Alisson, Arthur… Pitaluga explica empréstimo à 8ª divisão e revela bastidores do Liverpool

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Marcelo Pitaluga parece confortável com os holofotes. O goleiro é assunto no futebol desde os 17 anos. Primeiro, o destaque nas categorias de base do Fluminense. Depois, a venda precoce ao Liverpool, especialmente para um jogador de sua posição. Por último, o empréstimo à oitava divisão inglesa – o que gerou duvidas de torcedores que acompanham o brasileiro de longe.

Em junho do ano passado, o goleiro foi cedido ao Macclesfield, um dos times mais antigos da Inglaterra. Nesta segunda parte da entrevista exclusiva à PL Brasil, Pitaluga explica o movimento estranho aos olhos do Brasil, mas, segundo ele, devidamente planejado em conjunto com John Achteberg, um dos treinadores de goleiro do Liverpool.

Ele me falou, perguntou o que eu achava e conversamos. Falamos que seria algo interessante, e continuar treinando no Liverpool era uma das condições. Foi algo, que durante seis meses, foi bom para mim, principalmente pela quantidade de jogos que eu joguei. Naquele momento, foi algo que avaliamos e achamos ser positivo para mim.

Macclesfield fica a uma hora e 20 minutos de carro de Liverpool, o que permitiu ao goleiro jogar a oitava divisão e treinar com os Reds. Segundo Pitaluga, o bom estádio e a média de 4 mil torcedores um jogo em casa entregavam uma atmosfera que o goleiro não tinha no sub-21 do Liverpool. Outras exigências quanto ao estilo de jogo também contaram para a decisão.

Futebol inglês tem muito contato, principalmente para o goleiro. Um exemplo: escanteio. No Brasil, se o goleiro sai e tem um contato, na maioria das vezes vai ser falta. Aqui, para o árbitro dar falta no goleiro é extremamente difícil. E quanto mais baixo você vai (em divisões nacionais), pior é. Então, fui principalmente por essa questão – disse o jovem brasileiro.

Relação com Alisson e Taffarel

No Liverpool, Pitaluga convive com um dos melhores goleiros brasileiros da geração atual. O ex-jogador do Fluminense trata Alisson como inspiração, amigo e professor.

Dentro do campo, tento sempre observar e de certa forma até copiar os trabalhos. Acho que isso é algo bem positivo, você poder observar e pôr em prática. E fora do campo também, é uma pessoa sempre fantástica. Seja durante as refeições, no clubes.. Vira e mexe a gente está junto.

Além de Alisson, Pitaluga tem a sua frente pelo menos o irlandês Kelleher e o espanhol Adrián, que também compõem o elenco profissional do Liverpool. O jovem brasileiro parece consciente da hierarquia interna.

Não dá para um clube chegar, principalmente na minha posição – e um garoto novo, que nunca jogou futebol profissional – falando: ‘você vai jogar amanhã’, ou ‘você vai jogar daqui um ano’. Isso é fruto do meu trabalho – disse Pitaluga.

Equipe de goleiros do Liverpool – Reprodução/@mpitaluga_

Pitaluga também convive com Cláudio Taffarel, que desde 2021, faz parte da equipe de treinadores de goleiro do Liverpool.

— Acho que não podia pedir mais. Ter o Taffarel como treinador de goleiros e ter o Alisson como companheiro. Então obviamente é fantástico por toda a experiência que ele traz e por toda Instruções que ele dá, pelo trabalho junto com o Jack (Robinson) e John (Achterberg) também. Para mim e para acho que para qualquer goleiro seria fantástico, especialmente sendo brasileiro.

A exposição ao alto nível vem com críticas, e Pitaluga vê isso de perto com Alisson. Apesar de ser um dos melhores do mundo da posição, o goleiro é alvo de críticas do torcedores brasileiros pelo desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo.

As pessoas muitas vezes nem entendem muito sobre a posição de goleiro, e às vezes falam: ‘ah, isso foi falha’, naquilo que, muitas vezes, nem é a realidade. Então, eu já sei que, se fosse eu (no lugar de Alisson), aconteceria também. Tem que literalmente entrar em um ouvido e sair no outro quando as críticas são de fora – pontuou.

Parças no Liverpool

Pitaluga com brasileiros do Liverpool – Reprodução/@mpitaluga_

Em um clube tão diverso quanto o Liverpool, questões como língua e cultura influenciam na formação de sub-grupos. Pitaluga conta como a dinâmica funciona nos vestiários dos Reds:

Por exemplo, o Darwin ainda não fala um inglês tão bom. Então acaba que a relação se fortalece, é natural. No grupo dos que falam português e espanhol, normalmente todo mundo se dá muito bem, mas somos um pouco mais próximos dos brasileiros. Mas temos também o Adrián, goleiro, por falar espanhol, o Thiago, Luis Diaz, Darwin. Esse é o nosso grupo, mas obviamente a relação com todos é excelente e todo mundo é fácil de conviver.

Um dos brasileiros do Liverpool que tem tido contato mais próximo com Pitaluga é o meio-campista Arthur. O ex-jogador do Grêmio tem sofrido com lesões durante a temporada e fez alguns jogos no time sub-21. Os dois, inclusive, passaram por momentos de reabilitação juntos.

Estou ali no dia a dia, então posso falar o quanto ele se esforça e se dedica na prevenção das lesões e durante esse processo de reabilitação. Obviamente, não é o que ninguém quer, nenhum atleta em nenhum esporte quer se machucar, mas é o que pode acontecer, infelizmente. Ele é totalmente dedicado – revelou.

Futuro no Liverpool? Volta ao Brasil?

Pitaluga mostra maturidade quando o assunto é o futuro. Ficar no Liverpool? Outro empréstimo? Voltar ao Brasil?

Quando você está considerando a próxima temporada, tem que pôr tudo na balança, principalmente em relação aos jogos. O melhor para mim obviamente é jogar, então é levado em consideração – disse o goleiro.

Ele ressalta como a dinâmica em alta voltagem do futebol pode render oportunidades antes do esperado – como, por exemplo, no caso de uma lesão de algum companheiro. Nesse cenário que, apesar que ninguém quer que aconteça, “você de repente está jogando” e muda seu planejamento.

Pitaluga durante treino do Liverpool – Reprodução/@mpitaluga_

Pitaluga é focado e pé no chão sobre suas expectativas, mas não esconde: “Quero jogar o quanto antes”. Ele não fecha as portas para outros empréstimos e quer analisar as melhores opções possíveis para poder ter minutos e poder aproveitar sua fase de desenvolvimento. O fato de completar 21 anos no final de 2023 também liga o alerta para outras oportunidades fora do sub-21 dos Reds.

Mesmo que tenhamos plantado a semente da curiosidade quando o questionamos sobre um possível retorno ao Fluminense, mesmo que por empréstimo, Pitaluga mantém a resposta do jogador centrado e focado no presente:

 — São opções. Seja empréstimo ou ficar no Liverpool, é uma decisão quando tem que ser conversada e tomada quando a hora chegar.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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