Leeds e Galatasaray: uma intensa e violenta rivalidade

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Leeds e Galatasaray não são equipes com um longo histórico de jogos disputados entre si. Não são nem do próprio país. No entanto, tendo disputado somente duas partidas em toda a história, a rivalidade, que nasceu entre seus torcedores, elevou a disputa a um impensável nível de ódio e intolerância, indo muito além das quatro linhas.

A história teve seu início na Copa da Uefa da temporada 1999/2000. O Leeds vivia boa fase, disputando as primeiras posições na Premier League, fazendo frente aos clubes dominantes da época, Arsenal e Manchester United.

Os Peacocks se classificaram para aquela edição da Copa da Uefa após terminarem o Campeonato Inglês na quarta posição, o que lhe garantia a participação já na primeira fase eliminatória.

Já a equipe turca havia garantido a classificação para a Champions League uma vez que era a atual campeã nacional.

No entanto, o Galatasaray terminou a fase de grupos da Champions League daquela temporada na terceira posição em seu grupo, garantindo assim uma vaga no segundo torneio da UEFA. Com isso, ingressaram na competição somente na terceira fase eliminatória.

Durante sua campanha o Leeds superou: Partizan, Lokomotiv Moscow, Spartak Moscow, Roma e Slavia Praga. Já os turcos deixaram pelo caminho: Bologna, Borussia Dortmund e Mallorca.

Dessa forma, no dia 6 de abril de 2000 as equipes realizariam, pela primeira vez na história uma partida entre ambas.

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Violência marca a véspera do primeiro jogo

Em 5 de abril, na véspera da partida de ida do confronto, uma confusão na Praça Taksim envolvendo torcedores de ambas equipes resultou em dois torcedores da equipe inglesa esfaqueados.

Naquela noite perderam suas vidas Kevin Speight, então com 40 anos, e Christopher Loftus, de 37.

Até hoje não se sabe ao certo o que desencadeou a briga entre os torcedores, existindo versões distintas às quais atribuem a culpa para cada torcida.

Ainda assim, mesmo com os ânimos exaltados diante os acontecimentos, as equipes entraram em campo no antigo estádio do Galatasaray, Ali Sami Yen Stadium.

O primeiro jogo

Naquela temporada, o clube turco contava com jogadores notórios, como o goleiro brasileiro Taffarel, o romeno Gheorghe Hagi além do craque local Hakan Sükür.

Já a equipe inglesa tinha em seu plantel nomes como Paul Robinson, Jonathan Woodgate, o australiano Harry Kewell além da então jovem revelação Alan Smith.

Naquela noite, Leeds e Galatasaray foram a campo com as seguintes escalações:

GALATASARAY: Taffarel,Bulent Korkmaz, Gheorghe Popescu, Carlos Alberto de Oliveira Capone, Emre Belözoğlu, Ergun Penbe, Gheorghe Hagi (Ahmet Yildirim), Okan Buruk (Hakan Unsal), Suat Kaya, Arif Erdem (Hasan Sas), Hakan Şükür.

LEEDS:Nigel Martyn, Garry Kelly, Lucas Radebe, Jonathan Woodgate, Ian Harte, Eirik Bakke, Lee Bowyer, Matthew Jones (Jason Wilcox), Stephen McPhail, Harry Kewell, Michael Bridges (Darren Huckerby).

A equipe turca fez valer a vantagem de atuar em casa e saiu do primeiro confronto com a confortável vantagem por 2 a 0, graças aos gols de Hakan Şükür e do brasileiro Capone.

Com isso, os ingleses do Leeds teriam a difícil tarefa de conseguir uma vitória por uma larga vantagem de três gols no segundo jogo. Somado isso, o clube ainda teria que lidar, na partida da volta, com ânimos exaltados da sua torcida após os confrontos e mortes ocorridos na Turquia.

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Homenagens, policiamento reforçado e torcida única no segundo jogo

Após os acontecimentos em Istambul, ficou definido que os torcedores turcos estariam impedidos de irem até Elland Road para a segunda partida. Tal decisão foi tomada pelo presidente do clube na época, Peter Ridsdale:

“Eu acho que nas circunstâncias dos eventos desta semana, seria muito melhor para todos se nos concentrássemos em conseguir que o segundo jogo da fase seja concluído em segurança e garantir que não tenha qualquer recorrência do tipo de incidentes que viu na Turquia na semana passada “, afirmou o presidente do Leeds ao programa Today da BBC Radio 4.

