O ídolo do United Paul Scholes escreveu: “Feliz por acordar com essa notícia. Pelo menos temos um pouco de continuidade e não precisamos esperar para que um novo trabalho comece a surtir efeito”. Omari Forson, de apenas 19 anos, postou: “Agradeço todas as oportunidades que você me deu de mostrar para o mundo o que você viu em mim muito tempo atrás”.
Os jovens, aliás, são sempre os que demonstram mais apreço pelo comandante. Até Alejandro Garnacho, que teve um desentendimento com o treinador no final da temporada, curtiu uma postagem que comemorava a permanência do técnico no cargo.
Estas são apenas algumas reações à notícia de que Erik Ten Hag irá continuar no Manchester United na próxima temporada. E aí volto cinco semanas no tempo, para o dia em que entrevistei o então pressionadíssimo técnico holandês no CT do clube.
Escrevi tanto nas redes sociais quanto aqui na PL Brasil, e falei no podcast Correspondentes Premier, que senti que ele ficaria no cargo, e que essa era a decisão certa a ser tomada pela diretoria. Recebi uma enxurrada de mensagens de gente que, ou não acreditava no que escrevi, ou achava um absurdo defender a continuidade do treinador.
Agora que a permanência está quase confirmada (falta uma posição oficial do clube), reforço aqui porque achava, mais de um mês atrás, que essa era a melhor opção.
Por que United acertou em manter treinador
Primeiro, vi que Ten Hag ainda era muito respeitado pelos funcionários do clube, dos mais diferentes níveis na hierarquia. Isso pode parecer besteira, mas em um gigante como o Manchester United, uma vez que as pessoas de dentro já não acreditam mais no treinador, não há como continuar o trabalho. Isso aconteceu com muitos antes dele.
Em segundo lugar, com a chegada de Sir Jim Ratcliffe e os novos dirigentes já contratados por ele, parece que finalmente o clube voltará a ter um planejamento, um projeto com início, meio e fim. Se isso realmente acontecer, agora sim o treinador pode ser cobrado por evolução, resultados, títulos.
Quem segue o Manchester United de perto, sabe que nenhum técnico do mundo conseguiria colocar ordem na bagunça. Van Gaal, Mourinho e todos os outros que vieram depois da aposentadoria de Alex Ferguson são a prova disso.
Falemos então do time, dentro de campo. É inegável que na primeira temporada sob o comando de Ten Hag viu-se evolução. Um futebol mais agudo, direto, que levou os Red Devils à terceira posição da Premier League e ao título da Copa da Liga Inglesa.
Já o segundo ano foi muito abaixo do esperado. Ao invés de melhorar, a equipe piorou. Ficou na última posição na fase de grupos da Champions League. Na Premier League, uma vergonhosa oitava colocação. Um time totalmente exposto, que sofreu assustadores 360 chutes no ano de 2024, mais que qualquer outro clube da Premier League.
Ten Hag falou esse tempo todo que o maior problema era a quantidade absurda de lesões na defesa. Ele realmente passou a segunda metade da temporada tendo que improvisar volante de zagueiro, lateral direito em esquerdo, e por aí vai.
E, no último jogo do ano, contra o todo poderoso Manchester City, ele finalmente teve dois zagueiros à disposição: Varane e Martínez. O que se viu foi uma apresentação sólida, eficiente, e o título da Copa da Inglaterra.
Em um clube sem rumo, sem planejamento, com jogadores chegando e saindo sem nenhum projeto de longo prazo, o técnico holandês conquistou duas taças em dois anos. Não se pode menosprezar o feito.
A segunda temporada teve diversos números ruins, é verdade. Saldo negativo no campeonato inglês, algo que não acontecia desde 1989/90. Pior colocação do clube na história da Premier League, fundada em 1992, e maior número de derrotas (14).
Mas, mesmo com tudo isso, ele chega ao final desses dois primeiros anos com 54% de vitórias em jogos de Premier League. Apenas Ferguson (65%) tem índice maior no comando do Manchester United.
Dito tudo isso, acho a decisão dos novos dirigentes muito corajosa
Não é fácil manter um técnico que foi tão questionado nos últimos meses. Mas a demora para tomar a decisão enviou um péssimo sinal. Um anúncio logo após o título da FA Cup, duas semanas atrás, teria feito o mundo acreditar que Ten Hag realmente tem 100% da confiança da nova diretoria. Agora, para muitos, foi mais “falta de opção” do que convicção.
Fato é que a pressão continuará forte. Será que Jim Ratcliffe e companhia irão sustentar o treinador em caso de um início ruim de Premier League? Pior que uma mudança agora, seria trocar de técnico com a temporada já em andamento…