O Liverpool vive uma nova era desde a saída de Jürgen Klopp, no fim da temporada passada. Alguns dos personagens principais dessa época já deixaram o clube, mas outros voltaram recentemente.
Um deles é Ian Graham, responsável pela análise de dados do clube que fez com que os Reds se tornassem uma potência. Ele lançou recentemente o livro “Como vencer a Premier League“, ele volta ao clube para tentar fazê-lo de novo.
Como os dados venceram uma Premier League para o Liverpool
Ian Graham, a mente por trás da revolucionária análise de dados do Liverpool, revelou em um novo livro detalhes exclusivos sobre os bastidores da equipe que conquistou a Premier League.
Graham, que chegou ao clube quatro anos antes de Jürgen Klopp, construiu um modelo de análise que foi fundamental para a contratação de grandes jogadores como Salah, Mané e Van Dijk.
— É melhor ser descrito como um nerd sério do que um nerd frívolo — disse o analista.
Em uma entrevista ao jornal “Telegraph”, Graham discutiu a importância da colaboração com Klopp e os desafios de implementar uma nova abordagem de gestão de dados em um clube de futebol tão tradicional.
Ele descreveu como o modelo de análise ajudava a identificar os melhores jogadores para o time, mas também reconheceu que nem todas as decisões baseadas em dados eram acertadas.
— Algumas das principais coisas que Klopp trouxe foram clareza de pensamento com táticas. Ele foi absolutamente claro sobre o que era necessário e com um treinador diferente você talvez não conseguisse isso. Contrataríamos Van Dijk se fosse um treinador diferente? Você teria que perguntar a Van Dijk.
Roberto Firmino, Sadio Mané, Mohamed Salah, Andy Robertson, Alisson e o próprio van Dijk estavam entre aqueles submetidos ao modelo criado pelo departamento de pesquisa de Graham, que é PhD em física pela Universidade de Cambridge.
O pré-Klopp com muitas brigas
Graham retrata no livro as desavenças que teve com Brendan Rodgers, o técnico dos Reds antes de Klopp que era contra a nova abordagem de Graham até sua demissão em 2015.
A história da contratação de Christian Benteke foi detalhada como uma disputa de poder. A obsessão de Rodgers em contratar o belga, observa Graham, foi apenas um exemplo da personalidade difícil do treinador.
No modelo de Graham, nem estatísticas, nem dados, nem observação pareciam certos sobre Benteke. Eventualmente, Rodgers insistiu no jogador. “Com o benefício de retrospectiva, você pensa: ‘O que Brendan estava pensando?’ Mas na época, a análise de dados era inédita [no futebol]”, explica.
— Ele era visto como um técnico moderno e se apresentava como um técnico moderno. Ele não era um técnico moderno. Ele deixou claro que não administraria o clube dessa forma [com colaboração na contratação] e todos os problemas vieram disso. Minha interpretação é que isso surgiu da insegurança. A única maneira que ele se sentiria seguro no trabalho é se estivesse no controle — disse Graham.
A análise também erra
Como Graham enfatiza, seu modelo não tem todas as respostas. Mas oferece uma maneira de tentar tomar decisões racionais — que se tornam cada vez mais importantes, dado o preço exorbitante das contratações atuais.
Houve grande sucesso: as contratações de Sturridge e Coutinho, ainda na era Rodgers, foram o primeiro passo para a construção do elenco multicampeão. Mas também houve falhas.
Dizendo ao Telegraph, ele conclui que apenas metade das transferências podem ser consideradas um sucesso. Ele é honesto sobre as falhas: Lazar Markovic, Iago Aspas, Luis Alberto e sua própria obsessão, Naby Keita, foram exemplos ruins.
Apesar do sucesso, o prazo de validade
No livro, o autor fala sobre as discussões que a direção tinha durante a era de sucesso com Jürgen Klopp. Não porque havia desavença, mas porque todos, mesmo que buscando o bem do clube, achavam que o encontrariam de maneira diferente.
— Mesmo quando estávamos alinhados, alinhamento não é a mesma coisa que pensamento de grupo ou harmonia. É saudável, mas é difícil. E é difícil entrar na décima janela de transferências sabendo que você terá grandes discussões porque todo mundo quer tomar as decisões certas — afirmou.
A obra também conta com exemplos de desavenças e desalinhamentos de pensamento. Klopp primeiro queria Mario Götze em vez de Mané e inicialmente preferia Julian Brandt a Salah.
No entanto, Graham defende o alemão, reforçando como a retrospectiva pode ser uma armadilha. “Quando estávamos tendo essas discussões, você não pode levar nada de suas futuras carreiras em consideração”.
Ambos os jogadores alemães, diz Graham, estavam na lista e eram dignos de consideração. A diferença era que, ao contrário de Rodgers, Klopp estava pronto para ser persuadido.
No final, os resultados foram muito positivos. Durante o verão de 2017, quando o Liverpool contratou Salah por 37 milhões de libras, Graham lembrou que o Chelsea gastou 58 milhões em Alvaro Morata, o Arsenal contratou Alexandre Lacazette por 46,5 milhões e Romelu Lukaku se juntou ao United por cerca de 90 milhões. Nenhum deles deu resultado parecido ao do egípcio.
E agora com fins de ciclos, como o do próprio Salah e de outros contratados como van Dijk e Robertson, Graham voltou ao Anfield para tentar repetir o feito. E pode usar seus conhecimentos que deram o ousado título de “Como vencer a Premier League”.