Nos entornos do estádio, diversas foram as homenagens feitas pelos torcedores às vítimas dos ataques na Turquia. Para a segunda partida as equipes foram as campo com as seguintes escalações:

Leeds: Nigel Martyn, Danny Mills, Lucas Radebe, Jonathan Woodgate, Ian Harte, Eirik Bakke, Lee Bowyer, Stephen McPhail, Jason Wilcox, Harry Kewell, Michael Bridges

Galatasaray: Taffarel, Bulent Korkmaz, Gheorghe Popescu, Carlos Alberto de Oliveira Capone, Emre Belözoğlu, Ergun Penbe, Gheorghe Hagi, Okan Buruk, Suat Kaya, Arif Erdem, Hakan Şükür

Já dentro de campo, com a difícil missão de reverter a vantagem da equipe visitante, o Leeds bem que tentou sufocar o adversário, mas quem conseguiu ampliar ainda mais o placar agregado foi o Galatasaray graças a penalidade convertida por Hagi.

A equipe da casa igualou o marcador com Bakke. No entanto, o craque turco Hakan Şükür tratou de marcar o segundo gol dos visitantes colocando fim às ambições dos ingleses.

Na etapa final Bakke ainda empatou novamente o jogo mas a classificação já estava nas mãos do Galatasaray. Com esse resultado o Leeds dava adeus ao sonho de mais um título internacional. Já o clube de Istambul avançaria para a grande final onde teria como adversário outro clube da Inglaterra, o Arsenal.

A final daquela edição da Copa da UEFA foi disputada em Copenhague no dia 17 de maio de 2000. Infelizmente, assim como ocorreu na fase anterior, os momentos que precederam a grande final também ficaram marcadas por brigas entre torcedores.

No entanto, dessa vez a torcida do Galatasaray entrou com confronto com torcedores do Arsenal, que contavam com apoio da torcida do Leeds e de outros clubes ingleses, em clara tentativa de retaliação pelos acontecimentos na Praça Taksim.

Após os novos confrontos tendo os ingleses entre os envolvidos, o comitê da Uefa alertou o governo britânico no sentido de adoção de medidas contra a violência sob pena da seleção da Inglaterra ser expulsa da edição de 2000 da Eurocopa.

Dentro de campo, as equipes não conseguiram movimentar o placar durante os 90 minutos e toda a prorrogação. Nas decisões por pênaltis, o Galatasaray converteu todas as suas cobranças enquanto o Arsenal acertou apenas uma das três.

Com isso o clube turco conquistava seu primeiro título europeu, ainda que com um plano de fundo de muita rivalidade, briga, violência, sangue e mortes.

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Desfechos do incidente em Istambul

Dois anos após os acontecimentos que antecederam a primeira partida da semifinal, o torcedor Ali Umit Demir foi condenado a 15 anos de prisão pelas mortes de Christopher Loftus e Kevin Speight.

Outras cinco pessoas foram consideradas culpadas pelo envolvimento nos assassinatos e receberam sentenças de alguns meses. A repercussão de tal sentença acabou tendo repercussão negativa em ambos lados da história.

Enquanto parte da população turca tratava Demir como um “patriota”, os ingleses consideraram a pena a ele imposta insuficiente, uma vez que a pena inicial tinha sido fixada em 30 anos de prisão.

Já na Inglaterra, os clubes ingleses, no sentido de punir seus torcedores envolvidos nos episódios de ódio de violência agiram da seguinte forma: o Arsenal baniu 37 de seus torcedores envolvidos nos confrontos na Dinamarca, ficando eles impedidos de ingressarem no estádio de Highbury.

O Leeds agiu da mesma forma. No entanto, somente três de seus torcedores acabaram banidos e impedidos de acompanhar a equipe no Elland Road.

Rivalidade entre Leeds e Galatasaray ainda perdura

Mesmo com as equipes tendo se enfrentado somente naquela fase da Copa da Uefa, a rivalidade segue bastante viva e intensa. Como prova disso é a transferência de Harry Kewell do Liverpool para o Galatasaray em 2008.

O jogador australiano defendia as cores do Leeds durante os dois duelos contra o turcos. Sua transferência para tal rival acabou causando a insatisfação de ex companheiros e de toda a torcida dos Peacocks.

Em resposta à onda negativa de comentários, Kewell publicou uma carta aberta dizendo:

Já são 19 anos desde que as equipes se enfrentaram pela última vez, mas apesar do todo o tempo que passou, as cicatrizes deixadas pelo confronto e morte dos torcedores ainda segue vivas e abertas, como se aquela partida ainda não tivesse tido o apito final.

Vinicius Alves
Vinicius Alves

Advogado, roqueiro e cervejeiro que ama falar e escrever sobre o jogo da bola chutada.