Noite mágica em Anfield – Liverpool 3×1 Saint-Etienne

3 minutos de leitura

O Liverpool já proporcionou incontáveis jogos memoráveis na história. Recentemente, por exemplo, teve a remontada diante do Barcelona. No entanto, essa não foi a primeira vez que isso aconteceu. Há mais de 44 anos, o estádio viveu uma partida inesquecível. O jogo foi Liverpool x Saint-Etienne, em um duelo válido pelas quartas de final da Champions League da temporada 1976/1977.

Na primeira partida, os Reds perderam por 1 a 0 para os franceses e precisariam da vitória por dois gols de diferença para avançar de fase.

Liverpool 3×1 Saint-Etienne: uma noite milagrosa em Anfield

A atmosfera vivida no Anfield naquele dia 16 de março de 1977 foi uma das coisas mais impressionantes que o estádio já viveu. De acordo com relatos da época, a arquibancada The Kop, que fica atrás de um dos gols, estava lotada duas horas antes de a bola rolar.

Além disso, os portões foram fechados uma hora antes do jogo começar, deixando milhares de torcedores ao redor do Anfield com rádios em pubs espalhando sentimentos positivos e um barulho ensurdecedor. Se dependesse da torcida, o Liverpool sairia classificado dali de qualquer jeito.

Com a bola rolando, um roteiro que começou perfeito para o Liverpool. Logo aos dois minutos, o atacante Kevin Keegan cruzou da ponta esquerda, o goleiro do Saint-Etienne calculou mal e a bola acabou caindo diretamente no gol. Explosão nas arquibancadas do Anfield e a confiança nas alturas.

Apesar do gol de empate, um Anfield ensurdecedor 

O primeiro tempo foi de muitas chances para ambos os lados, mas os goleiros fizeram boas intervenções e a primeira etapa terminou com 1 a 0 para o Liverpool. Um resultado que não classificava os Reds diretamente para a próxima fase.

Na segunda etapa, a equipe francesa veio com tudo para o ataque. E, após criar boas chances de gol, empatou a peleja. O meia Dominique Bathenay soltou uma bomba de fora da área e não deu chances para o goleiro Ray Clemence.

Mesmo com o gol, a atmosfera em Anfield não diminuiu. Pelo contrário. De tanto a torcida empurrar, o Liverpool fez o segundo gol aos 14 minutos da etapa final. O lateral-direito Phil Neal mandou a bola para a área, a zaga do Saint-Etienne afastou parcialmente e a redonda sobrou para o meia Ray Kennedy mandar para as redes e explodir a torcida.

Tony Duffy Allsport Getty Images
Leia mais: The English Game: minissérie resgata raízes do futebol inglês 

Um gol antológico

A história começa a mudar para o Liverpool na metade da segunda etapa. Isso porque o técnico Bob Paisley colocou o atacante David Fairclough no lugar do também avançado John Toshack. Uma substituição relembrada até os dias de hoje.

A medida que o tempo passava, Anfield cantava cada vez mais. Canções como We Shall Not Be Moved e You’ll Never Walk Alone ecoavam de forma imparável, mesmo com o gol não saindo.

E de tanto insistir, a recompensa veio. Isso porque aos 39 da etapa final, Ray Kennedy lançou para David Fairclough, que dominou no peito, disparou em velocidade e tocou na saída do goleiro adversário. Era o gol da classificação. Era a história sendo escrita pelo ‘Super Sub’, apelido que David ficou conhecido durante o período em que jogou no Liverpool.

Leia mais: Anfield Road: como é o tour no estádio do Liverpool? 

O autor do gol antológico, David Fairclough, disse que o barulho emitido das arquibancadas do Anfield foi ensurdecedor.

“Nunca tive dúvidas. Sabia que podia marcar. Foi uma sensação fantástica. O que impressiona é que parecia ter caído o silêncio quando corri para a bola, mas quando fiz o gol o barulho foi ensurdecedor”, comentou o jogador.

Ao fim do jogo, classificação do Liverpool para a semifinal da Liga dos Campeões. Os Reds terminariam campeões pela primeira vez ao derrotarem o Borussia Monchengladbach na final por 3 a 1.

Para Paisley, Liverpool 3×1 Saint-Etienne teve atmosfera jamais vista

O técnico do Liverpool, Bob Paisley, ficou por muitos anos no comando do clube inglês. No entanto, de acordo com ele, a atmosfera que Anfield viveu naquele dia foi incomparável e jamais vista pelo treinador.

“Nos dez anos em que estive aqui, nunca vi nada assim. Joguei diante de 130 mil pessoas pela Inglaterra, mas o barulho e o entusiasmo não se comparam a isto (jogo contra o Saint-Etienne)”, disse Paisley.

E não foi apenas Paisley que teve essa sensação. Isso porque o lateral-direito Phil Neal disse que o clima no jogo era tão absurdo que ele teve dificuldades até para se concentrar na peleja.

“O ambiente ficou melhor quando o jogo ia avançando. Foi a única partida em que senti dificuldades em focar-me apenas no jogo. Quando a bola estava do outro lado do campo, não conseguia evitar olhar para cima e ficar impressionado coma multidão. Todo o estádio parecia se mover. É impossível bater essa noite”, disse o defensor.

É difícil comparar sensações dentro de um estádio, já que isso é uma experiência pessoal. No entanto, em uma publicação de 2013, o próprio clube definiu o jogo contra o Saint-Etienne como a maior atmosfera que Anfield já viveu.

“Anfield estava delirando. Foi – e provavelmente ainda é – a melhor atmosfera e momento individual que o Kop já testemunhou”, diz a publicação do clube sobre Liverpool 3×1 Saint-Etienne.

Lucas Holanda
Lucas Holanda

Jornalista em formação, olindense e apaixonado por futebol.