Klopp havia anunciado saída do Liverpool há meses e bastidores são expostos: ‘Já que não vão me demitir…

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Histórico técnico do Liverpool, Jürgen Klopp anunciou na última sexta-feira (26) que vai deixar o clube no final da atual temporada, após nove anos. A notícia pegou não só torcedores, como funcionários do clube e jogadores de surpresa.

No entanto, para um grupo específico não foi tão chocante: os donos da Fenway Sports Group (FSG), empresa dona do Liverpool. Segundo o “The Athletic”, o treinador já havia ligado e avisado o presidente Mike Gordon em novembro do ano passado.

O ‘pedido de demissão’ no Liverpool

De acordo com o The Athletic, na ligação com o presidente da FSG o alemão explicou que, após muita reflexão, havia chegado à conclusão de que esta seria a última temporada de seu reinado em Anfield. Sua mente estava decidida: ele se afastaria em maio.

Sentia que “simplesmente não tinha mais energia para continuar”. Estava cansado e não queria fazer o trabalho com “três rodas”. Ao ser transmitida a notícia para os atordoados executivos do FSG, John W. Henry e Tom Werner, eles sabiam que tentar mudar sua decisão seria inútil.

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Foto: Icon sport

A decisão de Klopp em abril de 2022 de estender seu contrato até 2026 tinha sido a mais agradável das surpresas para a FSG, dada sua indicação anterior de que ia tirar uma licença sabática. Isso foi exatamente o oposto.

Isso não era sobre dinheiro, nem sobre ter outro emprego garantido. Era simplesmente sobre querer fazer uma pausa nas exigências incessantes da gestão de elite. Por mais doloroso que fosse, os proprietários estavam unidos na crença de que precisavam respeitar sua decisão.

Klopp recebeu tempo e espaço. Não havia necessidade de fazer anúncios precipitados. No entanto, o tempo que passou de novembro até o final de janeiro não alterou a posição do treinador de 56 anos.

A decisão de Klopp e anúncio ao público

A decisão de tornar público seu posicionamento sísmico na sexta-feira foi apenas de Klopp. Ele estava desesperado para garantir que a equipe, os jogadores e os torcedores ouvissem isso dele primeiro. Ele sabia que, quanto mais esperasse, maior seria a chance de vazar para a mídia.

O treinador sentiu que seu círculo interno e suas famílias mereciam clareza agora para que pudessem começar a planejar o futuro. Os assistentes Pep Lijnders e Peter Krawietz, assim como o treinador de desenvolvimento da equipe principal, Vitor Matos, também sairão.

— Em um mundo ideal, eu não teria dito nada para ninguém até o final da temporada. Ganhar tudo e então dizer adeus, mas isso não é possível. Já que ninguém vai me demitir, tenho que tomar essa decisão sozinho – afirmou no vídeo de anúncio.

O agente de Klopp, Marc Kosicke, ficou no fundo da sala na sexta-feira enquanto o sombrio treinador do Liverpool conduzia uma emocionante coletiva de imprensa em uma sala de imprensa lotada no AXA Training Centre.

Foi durante as reuniões para discutir os preparativos da pré-temporada para a temporada 2024-25, que verá o Liverpool disputar alguns jogos preparatórios nos EUA, que Klopp questionou pela primeira vez se tinha condições de continuar em julho:

— Normalmente, eu sou a parte principal dessas reuniões, mas não consegui (desta vez) – disse.

Dificuldades e jogadores esperando uma ‘Last Dance’

As dificuldades da última temporada, quando as coisas desandaram e o Liverpool terminou em quinto na Premier League, cobraram seu preço. Klopp havia recusado a oportunidade de liderar a Alemanha na Eurocopa em casa após a demissão de Hansi Flick em setembro passado porque sentia o dever de colocar seu trabalho em Anfield de volta nos trilhos.

— Mas minhas habilidades de gestão são baseadas em energia e emoção, e isso exige tudo de você. Se eu não puder fazer mais, paro. Não foi minha ideia quando assinei o novo contrato. Eu estava 100% convencido naquele momento de que iríamos até 2026. Mas percebo que meus recursos não são infinitos. Não sou mais um coelhinho jovem – afirmou.

Segundo o The Athletic, alguns jogadores chamavam esta temporada de “The Last Dance”, uma referência ao documentário de Michael Jordan, acreditando que Klopp estava fazendo uma última tentativa de alcançar algo especial com este grupo. Mas eles não esperavam isso agora.

A reação tanto da equipe quanto dos jogadores foi de choque completo. Exceto os escolhidos que estavam a par da situação, ninguém viu isso chegando. Houve lágrimas entre alguns membros da equipe.

(Foto: Icon Sport)

Klopp parecia revigorado com o Liverpool líder da tabela da Premier League, na final da Copa da Liga, nas oitavas de final da Liga Europa e ainda na FA Cup. O elenco achava que teria pelo menos mais duas temporadas com ele no comando.

O histórico de Klopp no comando do Liverpool é muito positivo, mas ele também pode ser “uma presença exigente”, tanto para seus jogadores quanto para sua comissão e executivos. Alguns membros mais antigos do elenco se perguntaram se ele se afastaria em maio do ano passado, depois que o clube não conseguiu se classificar para a Champions League.

O futuro de todos

Lijnders e Matos têm aspirações de gestão própria, e Klopp destaca que estarão prontos para enfrentar um novo desafio enquanto ele embarca em um período sabático de um ano neste verão.

Para outros membros da equipe técnica, como Andreas Kornmayer e John Achterberg, há uma incerteza contínua enquanto esperam descobrir se seus serviços serão necessários quando uma nova era começar.

— Normalmente, quando um treinador está em um vestiário e fala assim, ele foi demitido. Não é assim por causa das coisas que conquistamos, então é por isso que minha responsabilidade é tão grande – destacou.

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(Foto: Icon sport)

Klopp estava preocupado com o impacto da notícia na sessão de treinamento da tarde, mas ficou encantado ao constatar que tudo estava como de costume. Ele disse aos jogadores que têm a oportunidade de “escrever mais capítulos” até maio e garantir que esta era inesquecível termine em alta. Ele está convencido de que isso vai galvanizar todos, em vez de servir como uma distração.

Além disso, o treinador está decidido a não dar meia-volta como Sir Alex Ferguson fez em 2002. Ao contrário do ex-técnico do Manchester United, ele não tem interesse em desempenhar um papel na escolha de seu sucessor. “A última coisa que eles precisam é de conselhos do velho”, disse Klopp.

Guilherme Ramos
Guilherme Ramos

Jornalista pela UNESP. Escrevi um livro sobre tática no futebol e sou repórter da PL Brasil. Já passei por Total Football Analysis, Esporte News Mundo, Jumper Brasil e TechTudo.

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