Quando o Manchester United escolhe jogar com losango no meio-campo uma legião de fãs comemora e vibra, principalmente quando Donny van de Beek é titular. Isso acontece porque, além do holandês ser talentoso, a torcida vê a formação como uma oportunidade de usar os melhores jogadores do time juntos.
A formação conhecida também como 4-3-1-2, 4-1-3-2 e 4-1-2-1-2, a depender da implementação, tem fundamentos muito interessantes. Por outro lado, o Manchester United não tem elenco adequado para jogar nos fundamentos táticos da formação nos parâmetros tradicionais. Além disso, a implementação do esquema por Ole Gunnar Solskjaer é curiosa e diferente.
Implementações de sucesso do losango
O losango no meio-campo é uma variante do 4-3-3. Por exemplo, a posição de primeiro volante nasceu dos primórdios da organização tática do futebol, como uma variação da posição centromédio. No 4-4-2 a posição não existe pois, idealmente, os dois meias em um 4-4-2 tem que defender e atacar. Apesar de, no Brasil, ter se convencionado a usar o termo primeiro homem como função, quando é de fato uma posição.
Depois de o 2-3-5 ter se tornado menos popular, os centromédios se tornaram zagueiros, meias defensivos e até armadores. No entanto, no 4-3-3 o herdeiro da posição é o primeiro homem. Porém uma função do primeiro homem é a dedicação à defesa ou a função tática de sair com a bola próximo aos zagueiros. Além disso, existem primeiros volantes que jogam mais perto dos zagueiros ou, por outro lado, dos meias.
No losango, a Juventus e o Milan de Massimiliano Allegri, e o também Milan de Carlo Ancelloti se destacaram com primeiros volantes que saíam jogando em uma formação losango. Andrea Pirlo e Mark Van Bommel eram organizadores a partir de trás nesses clubes.
A Itália e a Holanda sempre pregaram como filosofia esse tipo de jogador nessa posição específica. O Manchester United não conta com um jogador de meio-campo como esse no elenco. Exemplos em outros clubes desse tipo de jogador são Jorginho, Miralem Pjanic e Frenkie de Jong. Jogadores pouco físicos mas com capacidade de quebrar as linhas. Muitos enxergam Declan Rice e Eduardo Camavinga como jogadores que têm o melhor dos dois mundos.
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Da mesma maneira, os laterais também tem funções diferentes. Sobretudo, é uma formação que se utiliza quando não se tem jogadores com qualidade pra jogar aberto no ataque. Os laterais então são os responsáveis por dar esse suporte no lado do ataque. É nessa formação que os laterais ofensivos brilham.
Os laterais do United também não se encaixam nesse perfil. Não é só ter números ofensivos altos, mas tomar a decisão certa no ataque. Por exemplo, não há um ponta ou meia nessa formação pra conseguir ajudar o lateral a chegar a linha de fundo. Dessa maneira, quando o United desloca um dos dois atacantes para o lado pra ajudar nesse aspecto, imediatamente há menos gente na área.
A posição de meia atacante central geralmente varia entre um segundo atacante e um meia defensivo. No Milan, Rui Costa ou Kaká apareciam como atacantes vindos de trás. Por outro lado, Arturo Vidal na Juventus tinha que ser extremamente eficiente na defesa e no ataque para criar um meio-campo sólido com quatro meias centrais no popular desenho de diamante.
Nesse contexto, o diamante é um 4-3-3 com uma perspectiva defensiva. Onde se busca bloquear os espaços pelo meio do campo e, ao mesmo tempo, há muitas opções de passe em razão dos jogadores estarem próximos. Além disso, a posse de bola geralmente é recuperada no meio-campo. Isso gera situações de vantagem, partindo do pressuposto que a posse é recuperada no meio-campo e não na defesa.
A forma do Manchester United jogar com losango no meio-campo
Primeiramente, o intuitivo seria que o United jogasse com o losango no meio-campo para ter mais jogadores no espaço entre o meio do campo e o lado de campo, o popular half-space. Se pensamos em Nemanja Matic ou Scott McTominay como primeiro volante de marcação, analogamente esperamos que Fred, Paul Pogba ou Van de Beek ocupem esses outros espaços, como colocado abaixo.
As críticas de analistas táticos são justamente quanto a isso. O United usa, de maneira correta o losango para marcar. Com três meias bloqueando as jogadas pelo centro do campo, forçando os times a criarem jogadas apenas pelas laterais. Porém, na hora de atacar, o United tem um desenho em torre, conhecido também como 4-2-2-2.
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Os repórteres notaram o posicionamento de Pogba predominantemente na esquerda. O tecnico norueguês foi questionado no coletiva de imprensa dia 16 de dezembo de 2020, antes do jogo contra o Newcastle United, se Pogba era um meia esquerda. Parte da resposta de Solskjaer foi: “Alguns detalhes irão mudar quanto ao esquema. Se você tem Daniel James ou Paul Pogba como meia-esquerda são dois cenários diferentes. Ou Marcus na meia direita comparado a Juan Mata”.
Esse é um detalhe que mostra que Ole Gunnar Solskjaer vê os esquemas como uma maneira de variar a forma do time defensivamente, mas não a forma de ataque. Igualmente, Pogba se desloca rapidamente para o ataque na saída de bola. Dessa maneira o United não tem superioridade numérica, mesmo tendo mais meias centrais em fase ofensiva.
Outro ponto é que nem Wan-Bissaka nem Luke Shaw e, por enquanto, nem seus substitutos Timothy Fosu-Mensah e Alex Telles, têm mostrado domínio para explorar espaços na linha de fundo. Isso faz com que um dos atacantes se desloque para o lado para dar esse apoio. O que faz com que um dos principais fundamentos do losango, explorar os atacantes de maneira central, seja desvirtuado.
Mas qual o problema de jogar sempre dessa maneira?
Alguns adversários são inadequados para os Red Devils jogarem com o esquema. Por exemplo, contra equipes que jogam com 4-3-3 ofensivo, como a de Pep Guardiola, o meio fica geralmente povoado e ao mesmo tempo consegue ter amplitude. Isso deixa os laterais do losango em situação de desvantagem.
Os contra-ataques também são prejudicados, já que não há pontas e zagueiros geralmente se posicionam de maneira central. Em caso de que ambos atacantes joguem abertos, simplesmente você não terá uma referência central e o adversário terá facilidade para se posicionar para defender.
Já contra linhas compactas, o elenco precisa que ambos os laterais não tomem decisões ruins no ataque. Pois não há cobertura para a posição, o time fica suscetível a contra-ataques. Os laterais são responsáveis por toda a faixa lateral do campo e os laterais do United não têm uma boa tomada de decisão.
Por outro lado, contra times que tem dificuldade para explorar os extremos do campo, o Manchester United tem aproveitamento impressionante usando a formação. Dessa maneira, com certeza veremos variações entre 4-2-3-1 e losango em várias partidas dos Diabos Vermelhos pela Premier League ao longo da atual temporada.