Anti-Guardiola? Ingleses analisam ‘renovação do jogo bonito’ de Diniz antes de final da Libertadores

Após 15 anos do vice da Libertadores, o Fluminense volta a disputar a final da competição, neste sábado (4), diante do Boca Juniors, no Maracanã, às 17h (horário de Brasília). Às vésperas do jogo, a imprensa inglesa se dedicou a falar do estilo do treinador Fernando Diniz, que também comanda a seleção brasileira.

A emissora britânica “Sky Sports” publicou a matéria “As inovações táticas de Fernando Diniz no Fluminense: ele consegue ganhar a Libertadores e também mudar o futebol?“, com entrevistas de treinadores de todo o mundo — como o brasileiro Bruno Pivetti, ex-auxiliar de Diniz — para destrinchar o “Dinizismo“.

Diniz no Fluminense e Guardiola no City: manter a posse de jeitos opostos

A análise começa com base numa comparação com um time no qual os ingleses estão mais do que acostumados a assistir: o Manchester City de Pep Guardiola. Uma equipe que nos últimos anos também tem como premissa a posse de bola e o jogo propositivo, como os times de Diniz, mas de maneiras opostas.

O futebol de Fernando Diniz se tornou fascinante. É o jogo de posse reinventado. O oposto de Guardiola, segundo o próprio Diniz. É novo para alguns, e para outros é a recuperação do jogo bonito — escreve Bate.

O veículo relembra uma aspa de Diniz na qual ele explica que o estilo de Pep é posicional, enquanto o dele é antiposicional. Ou seja: seu time não fica com jogadores presos a uma posição do campo, mas sim encorajados a interagir, rotacionar e criar. “Um futebol com liberdade de expressão, baseado nas ideias do futsal“, resume a “Sky Sports”.

Na cultura europeia de futebol, segundo os entrevistados da matéria, é ensinado que o melhor jeito de manter a bola é através do jogo posicional, que possibilita largura e profundidade. A organização torna mais fácil a pressão e a recomposição defensiva, como também faz o Brighton de Roberto De Zerbi.

Mas, no Fluminense, a regra são as ultrapassagens e o foco em manter a bola sem se importar tanto com o aspecto espacial.

Imagine Jack Grealish vindo por dentro para jogar ao lado de Phil Foden. Para Guardiola, isso congestionaria o espaço. É exatamente o que ele não quer que aconteça. Para Diniz, isso aumentaria as chances de uma tabela que fure a defesa adversária — afirma o texto.

Nesse contexto, a função de Paulo Henrique Ganso é destacada pelos ingleses, “um jogador com breve passagem pela Europa que é essencial para Diniz”. É ele quem mantém a bola, atrai outros jogadores e cria espaço no campo inteiro.

É um estilo de jogo descrito como “exigente” pelos ingleses, porque requere uma movimentação intensa e constante do time nos momentos certos. “Mas quando funciona, como tem acontecido tão espetacularmente com o Fluminense, que pode ser maravilhoso“.

Dificuldade de adaptação na seleção brasileira

Ao mesmo tempo em que treina o Fluminense, Diniz assumiu o comando da seleção brasileira até o meio de 2024, quando é esperada a chegada de Carlo Ancelotti. E a “Sky Sports” ressalta o começo difícil do técnico, que teve um empate decepcionante contra a Venezuela em casa e uma derrota para o Uruguai em Montevidéu.

Os ingleses colocam a culpa dos resultados no estilo de jogo dinizista, que “exige mais imaginação dos jogadores e leva tempo para se desenvolver, algo que ele não tem“.

Por mais que considerem o Dinizismo “um jeito natural de jogar no Brasil“, pelas relações com o futebol de rua, na Seleção ele comanda majoritariamente jogadores que atuam no futebol europeu, onde tal estilo é bem menos comum.

Ter sucesso com o Brasil no cenário internacional seria a maior conquista, recuperando o espírito do time de 1970 e provando que o futebol glorioso de 1982 ainda funciona. Mas ganhar a Libertadores com o Fluminense já seria um marco. Seria o renascimento do relacionismo, um jeito diferente de ver o jogo. Ele não está sozinho — conclui Adam Bate.

‘Fernandos Dinizes' pelo mundo

A “Sky Sports” levantou alguns exemplos de treinadores pelo mundo que têm um estilo de jogo parecido com o de Diniz. E, assim como o brasileiro, eles atuam em ligas e países que não estão na elite do futebol europeu.

São os casos de Rhulani Mokwena, que treina o Mamelodi Sundowns na África do Sul; Henrik Rydstrom, que está no Malmo da Suécia; e Marti Cifuentes, que estava no Hammarby, também na Suécia, e foi anunciado neste semana como treinador do QPR, que disputa a Championship.

Diogo Magri
Diogo Magri

Jornalista formado pela ECA-USP, campineiro e repórter na PL Brasil. Passagens por EL PAÍS, Revista Veja e Futebol Globo CBN.

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