Lucas Paquetá: 4 motivos para o brasileiro não deslanchar na Premier League

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Grande destaque no Lyon, da França, Lucas Paquetá foi alçado a titular da seleção brasileira durante o ciclo para a Copa do Mundo de 2022. Desde a estreia em 2018, são 40 jogos com a Amarelinha. O sucesso no futebol francês e internacional atraiu interesse da Premier League.

A transferência de Lucas Paquetá para o West Ham foi a maior da história dos Hammers. No total, foram investidos 61 milhões de euros (cerca de R$ 309 milhões na cotação da época), que incluem variáveis de cerca de 18,6 milhões de euros (R$ 93,4 milhões). O jogador revelado pelo Flamengo tem contrato até 2027 com o clube inglês, mas a situação de permanência pode mudar em caso de rebaixamento da equipe.

Apesar das altas cifras do negócio, Lucas Paquetá ainda não deslanchou com a camisa do West Ham. Na partida deste domingo (2), vencida pelo clube Londres por 1 a 0 diante do Southampton, o camisa 11 não teve grande contribuição apesar do resultado positivo. E a tônica vem se repetindo ao longo dos últimos jogos. O brasileiro ainda não conseguiu mostrar o futebol que encantou os londrinos. Por quê?

Veja a tabela do Campeonato Inglês

1. As formações do West Ham

David Moyes, técnico do West Ham - Reprodução/@WestHam
Paquetá
David Moyes, técnico do West Ham – Reprodução/@WestHam

A equipe de David Moyes tem tido uma temporada turbulenta. Isso também é reflexo de planos de jogo que se alternam constantemente. Segundo relatório da plataforma de dados do “Wyscout”, levando em consideração apenas na Premier League, o West Ham usou ao menos 10 esquemas diferentes para distribuir seus jogadores.

O que mais foi utilizado foi o 4-2-3-1 (37%). Este é o mesmo esquema em que Paquetá jogava no Lyon: na temporada passada, os franceses entravam em campo desta forma em 44% das vezes. Entretanto, as mudanças nos Hammers são mais drásticas.

A segunda formação mais usada por Moyes é bem diferente da principal: o 3-4-3 está presente em 16% do tempo de jogo do West Ham. Esquemas de três zagueiros, inclusive, ocupam 29% da temporada dos londrinos na Premier League.

No Lyon, quando não era o 4-2-3-1, Paquetá jogava majoritariamente no 4-3-3 (15%). A linha de quatro defensiva só foi desfeita em 12% do tempo na França. Isso tende a impactar como ocorre a primeira fase de construção das equipes, que impacta como a bola chega à frente e, consequentemente, o posicionamento e os movimentos de Paquetá ao longo do jogo.

2. Pouco envolvimento com a bola

Na Seleção, Paquetá ganhou notoriedade pela forte combinação que tinha com Neymar. Toques curtos para progredir a partir de tabelas e dribles eram marcas registradas do meia. No West Ham, tem tido mais ocupações sem a bola, tirando a forma com a qual ele pode impactar com mais frequência e perigo.

Na atual temporada, o brasileiro viu seus números de dribles, toques na área e de envolvimento no jogo caírem.

Apesar de sofrer com lesões, Paquetá é majoritariamente titular quando joga: foram 19 partidas de Premier League até o momento, 18 delas entre os que começaram em campo.

A falta de oportunidades não é o ponto em destaque, mas sim o encaixe que ele tem com o modelo de jogo de David Moyes.

Dribles de Paquetá no último terço entre abril de 2022 e abril de 2023 – Imagem: Wyscout

Paquetá tem uma média de 2,12 dribles a cada 90 minutos disputados na Premier League. Os líderes do quesito no time do West Ham estão bastante acima: Benrahma, o líder, dribla 7,6 vezes no mesmo período. Michael Antonio, 4,16 vezes. Sua taxa de sucesso também não é das melhores: 45,4%.

Na França, seus números eram praticamente duas vezes maiores. Driblava 4,72 vezes por jogo, com uma porcentagem de 55,3% de acerto nessas ações.

