Riyad Mahrez: a incrível história do argelino que superou a morte do pai

4 minutos de leitura

Riyad Mahrez é um ótimo jogador que, de repente, chamou a minha atenção. Confesso que nunca havia ouvido nada sobre ele até então, mas ele está arrebentando na atual temporada e marcando o seu nome dentro da Premier League. Graças ao que vem fazendo pelo Leicester, ele já pode jogar agora por um grande clube da Europa. Ele pode jogar pelo Barcelona no futuro”.

Vamos contar agora a história de Riyad Mahrez

Poucos jogadores do futebol mundial foram agraciados com elogios tão empolgantes como este que Mahrez ganhou do craque Xavi.

Apesar do presente brilhante e do futuro promissor, o passado de Mahrez é recheado de capítulos de superação.

Mahrez encara morte do pai

O jogador nasceu em Sarcelles, na França, mas, devido à sua forte ligação com a Argélia já que passava suas férias no país com sua família, assumiu a nacionalidade do pai. Aos 15, deparou-se com um desfalque insubstituível fora de campo.

Ahmed Mahrez faleceu aos 54 anos, vítima de uma doença cardíaca, e deixou prematuramente seu filho.

Leia mais: Os 10 maiores artilheiros da Premier League

“Meu pai estava sempre comigo, ele queria que eu fosse jogador de futebol. Ele ia a todos os jogos comigo para me ajudar. Ele jogou por times pequenos na Argélia e França então ele sabia o que estava dizendo e eu escutei ele. A morte dele talvez tenha sido o pontapé. Eu não sei se fiquei mais sério, mas, depois da morte, as coisas começaram a dar certo para mim”, disse ao Guardian.

O garoto que treinava em exaustão

Aos 18 anos, perseguindo o seu sonho – e também o de seu pai – estava na quarta divisão francesa com o modesto Quimper, mas não deixava de treinar intensamente, com o objetivo de crescer na carreira.

“Eu tinha que fechar o estádio, senão ele permanecia treinando voleios e chutes a gol. Ele me perguntava muitas vezes se poderíamos dobrar os exercícios. Ele era muito receptivo às críticas, sejam elas boas ou ruins”, afirmou Salaün, seu ex-treinador no Quimper.

Apesar da canhota habilidosa, o corpo franzino de Mahrez induzia o olhar desconfiado sobre o seu futebol. Ao realizar um teste no Lens, foi dispensado pelo perfil físico inexpressivo.

“Eles diziam que eu era muito magrelo, que todos iriam me empurrar na disputa pela bola. Eu tinha boa técnica, mas fisicamente não era muito forte. E eu não era rápido, mas eu sempre trabalhei muito”.

Da França para a Segundona da Inglaterra

Depois de seis meses no Quimper, o PSG e o Olympique de Marselha se interessaram no “frágil” argelino. No entanto, Mahrez escolheu o Le Havre, da segunda divisão, devido à boa qualidade das divisões de base do clube, que já ajudou a revelar Paul Pogba, Lass Diarra e Dimitri Payet.

Dois anos e meio depois, decidiu ir para o futebol inglês, apesar dos conselhos nada empolgantes que recebeu. A proposta era do Leicester City, que disputava a Championship e sonhava com o acesso à Premier League.

Os Foxes observavam Mahrez há um bom tempo e superaram o interesse do Torino, da Itália.

“Todos me diziam: ‘Riyad, o futebol inglês não é para você, é muito físico, muito forte. O espanhol encaixa melhor com você’. Então, nunca achei que jogaria na Inglaterra. Mas falei com meu empresário e ele disse que seria muito bom para mim. Eu conversei com a minha família e falei: ‘Ok, vou tentar’, e quando eu cheguei ao clube, gostei bastante. Quando me vi começando a treinar e jogando eu pensei: ‘Eu fui estúpido em hesitar vir para cá'”.

O Leicester pagou cerca de 500 mil libras para contar com o jogador, um preço irrisório se comparar ao seu valor atual. Desconhecido dos ingleses, ele chegou ao clube com a alcunha de o “Dí Maria argelino”.

“O clube me deu tudo. Eu descobri a Premier League e joguei a Copa do Mundo de 2014. Eu jogava a segunda divisão, mas estávamos sempre em primeiro e vencendo, então a Argélia começou a me ver. Se eu ainda estivesse na segunda divisão francesa, ninguém teria me visto”.

Seleção e Copa do Mundo no currículo

A região onde morava em Paris acolhe muitos imigrantes e, se a família Mahrez não era pobre, certamente, não era rica. Os argelinos, assim como grande parte dos países africanos, são completamente apaixonados por futebol.

A chance de atuar na seleção da Argélia surgiu graças ao técnico Vahid Halilhodzic, que ouviu o nome de Mahrez graças à indicação do ex-treinador Christophe Delmotte. Halilhodzic observou um jogador do Le Havre que poderia não ser titular absoluto, mas tinha uma técnica acima da média.

“Ele era tecnicamente superior e um ótimo driblador, mas não tinha força. Ainda assim, eu vi potencial e convoquei ele para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Eu não posso descrever o que vivenciei de parte da imprensa argelina depois disso. Alguns acharam que eu recebi dinheiro do Mahrez para convocá-lo. Obviamente, ele não estava no nível que está hoje, mas não me surpreende quão boas são suas atuações na Premier League. Ele é o tipo de jogador que faz a diferença”.

Se era motivo de desconfiança para o povo argelino em 2014, hoje a situação de Riyad é bem diferente. Sua idolatria no país chega a superar a de outros destaques como Slimani, Feghouli e Brahimi.

Campeão da Premier League com o Leicester

O Leicester que, na temporada passada, escapou do rebaixamento hoje é campeão da Premier League. Ao lado de Vardy, Kanté, Drinkwater e outros, Mahrez é um dos destaques da competição em uma equipe organizada e bem montada por Claudio Ranieri.

O argelino encontraria em um italiano de 64 anos a pessoa certa para aumentar seu rendimento e evoluir dentro de campo.

Ele nos ajudou muito taticamente e eu melhorei muito nisso. Nós precisávamos disso. E ele tem me dado muita responsabilidade e confiança. Ele me fala: ‘Riyad, faça o seu trabalho ofensiva e defensivamente’ porque ele quer que eu seja um jogador completo”.

Mahrez chegou ao Leicester por um valor de 500 mil libras e hoje vale mais de 20 milhões de libras. Especulado nos grandes clubes europeus, o atleta de 25 anos, que superou grandes obstáculos em sua vida, não quer saber do interesse de outras equipes e diz que está feliz nos Foxes.

“Eu não ligo para essas coisas. Eu sou jogador do Leicester City e estou feliz aqui”.

  • Times que ganharam o Campeonato Inglês e você nem sabia
<!-- Author Start -->Pedro Ramos<!-- Author End -->
Pedro Ramos

Coordenador da PL Brasil. Editor da PL Brasil entre 2012 e 2020 e subcoordenador na PL Brasil até o meio 2024. Passagens pelo jornal Estadão e o canal TNT Sports. Formado em Jornalismo e Sociologia.
E-mail: [email protected]