Lucas Leiva lembra quase ida à Inter de Milão e exalta início de Klopp no Liverpool: ‘Tem algo diferente’

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Lucas Leiva foi um dos primeiros brasileiros a atingirem grande sucesso na Premier League — mas sua passagem de 10 anos na Inglaterra quase foi encurtada. Em conversa exclusiva com a PL Brasil, o ex-volante do Liverpool contou detalhes da sua passagem pelos Reds e assumiu: por pouco, não acabou com as cores de outro gigante europeu: a Inter de Milão.

Nesta primeira parte da entrevista, o ex-jogador dos Reds destrinchou sua idolatria no clube, falou sobre o auge que Philippe Coutinho viveu em sua carreira durante o tempo no Liverpool e deu detalhes de bastidores do escorregão de Gerrard na derrota contra o Chelsea, em 2014.

A saída do Liverpool

Apesar da necessidade da mudança, a saída de Lucas Leiva nunca foi um assunto polêmico ou problemático. Houve, em mais de um caso, “quases” saídas. Seu “namoro” com a Itália não começou com a ida à Lazio.

Lucas Leiva comemora gol pelo Liverpool - Icon Sport
Lucas Leiva comemora gol pelo Liverpool – Icon Sport

Ele revelou que as conversas com os italianos era antiga, mas sempre apareciam “poréns”. Seja por uma demanda pessoal dele que não foi atingida pela Inter, ou pelo fato do Liverpool pedir um valor e os nerazzuri não aceitarem — ou quando os Reds simplesmente não queriam liberá-lo.

— Na Inter de Milão eu estive próximo de ir, mas acabou não concretizando. Porque sempre tinha uma condição (que travava o negócio). Ou era uma condição minha, ou do Liverpool (o clube não podia liberar) – lembrou Lucas.

Lucas também quase deixou Anfield Road quando recebeu uma proposta do Besiktas, da Turquia, em 2015. Lucas não vinha sendo muito utilizado por Brendan Rodgers e decidiu aceitar o desafio. O acordo estava praticamente selado e ele tinha um voo marcado para confirmar a transferência, mas um jogo mudou tudo.

— Tiveram muitas lesões no time e eu acabei jogando um jogo contra o Arsenal. Aí no final do jogo, o Brendan (Rodgers) chegou para mim falou: ‘Você não vai poder ir, não vou te liberar'. Eu falei: ‘Pô, mas eu já estou contrato na na mala, literalmente na mala', porque era o último dia de da janela de transferências. Acabou tendo uma reviravolta, não fui e fiquei no Liverpool – disse o ex-meio-campista.

Ele “sempre teve outras oportunidades de sair”, mas o adeus definitivo ocorreu em 2017, para a Lazio. E foi de forma natural e positiva para todas as partes envolvidas. A honestidade e liderança de Klopp, mais uma vez, se mostraram cruciais:

— Eu sentei com o Klopp, nós dois nos olhamos e ele falou: ‘ Acho que essa é a oportunidade ideal para você e para o clube também'. Eu estava entrando no meu último ano de contrato e o clube teve uma sensibilidade também para pensar no meu futuro. Provavelmente eu não iria renovar e acho que quando a relação é boa, sincera e honesta, não tem nenhum problema. Então eu acabei saindo porque foi um momento onde as duas partes estavam ganhando.

Liverpool novo beckham
Klopp, o técnico do Liverpool – Foto: Icon Sport

O orgulho de ter vestido a camisa do Liverpool por 10 anos é ilustrado na palavra e na forma com a qual Lucas a revela. Saiu forçado? “Não”, sem titubear, “pelo contrário: teve momentos em que pensei em sair e o clube segurou, porque não era o momento“. Não esquece dos momentos difíceis que passou pelo clube e, no fim, foi feliz por ter vivido tudo isso.

— Passei por um processo de transição, estive nesse nesse momento mais conturbado. Teve troca de proprietários, o clube estava financeiramente muito mal e para chegar ao momento que está hoje foi preciso passar por aquilo. Então eu me sinto orgulhoso de ter estado naquele momento. Talvez não era o ideal, mas representar o Liverpool por 10 anos, seja em qualquer momento da carreira, é muito gratificante.

“Saí porque vi que estava perdendo espaço e era o momento de mudança de ciclos”, lembrou. Lucas, no final, provou que era a escolha certa: a decisão não poderia ser melhor para ele, além de não ter perdido o carinho com o clube. O brasileiro vai encontrar o elenco na Europa em julho e mantém amizades em Anfield.

A era Klopp e reformulações

As saídas do Liverpool foram ocorrendo naturalmente na transição que o time viveu com Klopp. Lucas deixa o Anfield depois de uma década, em 2017, e viveu os dois primeiros anos de trabalho do alemão no clube. Ele já sabia que haveria história.

Lucas e Klopp, em 2015 - Icon Sport
Lucas e Klopp, em 2015 – Icon Sport

Na chegada dele, a gente já percebia que algo importante estava acontecendo”, revelou. Além do trabalho vanguardista no Borussia Dortmund, o alemão tinha uma “aura” diferente: “a presença e a forma de pensar”, descreveu Lucas.

— No primeiro ano que ele chegou, fomos para duas finais. Perdemos as duas, mas chegamos na FA Cup e na Europa League. Ele pegou o time daquela forma e já conseguiu levar em duas finais – lembrou Lucas.

O volante afirma que aprendeu muito com Klopp, mesmo que tenha perdido espaço com a sequência do alemão. A humildade na fala não nega: “Eu sabia que o clube estava passando por um processo de reformulação muito positiva”.

A fase de transição que ocorreu nos últimos anos de Lucas parece se repetir no Liverpool atual. Nomes mais experientes, como Milner, Chamberlain e Roberto Firmino já se despediram.

— Aquele time vencedor da Champions e da Premier League, esses jogadores ficaram mais velhos. Então é normal que tenha essa essa transformação, essa troca. E está tudo bem. O futebol é assim.

Como um dos meio-campistas mais queridos dos Reds na última década, Lucas também vê a necessidade da reformulação no setor para a próxima temporada da equipe.

— São posições que demandam muito. Você precisa de jogadores com um potencial físico muito grande. Se não, acaba acontecendo problemas como teve nesse ano: muitas lesões, o que prejudicou demais o clube em classificar pra Champions League.

Após a realização da entrevista, o Liverpool fechou as contratações do argentino Alexis MacAllister, ex-Brighton, do húngaro Dominik Szoboszlai (ex-RB Leipzig) e ainda busca mais reforços para o meio-campo.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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