Depois do desfalque do maestro em campo, com a lesão de Kevin De Bruyne, o Manchester City terá uma baixa ainda mais “cerebral”. O técnico Pep Guardiola passou por uma cirurgia nas costas nesta terça-feira (22), em Barcelona, e deve ficar afastado até a Data Fifa, em setembro. Neste tempo, ele será substituído por um antigo conhecido: Juanma Lillo, histórico auxiliar do catalão que, depois da última Copa do Mundo, fez uma “carta anti-Guardiola”.
Ao fim da última edição da Copa do Mundo, realizada entre novembro e dezembro no Catar e vencida pela Argentina, Lillo publicou uma coluna no site inglês “The Athletic” em que promovia uma “análise alternativa” do Mundial. Nela, o Espanhol disse que o futebol está acabado e que “o propósito do jogo se subverteu” — cutucando como os jogadores têm sido “reféns” dos treinadores.
Lillo criticou o “futebol moderno”
Em sua coluna no “The Athletic”, Lillo prefere o futebol de seleções ao de clubes porque “os melhores jogadores do mundo se reúnem e, graças a Deus, não ficam presos à onipotência do treinador”. Ele também reverenciou o fato de que técnicos não conseguem impactar tanto o jogo na Copa simplesmente por não ter tanto tempo de treinar.

— Nós, os treinadores, temos influência demais. É insuportável. Nós temos nossas próprias ideias e dizemos que as adotamos para ajudar as pessoas a entenderem o jogo. Bobagem! Deveria ser para os jogadores entenderem o jogo como eles o entendem – disse o espanhol na ocasião.
O auxiliar de Guardiola criticou tamanha globalização do jogo, que fez com que diferentes partes do planeta jogassem e treinassem da mesma forma. “Se você vai em um treino na Noruega e outro na África do Sul, vai ser a mesma coisa”, disse.
— ‘Olhe para dentro para encontrar espaços lá fora', ‘passe por aqui, passe por ali'. Os bons dribladores acabaram, meu amigo. Onde você pode encontrá-los? Não consigo ver nenhum – cobrou o treinador.
A relação de Lillo com Guardiola
Lillo foi treinador de Guardiola no Dorados de Sinaloa, do México, em 2006, pouco antes do ídolo culé se aposentar. Ele não fez parte da comissão de Pep no Barcelona — e, inclusive, foi demitido do Almería após uma derrota por 8 a 0 justamente dos culés, em 2010. Mas os dois se reencontraram no Manchester City.
Ele foi auxiliar de Jorge Sampaoli, outro grande adepto do Jogo de Posição, na seleção chilena e no Sevilla. Em 2020, foi trabalhar com Guardiola em Manchester e conquistou dois títulos da Premier League, uma Copa da Liga e foi à final da Champions League de 2021, vencida pelo Chelsea, antes de deixar o clube no ano seguinte.

Ele era o treinador principal do Al-Sadd, do Catar, antes de voltar aos Citizens no início deste mês de agosto. “A visão dele está totalmente alinhada com a de Pep. Ambos adoram esse jogo e querem que suas equipes produzam futebol de ataque de alta qualidade o tempo todo”, disse o diretor de futebol Txiki Begiristain.
“Juanma (Lillo) vê coisas que ninguém mais vê no jogo. Ele entende de futebol em um nível incrível, então é a pessoa perfeita para eu trabalhar ao lado”, revelou Guardiola. Mas, apesar de ter sua filosofia alinhada com a do técnico tricampeão da Champions League e ter sido um dos expoentes para cultivá-la, Lillo se sente como um “pai arrependido” quando olha para a sua influência no jogo.
Guardiola e Lillo destruíram o futebol?
“Nem nós mesmos percebemos a bagunça que fizemos”, reclamou o treinador em sua coluna pós-Copa. Para ele, a proporção foge de seu controle, mas é inegável que não gosta de ver culturas futebolísticas serem “reprimidas” para alcançar um suposto alto nível protagonizado por certas equipes e países — no seu caso, o Jogo de Posição exportado pelo futebol espanhol.

— Globalizamos uma metodologia a tal ponto que ela se infiltrou nas Copas do Mundo: se você fizesse os jogadores de Camarões e Brasil trocarem de camisa no intervalo, nem perceberia. Talvez pelas tatuagens ou pelo cabelo amarelo, mas não pelo desempenho – ironizou Lillo.
A forma “padronizada” de jogar o incomoda, mesmo quando fala de termos e conceitos que ele mesmo criou:
— Tudo é ‘dos toques‘. Dois toques. Porque todos treinam com dois toques, todos jogam com dois toques. Impusemos o ‘El Dostoquismo‘, como eu o chamo. E digo isso como um grande defensor de muitos desses métodos e formas de pensar! Sou como um pai arrependido.