Liverpool x Manchester United é um clássico centenário e que têm inúmeros capítulos memoráveis para ambos os lados. É, sem dúvidas, uma das grandes rivalidades do futebol mundial – e que começou na disputa entre as cidades.
No dia 2 de abril de 1915, numa sexta-feira, United x Liverpool se enfrentaram no Old Trafford. E aquele confronto teve uma história particular. A PL Brasil faz uma viagem no tempo e explica o que rolou naquele dia no Teatro dos Sonhos.
Contexto da época e da partida
Em 1915, a Europa já vivia as consequências da Primeira Guerra Mundial. E o futebol não ficou de fora. É necessário entender que, naquela época, não existia cotas televisivas, nem tampouco patrocínios e salários exorbitantes. E isso foi fundamental para o que aconteceu no Old Trafford.
Isso porque os jogadores estavam cientes no fim de março de que a Liga Inglesa iria parar no fim da temporada, portanto, de onde os jogadores tirariam dinheiro para sobreviver, já que as atividades nos clubes e as carreiras seriam interrompidas?
E aí juntou o desespero dos jogadores mais o momento ruim do Manchester United, que, na época, mal tinha rivalidade com o Liverpool.
E qual era esse momento ruim do United? Os Diabos Vermelhos brigavam para não cair, enquanto o Liverpool não vislumbrava mais nada no torneio. Portanto, era um jogo neutro, onde só os mandantes estavam interessados no resultado.
CLÁSSICOS INGLESES | LIVERPOOL x MANCHESTER UNITED
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Com o cenário caótico que a Primeira Guerra Mundial mostrava, aliado ao desinteresse do Liverpool, alguns jogadores dos clubes se reuniram diversas vezes no Pub The Dog and Partridge para combinar uma vitória dos Red Devils em Old Trafford.
A cotação nas casas de apostas indicava um retorno de sete libras para cada uma libra investida caso o Manchester United vencesse exatamente por 2 a 0. E obviamente renderia bons lucros para quem estivesse envolvido no esquema – sete jogadores, ao todo.
E foi exatamente o que aconteceu. Com dois gols do atacante George Anderson, o United venceu pelo placar combinado. Pelo lado do Liverpool, era visível a falta de comprometimento dos atletas, além de terem perdido um pênalti.
O curioso dessa partida é que o atacante do Liverpool Fred Pagnam não concordou com o acordo entre os jogadores dos clubes, e, por pouco, não fez o gol dos Reds. O chute parou na trave.
Após o lance, o atacante foi repreendido duramente pelos seus companheiros de equipe, já que ele quase colocou tudo a perder. O clássico não passou despercebido pela Federação Inglesa (FA).
Investigações e punições
Pouco depois do jogo, boatos começaram a surgir alegando que uma grande quantidade de dinheiro estava envolvida no placar. As casas de apostas, responsáveis por pagar o montante, começaram a reclamar e solicitaram uma investigação da FA.
E a federação começou a investigar de forma bem aprofundada os desdobramentos daquele jogo. Os atacantes Fred Pagnam, do Liverpool, e George Anderson, do Manchester United, testemunharam contra os seus companheiros que estavam envolvidos na armação.
O lendário atacante do Manchester United Billy Meredith negou em depoimento qualquer tipo de armação, mas afirmou que seus companheiros de equipe não tocavam para ele durante a peleja.
No dia 27 de dezembro de 1915, a FA finalizou as investigações e concluiu que jogadores de ambos os clubes estavam banidos. Os seguintes atletas foram punidos: Arthur Whalley, Enoch West e Sandy Turnbull, Jackie Sheldon, Tom Miller, Bob Pursell e Thomas Fairfoul. Os três primeiros atletas eram do Manchester United e os quatro últimos do Liverpool.
Dos sete jogadores banidos, Jackie Sheldon, que estava no Liverpool mas já havia passado pelo Manchester United, foi considerado o líder da trama.
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A punição dos jogadores não teve muito efeito prático, pois eles foram convocados para a Primeira Guerra Mundial – exceto Enoch West, que processou a FA e tentou exaustivamente provar à sua inocência.
Com exceção de Sandy Turnbull, que acabou morto em 1917 durante a guerra, os outros cinco jogadores voltaram e, por conta do seus feitos na batalha, a FA anulou a punição. Thomas Fairfoul decidiu não continuar a carreira.
Óbvio que as atitudes dos jogadores foram bem questionáveis, mas não dá para fazer uma análise simplista e ignorar todo o contexto da época. Eram atletas acostumados a levantar taças e jogar grandes jogos e, consequentemente, ganharem muito dinheiro.
Com a primeira guerra mundial já tomando conta de tudo, o risco de passar necessidades era enorme, já que não ganhariam salários por conta da paralisação do futebol. Em contextos normais, é difícil imaginar que os atletas combinariam resultados.