A primeira audiência do processo que o Manchester City abriu contra a Premier League será realizada na segunda-feira (10). O julgamento deve ter duração de duas semanas. A denúncia diz respeito às normas de Transação com Partes Associadas (TPA).
Resumindo: intenção é derrubar uma regra que proíbe que empresas ligadas aos donos de clubes patrocinem esse mesmo clube, com o intuito de inflar as receitas e assim poder gastar mais.
Essa norma foi estabelecida em dezembro de 2021, depois que os sauditas compraram o Newcastle. O motivo é claro: a Premier League fez vistas grossas para mais um país nada democrático se tornando dono de um tradicional clube inglês. Como contrapartida, resolveu criar uma regra para tentar não perder o controle de vez, ou pelo menos para diminuir as muitas críticas que recebeu por aprovar a aquisição.
Agora, em um documento de 165 páginas, é o Manchester City que se diz vítima de discriminação. Alega também que tal regra quebra as normas da competição.
Na já tradicional entrevista anual, divulgada nesta semana, o presidente do clube Khaldoon Al Mubarak afirmou que a Premier League só se tornou o que é hoje por ser a mais competitiva de todas as ligas, e que espera um pouco mais de sensibilidade e uma postura mais equilibrada para definir as regulações.
Completou dizendo que, por causa das regras implementadas recentemente, a mesma qualidade da última temporada não poderá ser apresentada na próxima.
Aqui vai minha opinião sobre as regras de TPA
Nunca serei contra uma norma que tenta equilibrar o torneio. Ela evita que “clubes-estado”, como Manchester City, PSG e agora Newcastle, consigam receber uma enxurrada de dinheiro através da infinidade de empresas ligadas aos seus donos.
Não me parece ajudar em nada a competição se tal regra for derrubada. E, convenhamos, a última coisa com que os donos do City estão pensando é na liga, nos outros 19 times, no equilíbrio da competição. Mas, se ficar comprovado que essa regra realmente fere o estatuto da Premier League, que seja excluída então.
E então vem um dos argumentos mais absurdos dos últimos tempos. O City também ataca o que chama de “tirania da maioria”. Isso porque, para que uma regra da Premier League seja mudada, é necessário o voto de dois terços dos clubes, ou 14 do total de 20. Em qualquer entidade, país, organização ou seja lá o que for, me parece uma premissa muito democrática.
Só que vivemos em um mundo tão louco, em que a lógica e a verdade são distorcidas tão claramente de acordo com os mais espúrios interesses, que o clube cujos donos fazem parte de uma monarquia absoluta, onde não existem eleições, dissidentes são presos, liberdade de expressão é cerceada e qualquer tipo de manifestação é proibida, está reclamando de TIRANIA. É o fim da picada.
Dito tudo isso, este é apenas o primeiro round da briga entre Manchester City e Premier League. O clube é acusado pela liga por 115 violações de quebra das regras financeiras, e ao que tudo indica, esse julgamento deve começar até o final do ano.
O veredicto? Provavelmente só lá para o meio de 2025. Até lá, os donos do clube ainda devem atacar a Premier League mais algumas vezes.
Em tempo: nada disso tira o mérito de treinador, comissão técnica e jogadores em relação às inacreditáveis conquistas recentes. É bonito ver o City jogar, encantar e se superar, ano após ano. Já o que acontece fora das quatro linhas…