Desde 2016, o Manchester City utiliza um novo escudo. O emblema conta com um navio, que representa o canal tão importante na Revolução Industrial, além da rosa, símbolo de Lancashire onde a cidade está localizada.
O novo escudo está presente em muitos locais das paredes do Etihad Stadium, junto com outros símbolos importantes para o clube e a cidade.
No entanto, um símbolo tem uma forte ligação com a história do City e é pouco conhecido: a cruz presente na primeira camisa do clube e estampada no Etihad Stadium.
Cruz de Malta ou Pátea?
Primeiramente vale explicar essa confusão entre os dois tipos de cruzes.
O próprio Manchester City e historiadores se confundem sobre o tema, que também está presente no futebol brasileiro com o Vasco da Gama.
A Cruz Pátea nada mais é que uma categoria de cruzes que tem como característica as pontas mais largas do que o centro das hastes. Entre elas está a Cruz de Malta, que surgiu em 1118 com os Cavaleiros Templários e tem como base as cruzes usadas desde a Primeira Cruzada (1096-1099).
Porém, historiadores apontam outro significado e cada uma é um tipo diferente de cruz. A Pátea é o símbolo mais conhecido, utilizado no primeiro uniforme do City e nas camisas do Vasco. Já a de Malta tem um estilo de V nas pontas.
O pesquisador e autor do livro “Os distintivos de futebol mais curiosos do mundo”, José Renato Santiago, explicou as origens do escudo do Gigante da Colina.
— Não é a Cruz de Malta, como muitos falam, a cruz de oito pontas. Na verdade essa é a Cruz Pátea, que na verdade era muito utilizada pelo navios portugueses. É uma cruz de origem francesa. Ela é parecida com uma Cruz de Malta, mas não é — disse ao “Sportv” em 2011.
A “Cruz de Malta” do Manchester City
Para entender a ligação entre clube e o símbolo, é preciso voltar para quando o City surgiu. O clube é originalmente de 1880, formado por membros da St. Mark’s Church of England (Igreja de São Marcos da Inglaterra), mas não carregava o nome como é conhecido atualmente.
Os azuis de Manchester foram fundados com o nome de FC St. Mark’s, também conhecido como West Gorton. Ele ainda foi nomeado de West Gorton FC, Gorton AFC e Ardwick AFC. Apenas em 1894 que virou Manchester City.
O time surgiu como uma alternativa de inverno para os jogadores de críquete do St Mark’s, pois eles consideravam o rúgbi um esporte muito difícil. Eles utilizavam um uniforme preto e escarlate.
Em 1884, quando passou a ser Gorton AFC e se juntou ao Manchester FA, o clube buscava um novo uniforme para utilizar. É aí que surgiu a cruz pátea nas primeiras camisas dos Sky Blues.
Segundo a pesquisa do St Marks — um grupo de quatro torcedores ingleses que não tiveram seus nomes identificado — e do historiador Paul Toovey, até 1884 os jogadores e diretores do clube tinham forte ligação com a igreja. Naquela época, os distintivos eram escolhidos de acordo com o que o time representava.
A cruz pátea era um símbolo utilizado por São Marcos e sua igreja e artefatos. Ela está localizada em Gorton, que fica ao sudoeste do centro de Manchester, e é onde foi fundado o time. Por isso, o primeiro uniforme do City é preto com a cruz pátea no local do escudo.
— Na Inglaterra vitoriana, um emblema com ligação histórica era visto como prioridade. Por exemplo, podem ser considerados símbolos que representem o local de origem ou um marco local, ou alternativamente uma referência a um casaco relevante de armas pode ser exibida — diz a pesquisa de St Marks.
A ligação do City com o Athletic News
Embora os historiadores apontam a ligação entre clube e a Igreja de São Marcos, a imprensa também tem uma forte influência para a sua origem e escolha do primeiro emblema.
Segundo o site “Manchester City History”, no dia 29 de outubro de 1884, o jornal esportivo semanal “Athletic News” publicou a notícia sobre a criação do Gorton AFC. Porém, além dos textos, eram estampados nas páginas medalhas com a cruz de pátea.
A matéria do “Athletic News” foi publicada por Edward Hulton, que mais tarde — não se sabe o ano exato — se tornou presidente do Manchester City. As medalhas, que eram concebidas para comemorar grandes conquistas esportivas, influenciaram na criação do escudo.
O site também aponta uma mudança na origem do primeiro uniforme. O escudo foi costurado a mão pelas mães dos jogadores e os membros do Gorton AFC optaram pela cruz de pátea. Já a cor preta é influência do fato das mães lavarem os uniformes, escolhendo cores escuras para a confecção.
O significado da cruz pátea
Conforme levantado pelo St Marks, a cruz pátea representa a amizade, popularidade e bom espírito esportivo. Além do City, ela também foi utilizada por outros times ingleses, como Blackburn Rovers e Wolverhampton.
O símbolo é diferente da tradicional cruz cristã e apenas São Marcos a utilizava, aparecendo pela primeira vez em 1884. Na época, era incomum que as igrejas utilizassem cruzes diferentes, então o uso em camisas de futebol não era considerado algo ofensivo, visto que era ligado apenas a São Marcos.
Ainda segundo o grupo St Marks, a Igreja de São Marcos teve variações da cruz cristã, mas a cruz pátea se tornou a mais popular. Por isso, os diretores do Manchester City olharam para o símbolo do local de nascimento do time como inspiração para o escudo.
— Uma variante da cruz cristã teria feito sentido e seria instantaneamente reconhecível, a cruz pátea sendo uma escolha perfeita na Inglaterra vitoriana, um símbolo de virtudes cavalheirescas, incluindo bravura, honra, lealdade e cortesia. Ele exibia espírito esportivo e amizade para com os oponentes, e estava fortemente ligado a São Marcos, que exibia variantes da cruz cristã — declara o grupo St Marks na pesquisa.
Algumas pessoas confundem a cruz pátea e a cruz de Malta. Outros acreditam que a origem do Manchester City está ligada à maçonaria e por isso o primeiro uniforme preto com o emblema. Porém, como estudado pelo St Marks, são histórias falsas.