Tudo indica que Arne Slot será o substituto de Jürgen Klopp no Liverpool. A imprensa europeia confirmou a negociação com o atual treinador do Feyenoord e ele deve iniciar a próxima temporada em Anfield.
Mas além dos clubes, há uma mulher envolvida na negociação que já é bem conhecida no futebol inglês — e no europeu como um todo.
Estamos falando de Rafaela Pimenta, agente brasileira de Slot. Conheça mais da história da chamada “mulher mais poderosa do mundo do futebol“.
Quem é Rafaela Pimenta?
Rafaela Pimenta é uma agente de futebol de grandes estrelas do futebol mundial. Nascida em 1973, a paulistana é formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e não começou a carreira no futebol. Ela trabalhou como professora de Direito Internacional e, durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso na presidência do Brasil, atuou com o governo brasileiro em legislação antitruste.
Conforme contou em uma entrevista ao “The Guardian”, ela estava escrevendo seu doutorado em direito internacional quando conheceu Mino Raiola, um dos maiores nomes no mundo dos agentes em transferências de futebol, em 1998.
Rafaela estava trabalhando na constituição do atual Guaratinguetá Futebol Ltda., clube da série C brasileira, quando o italiano veio ao Brasil para entender mais sobre o novo modelo de negociações sob a nova Lei Pelé. Mas a primeira impressão não foi das melhores…
— Mino está na minha frente, fumando como uma chaminé e usando um grande relógio vermelho. Tudo o que eu dissesse a ele sobre a lei, ele teria uma resposta. Depois de uma hora eu falei: ‘Olha, se você sabe tanto sobre a legislação brasileira, faça o que quiser. Tchau.’ Fiquei com tanta raiva que tive que ir embora — contou a agente ao jornal inglês.
Raiola seguiu insistindo e procurando a brasileira para pedir ajuda, chegando a ir até Brasília para procurá-la. Depois de muitas tentativas, Rafaela topou não apenas ajudar o italiano, mas trabalhar com ele na Europa. Foi assim que nasceu uma parceria de sucesso que durou 18 anos e que pode desembocar no sucessor de Klopp no Liverpool.
Pogba, Haaland e, agora, Arne Slot no Liverpool: A vida pós-Raiola
A dupla trabalhou por quase duas décadas como sócios da “One Sarl”, gerenciando as carreiras de nomes como Ibrahimovic, Pogba, Donnarumma e Haaland.
A parceria teve muito sucesso ao gerar transferências bombásticas até que algo inesperado aconteceu. Raiola adoeceu em dezembro de 2021 e precisou se afastar do trabalho, vindo a falecer em 30 de abril de 2022 sem ter a causa revelada pelos médicos.
Tudo isso aconteceu às vésperas de uma das mais importantes janelas de transferências dos últimos tempos: quando Haaland foi vendido do Borussia Dortmund para o Manchester City, então principal rival do Liverpool.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, Rafaela revelou que foi direto do enterro de Raiola para o escritório para seguir trabalhando.
— Tive que tocar a coisa às vésperas de uma janela de transferências quando ele faleceu. Não deu tempo nem de reestruturar (a empresa). Eu saí do enterro do Mino direto para o escritório.
Ao “Financial Times”, Rafaela revelou que, quando Raiola morreu, vários agentes entraram em contato com ela para tentar obter o controle dos jogadores agenciados por sua empresa. Mas ela não cedeu às propostas, tomou a frente nos negócios e hoje tem mais de 50 clientes, entre jogadores, técnicos, jogadoras e atletas aposentados. Slot, alvo do Liverpool, é um dos exemplos.
A transferência de Haaland foi um sucesso, girando em torno de R$ 300 milhões, segundo a imprensa europeia. Na entrevista ao “The Guardian”, ela revelou que chorou na primeira partida do norueguês pelo City, lembrando de Raiola, e que gosta da convivência com a família do jogador porque eles “esperam profissionalismo e se comunicam com clareza”.
— Haaland é incrível, tem os pés no chão. Ele está muito consciente de quem ele é e do que representa. Ele não está delirando. Nunca vi nele aquelas mudanças negativas que a fama e a fortuna trazem. Ele tem apenas 23 anos, mas é tão maduro, tão profundo, tão calmo — contou Rafaela.
“A mulher mais poderosa no mundo do futebol”
Rafaela Pimenta é uma das raras figuras femininas em posição de poder em um meio tão machista como o futebol. Em entrevistas, ela sempre admite as dificuldades que as mulheres passam em situações como essa e reforça sua crença na igualdade de gênero.
— Para ser ouvida como mulher você tem que provar seu valor muito mais do que os homens, o tempo todo. Se você ficar com raiva, você é uma ‘vadia’. Se você reage, está exagerando porque é uma mulher emotiva. Se você quer ser uma líder, você é muito ambiciosa, fria e dura. Para um homem, não há problema em ser assim. Estamos em uma indústria onde não há igualdade — afirmou ao “The Guardian”.
Apesar de ser um longo caminho, ela acredita que o futebol pode ser um meio de transformação dessa realidade. E ela entende que inspirar meninas em sua posição faz parte desse trabalho.
— Há muito a ser feito, mas o futebol é uma arma. É uma arma para a mudança. É uma das razões pelas quais estou aqui. Se eu puder inspirar uma garota a lutar pelo que ela quer, meu trabalho estará feito.