Todo mundo reconhece a importância e grandiosidade da Premier League. Porém, sua história obviamente não foi, nem é, contada por si própria. Os mais variados clubes ingleses que já passaram – e passam – pela honrosa primeira divisão contam, a cada rodada, um capítulo de sua imensa história. É pensando nessa história que a PL Brasil decidiu criar uma série com todos os campeões da competição. O primeiro campeão foi o Manchester United e, agora, você voltará no tempo para a temporada 1992/1993.
Contexto histórico
Para viajar no tempo, é preciso identificar alguns aspectos importantes da época. Então, aqui vão alguns:
TV
“Pedra sobre pedra” e “De corpo e alma” foram as novelas de maior sucesso da época.
Músicas mais tocadas no mundo em 1992 e 1993:
“End of the road”, Boyz II Men;
“I will always love you”, Whitney Houston.
Tendências musicais no Brasil:
Exaltasamba lançava seu primeiro disco;
“Cheia de Manias” bombava como hit.
Política
O presidente Fernando Collor sofria impeachment;
Vários prisioneiros foram mortos no chamado “Massacre de Carandiru”.
Futebol brasileiro
O São Paulo era campeão pela primeira vez da Libertadores de 1992;
O Flamengo era pentacampeão brasileiro de 1992;
Nascia o futuro craque brasileiro Neymar.
O início da campanha do Manchester United na edição 1993/1993
Na temporada anterior à criação da Premier League em 1992/1993, o Manchester United foi vice-campeão. Dessa maneira, o clube chegava ao novo formato da Premier League confiante e com favoritismo para disputar as posições de prestígio da tabela. A pressão para a vitória também era grande: naquela época, o jejum era de 26 anos sem conquistar a primeira divisão do campeonato nacional.
O começo da temporada foi desanimador. Logo na estreia, no dia 15 de agosto de 1992, os mancunianos foram derrotados pelo Sheffield United por 2 a 1. Dois dias depois, Lee Sharpe, meio-campista de 21 anos, contraiu meningite e desfalcou o time por três meses. Assim, o United perdia seu primeiro importante jogador.
No segundo jogo, contra o Everton, perdeu por uma goleada de 3 a 0 dentro de casa: foi a segunda pior derrota de Alex Ferguson, em casa, em seus seis anos de comando à frente do time até aquele momento. O Man United ocupou a lanterninha da tabela. O terceiro jogo foi um empate em casa com o recém-chegado à primeira divisão, Ipswich Town. O clube levantava dúvida por parte da mídia e de seus torcedores. Estava difícil acreditar que o jejum de 26 anos teria fim.
A chegada de Cantona
A primeira vitória aconteceu na quarta rodada. Um placar magrinho de 1 a 0 contra o Southampton. O autor do gol foi Dion Dublin, principal atacante daquele time. Após essa vitória, outras quatro vieram em seguida. O céu nublado começava a se abrir e clarear em Old Trafford. Essa sequência de cinco vitórias seguidas foi importantíssima para colocar o Manchester United em terceiro lugar na tabela, atrás apenas de Blackburn, em segundo, e Norwich, em primeiro.
Porém, o céu ficou nublado de novo: cinco empates seguidos assolaram os Red Devils e, nesse meio tempo, o time perdeu Dion Dublin. O atacante quebrou a perna e isso lhe custou seis meses afastado do futebol. O United perdia mais um importante jogador em um mês de competição. Com tanto vento soprando contra, era difícil imaginar que aquele time seria mesmo o campeão da Inglaterra.
O clube iniciou, então, uma corrida incansável atrás de um atacante que pudesse substituir Dublin. Nomes como Alan Shearer – grande revelação do Southampton – e Brian Deane foram cogitados. Mas tudo parecia dar errado para o time. Até que surgiu uma luz no fim do túnel e essa luz era francesa e vinha do Leeds United: Eric Cantona.