Além disso, tem aparecido menos na área. No Lyon, dava 2,61 toques na área a cada 90 minutos jogados. No West Ham, esse número caiu para 1,8. Os líderes dos Hammers têm quase o dobro: Ings e Bowen (4,6). Sua participação geral com a bola diminuiu. E isso ocorreu por dois principais motivos…

3. Mais obrigações defensivas

Na França, o Lyon geralmente tinha mais postura dominante do que o West Ham tem na Inglaterra. Ou seja, Paquetá joga mais atrás da linha da bola na Premier League e, consequentemente, tem que defender mais.

O meia tem evoluído nessa área do seu jogo. Combinado ao modelo da seleção brasileira sob o comando de Tite, que exercia bastante pressão pós-perda, Paquetá é um dos principais jogadores do time nessa função.

Bolas recuperadas por Paquetá no último terço, entre abril de 2022 e abril de 2023 – Imagem/Wyscout

Ainda que seja um meia de características mais ofensivas, Paquetá lidera uma série de quesitos defensivos no time do West Ham, mesmo comparado com jogadores de setores mais recuados. No elenco dos Hammers, Paquetá é:

O 1º em duelos defensivos – média de 8,3 por jogo

4º em ações defensivas com êxito – média de 8,88 por jogo

6º em interceptações – média de 4,37 por jogo

Quando se defende mais, é natural que se construa menos. O West Ham é o terceiro time que menos tem a posse da bola na Premier League: média de apenas 43% por jogo. Apenas Bournemouth (38%) e Nottingham Forest (40%) estão abaixo.

4. Oscilação individual e coletiva

O tempo de adaptação a um novo cenário é natural e pode afetar jogadores de futebol. Isso aconteceu com Paquetá quando o mesmo deixou o Flamengo para ir ao Milan. O próprio, à época, revelou ter sofrido com a expectativa depositada sobre si.

A chegad aao West Ham foi seguida de uma grande oscilação do próprio time. Paquetá saiu de um time que geralmente alcançava o top-4 da Ligue 1 para, repentinamente, uma equipe que briga para não cair na Premier League.

Curiosamente, os Hammers não deveriam estar nesta situação. Estatisticamente, o clube londrino deveria ocupar a 8ª posição do Campeonato Inglês, não a vice-lanterna. O West Ham tem 39,3 pontos esperados (xPTs) na Premier League, mas só alcançou 24, a maior diferença negativa do país. Isso se dá pelo fato de que o time tanto desperdiçou chances ofensivamente, quanto cometeu erros defensivos.

São 34 gols sofridos, contra 31,4 esperados, segundo as estatísticas do “Wyscout”. Ou seja, foram três gols contra a mais do que o calculado como “ideal”. No ataque, a diferença é ainda maior: marcou apenas 25 em 37,81 gols esperados (xG).

Para efeito de comparação, o Arsenal, líder da Premier League, tem 58,88 de xG, mas marcou 70 vezes: 12 gols a mais. O Leicester tem 29,7 de xG e marcou 39, uma diferença positiva de 10.

Paquetá, por sua vez, contribui para isso. São 3,42 gols esperados e duas bolas na rede – ou seja, também desperdiçou suas chances. Apear de ser o terceiro jogador que mais finaliza a cada 90 minutos no West Ham (2,12 vezes), tem um dos piores aproveitamentos do elenco (27%).

Mapa de finalizações de Paquetá entre abril de 2022 e abril de 2023 – Imagem: Wyscout

Em números do último ano, somando todas as competições, foram 91 finalizações e somente 25 delas foram ao gol, resultando em cinco bolas na rede em 8,58 de xG. Sua conversão de gols é de rasteiros 5,5%.

Entretanto, os sinais positivos ainda são vistos. Destas 91 finalizações, sete delas vieram a partir de jogadas organizadas e seis foram ao gol (85% de acerto). Em 1,12 de xG, Paquetá marcou duas vezes nessas situações. Trocas de passes e aproximações são sua característica forte – se potencializada, pode seguir rendendo frutos.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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