Como o Liverpool e o Google podem ajudar os clubes a fazer gols de escanteio

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Na atual temporada da Premier League, o Liverpool é o terceiro time que mais cobra escanteios. Até a 28ª rodada, foram 185, com 46 deles terminando em finalizações, de acordo com a plataforma de estatísticas “Wyscout”. A taxa de gols esperados por escanteio da equipe está entre as maiores da liga: 5,68xG, um número maior que o de Arsenal e Manchester Ciy, atuais líderes em números de escanteios cobrados.

Alguns dos gols marcados dessa forma pelo Liverpool foram de extrema importância para a equipe de Jürgen Klopp. Um dos mais recentes foi o tento de Van Dijk na final da Copa da Liga Inglesa, que garantiu o título dos Reds sobre o Chelsea no final da prorrogação.

Mas o que explica o bom desempenho do Liverpool nesse quesito na competição? O Google pode explicar — literalmente.

Google e Liverpool firmam parceria para criar Inteligência Artificial

O Google DeepMind, braço da empresa americana que trabalha com inteligência artificial (IA), criou uma IA focada em futebol que contou com a colaboração do Liverpool para ser desenvolvida. A empresa tem trabalhado junto à equipe de análise tática dos Reds desde 2020 para trazer o TacticAI ao mundo.

Esta é uma inteligência artificial que, a partir de informações sobre os jogadores (peso, altura, posicionamento médio, velocidade, entre outras), consegue prever qual deles irá finalizar com a bola lançada na área após uma cobrança de escanteio.

Por meio do banco de dados, o TacticAI também pode fornecer sugestões aos treinadores e analistas para tentar otimizar os esquemas táticos.

A tecnologia foi criada a partir de dados sobre 7.176 escanteios cobrados na temporada 2020/21 em jogos da Premier League. Todas essas informações foram fornecidas pela equipe de Anfield e envolviam desde o perfil dos atletas até dados sobre os gramados e estádios onde as partidas foram disputadas.

Nos testes, o TacticAI sugeria três possíveis jogadores que receberiam a bola para finalizar. A tecnologia acertou as opções em 78% das vezes. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (19) na “Nature”, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo.

Em comunicado à imprensa, Petar Velickovic, cientista do Google DeepMind, explicou que os escanteios foram escolhidos como objeto de estudo porque são jogadas mais fáceis de interferir em relação ao posicionamento dos jogadores. Fica mais complicado sugerir mudanças nesse sentido com a bola correndo.

— No jogo aberto você não pode fazer muitas mudanças úteis na hora, porque há 22 jogadores e é muito dinâmico. Se você tentar fazer mudanças no calor do momento você pode acabar confundindo as pessoas. Se você puder aumentar suas chances de marcar ou defender melhor nos escanteios, isso se integra ao longo de uma temporada inteira para realmente lhe dar uma vantagem competitiva — afirmou Velickovic.

O estudo não explica porque o Liverpool foi o clube escolhido para realizar a parceria, mas os Reds são conhecidos no futebol inglês pelos seus investimentos na ciência de dados nos últimos anos.

No site oficial do Google DeepMind, os desenvolvedores entendem a criação desta IA como um marco, mas esperam que pesquisas futuras possam ir além dos dados em campo e ajudar os especialistas de outras formas.

— Mostramos como a IA pode ser usada no futebol, mas o futebol também pode nos ensinar muito sobre IA. É um jogo altamente dinâmico e desafiador de analisar, com muitos fatores humanos, do físico à psicologia. É um desafio até mesmo para especialistas, como treinadores experientes, detectar todos os padrões. Com TacticAI, esperamos tirar muitas lições no desenvolvimento de tecnologias assistivas mais amplas que combinem experiência humana e análise de IA para ajudar as pessoas no mundo real — finaliza o comunicado no site.

Maria Tereza Santos
Maria Tereza Santos

Jornalista pela PUC-SP. Na PL Brasil, escrevo sobre futebol inglês masculino E feminino, filmes, saúde e outras aleatoriedades. Também gravo vídeos pras redes e escolhi o lado azul de Merseyside. Antes, fui editora na ESPN e repórter na Veja Saúde, Folha de S.Paulo e Superesportes.