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Em novembro, a chegada de Cantona permitiu uma virada de chave ao clube comandado por Sir Alex Ferguson. Eric foi um dos grandes nomes da equipe campeã. Houve rápida identificação com os torcedores, que se vangloriavam por tê-lo na equipe e cantavam gritos de guerra com o nome dele.
“Estou muito feliz e quero contribuir com o desejo de ganhar o campeonato após 26 anos”, disse Cantona à época. Mal sabia ele que o título viria e o rosto dele seria imortalizado como símbolo daquela conquista. Ao final do campeonato, ele foi o jogador que mais deu assistências (16).
Esperança de ser campeão
A partir de 21 de novembro, na 16ª rodada, o Manchester United jogou longe todos os males que o rodeavam: começou a ganhar todos os jogos e só perdeu apenas dois até o fim do campeonato. Em sua primeira edição, em 1992/1993, a Premier League tinha 22 clubes. Dessa maneira, o United jogou o total de 42 partidas, sendo 24 vitórias, 12 empates e seis derrotas.
Em 26 de dezembro, dada a sequência feroz de vitórias – inclusive em cima do então líder, Norwich – o United já ocupava o terceiro lugar na tabela. Durante grande parte temporada, o topo foi disputado com Aston Villa e com os Canaries.
A primeira vez em que os Red Devils alcançaram o topo da tabela foi em janeiro e ficaram intercalando a posição com os Villans. Em 5 de abril, venceram o Norwich em Carrow Road por 3 a 1 pela 36ª rodada, com gols de Cantona, Giggs e Kanchelskis.
A partida imprevisível
Em 10 de abril, pela 37ª rodada, ocorreu a partida que seria símbolo de toda aquela temporada e que pode ser resumida em uma só palavra: surpreendente. O jogo foi em Old Trafford, contra o Sheffield Wednesday.
Com um pênalti polêmico, os visitantes abriram o placar aos 65. Somente aos 86 minutos os donos da casa empataram com gol de cabeça do zagueiro e capitão Steve Bruce. E o imprevisível aconteceu logo depois, aos 96 minutos, quando a estrela de Bruce brilhou novamente e ele virou o placar.
Nem mesmo o melhor vidente poderia prever tamanha reviravolta. O público de 40 mil torcedores vibrava forte e a sensação de conquistar o título cada vez mais se aproximava. Essa vitória ocorreu no mesmo dia em que o então líder, Aston Villa, empatou em casa com o Coventry City. A virada nos acréscimos colocou o United definitivamente no topo e, de lá, nunca mais saiu.
O Norwich não vinha mais de boa sequência e o Villa era o único time com chances matemáticas de alcançar os Red Devils. Porém, no dia 2 de maio, perdeu o jogo contra o Oldham, pela penúltima rodada. Agora, bastava o United fazer a sua parte para poder, finalmente, soltar o grito de campeão.
É campeão
O jogo que consagraria o título teve como palco Old Trafford, no dia 3 de maio de 1993, com 40 mil pessoas. O Blackburn abriu o placar. Mas já estava escrito nas estrelas que aquele jogo seria dos donos da casa. Ninguém mais poderia tirar o título da edição 1992/1993 do gigante Manchester United.
E, assim, aconteceu. Com gols de Ryan Giggs, Paul Ince e Gary Pallister, a Premier League tinha seu primeiro campeão consolidado na penúltima rodada, com 10 pontos de diferença para o segundo colocado, na presença de 40 mil pessoas que cantavam “We are the Champions”.
“Eu odiaria ter finalizado a minha carreira e não ter ganhado o campeonato nacional. Nós esperamos muito tempo por isso e, felizmente, conseguimos. Foi ótimo por causa da nossa torcida e também por causa dos novos jogadores. Os 26 anos vão embora agora” – Bryan Robson.
“Isso é a retribuição da fé dos nossos torcedores. Você luta a sua vida toda para conseguir uma atmosfera igual a dessa noite. Alguns técnicos nunca conseguirão viver a experiência de hoje. Eu sou muito sortudo em estar aqui” – Sir Alex Ferguson.