e Geny Catamo, ambos pela direita.
As opções no United não têm agradado, ainda mais com a escolha de fazer rodízio nas partidas, decisão de Amorim pensando no aspecto físico e de intensidade. O treinador ainda não tem as peças necessárias para tirar o melhor dos lados do campo.
No 3-4-3 ou 3-4-2-1 utilizados no Sporting, Amorim tem no meio dois jogadores de intensidade, qualidade no passe e importantes na trabalho com bola. O treinador teve jogadores mais no perfil destruidor (o famoso “ladrão de bola”), como João Palhinha e o próprio Manuel Ugarte, hoje no United, até outros mais completos como Huljmand e Matheus Nunes.
Nos Red Devils, a dupla ideal pode ser formada inicialmente por Ugarte e Mainoo. Amorim já elogiou Mason Mount, mas o jogador tem convivido com lesões e baixo rendimento. Esse setor pode ser reforçado na janela de transferências ao fim da temporada.
Já nas pontas ou nos meias por dentro, Rúben Amorim não é rígido. Ele trabalha e alterna entre duas opções: “meias”, mais construtores, como Trincão e Pedro Gonçalves, e/ou pontas “legítimos”, atletas mais velozes, agressivos e diretos, como Quenda, Catamo, Marcus Edwards, dentre outros.
Vale dizer que a boa atuação do Sporting no mercado de transferências nas temporadas permitiu a Amorim ter um elenco competitivo, com bom nível de atletas titulares e reservas, e polivalentes.
Aqui é um dos pontos que o Manchester United pode ter problemas. A diretoria precisará atacar setores importantes na janela para reforçar bem o elenco.
Como camisa 9, teve o português Paulinho (tanto no Braga como no Sporting), como um centroavante clássico, fixo na área, forte e imponente no jogo aéreo. Depois, Amorim ganhou o fenômeno Viktor Gyokeres, mais explosivo, dinâmico e goleador. Hojlund saiu na frente e Marcus Rashford deve ser negociado, o que pode significar uma nova ida ao mercado por um nome para assumir a vaga.
A ideia de “copiar” jogadores de perfis e funções de um modelo de sucesso para um projeto em reconstrução é uma de tantas outras decisões importantes que Rúben Amorim precisa tomar para transformar de vez o United.
Só ela não resolverá os muitos problemas do time, mas pode ser um ponto de partida. Outras tantas variáveis do jogo são igualmente ou até mais importantes para a revolução que o torcedor tanto espera ver em campo.