Joelinton é um dos brasileiros mais longevos da Premier League: são cinco anos no Newcastle. E uma jornada de tanto tempo na maior liga do mundo passa por altos, baixos e recomeços — e o pernambucano terá mais um em 2024.
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Em entrevista exclusiva à PL Brasil, o meio-campista revelou sua frustração com um último ano de lesões, deu bastidores sobre a renovação com os Magpies e destrinchou seus planos para o futuro longe da Inglaterra.
Um novo recomeço para Joelinton
À vontade em seu sofá, com a família em casa e um sorriso tranquilo. Foi assim que Joelinton começou o bate-papo com a reportagem ainda na pré-temporada.
Ele participou de quatro partidas de preparação e saiu vencedor de todas elas. E depois de uma Premier League “picada” no ano passado, o objetivo agora é constância.
— A expectativa é boa para o novo começo. Fiz uma grande pré-temporada e estou muito positivo, mentalmente bem e minha expectativa é fazer uma grande temporada pelo Newcastle e poder estar saudável — disse o camisa 7.
Foram 28 jogos em que o brasileiro desfalcou sua equipe na temporada passada. Dez deles envolvendo uma lesão na coxa, e outros 18 por conta de um problema na virilha. E foi a vontade em retornar logo que atrapalhou.
— Quando você está machucado, quer voltar o mais rápido possível. Às vezes, a gente acelera e não está pronto, aí acaba machucando de novo e comigo aconteceu isso na temporada passada.
Joelinton teve sua primeira lesão de 2023/24 em setembro do ano passado e ficou 32 dias fora. Dois meses depois, voltou a ter problemas na coxa, mas foram apenas nove dias de desfalque no fim de dezembro.
No entanto, já na primeira semana de janeiro deste ano, ele teve de fazer uma operação na virilha, o que o tirou dos gramados por muito mais tempo que o esperado. A “pressa” custou mais 118 dias fora.
Esta foi a temporada em que Joelinton ficou mais tempo fora de combate: 159 dias ao todo. Apesar da frustração, ele se apoiou na família para passar por um momento difícil e hoje, já mais experiente, entende quais foram os erros no processo — e nem por isso tirou o sorriso do rosto para contar.
— Eu tenho uma base familiar muito boa, tem minha esposa, meus filhos, meus pais e amigos que sempre estão do meu lado nos momentos difíceis. Fica o aprendizado, a gente vai ganhando experiência e tentando ser melhor.
A nova temporada do Newcastle: mais reforços e melhor do que antes?
O Newcastle teve uma janela de transferências pouco badalada. Perdeu Elliott Anderson, uma promessa que vinha se consolidando, e, na prática, contratou apenas quatro jogadores: os goleiros Odysseas Vlachodimos e John Ruddy, além do zagueiro Lloyd Kelly e do atacante William Osula.
No entanto, a pouca movimentação dos Magpies no mercado da bola não incomoda Joelinton: para ele, caso todos se mantenham saudáveis, o time tem potencial para ir muito longe na temporada.
— O grupo é muito tranquilo, muito bom de trabalhar, todo mundo que chega a gente recebe super bem. Mas claro, se chegar gente boa, chega para somar e ajudar a equipe a ficar mais forte. E isso é até bom para a competitividade nos treinos. Todo mundo vai ter que trabalhar um pouco mais e não deixar ninguém se acomodar para ter sua vaga no time.
Por outro lado, há uma posição que o brasileiro entende que deveria ser reforçada: o ataque. A contratação de Osula, jovem centroavante de 21 anos, é vista como necessária principalmente pela falta de sequência de Callum Wilson.
De maneira consciente e sem “alfinetar”, o camisa 7 relembra como o centroavante inglês teve dificuldades com lesões recentemente:
— A gente trouxe um atacante muito jovem agora, que é algo que a gente precisava devido a algumas lesões do Callum Wilson. É um grande atacante, mas sempre está vivendo esse problema com as lesões, então eu acho que era necessário.
Howe, dinheiro saudita e a mudança de cultura
O mercado menos agitado do clube não deixou nada a desejar quando a Premier League começou. Joelinton marcou logo na estreia e o Newcastle segue invicto em três rodadas.
Isso mostra que a construção de elenco e o trabalho do Eddie Howe em campo têm sido positivos. O brasileiro não perde a oportunidade de elogiar o treinador e entende a importância do investimento saudita para o sucesso, mas, para ele, outro ponto é ainda mais crucial.
O meio-campista, que viveu os dois últimos anos antes da compra do clube, tem a vivência necessária para ilustrar como as coisas mudaram. Segundo ele, o nível de profissionalismo no clube aumentou significativamente e a relação da torcida com o clube melhorou — e isso foi o principal.
— Não é só o dinheiro. Desde a compra do clube, tudo mudou, porque antes era difícil. Não é que ninguém queria fazer nada pelo clube, mas não tinha esse mesmo nível de profissionalismo que a gente tem hoje. A qualidade aumentou, e claro que o dinheiro ajuda, mas eu acho que trouxeram as pessoas certas primeiro com a chegada do Eddie Howe — disse o jogador.
Joelinton indica que esse processo “mudou a cabeça de todo mundo”. A competitividade levada por Howe, nas palavras do brasileiro, era algo que tinha se perdido no clube.
— A volta dos torcedores (também foi consequência), antes uma parte não gostava do antigo dono, era uma relação meio “brigada” e, desde o primeiro jogo, depois que clube foi comprado, foi incrível estar ali, eu nunca tinha visto algo parecido. E, desde então, o clube só tem evoluído — afirmou.
Não só o clube: um Joelinton melhor do que antes
Além da melhora do clube, o próprio jogador buscou melhorar. Em um movimento que tem se tornado cada vez mais comum no futebol de alto nível, Joelinton se debruçou no mundo da consultoria tática.
O brasileiro é cliente da Outlier, uma das empresas do ramo, e revelou ter desvendado um novo mundo de possibilidades dentro do futebol por conta do serviço.
Ainda centroavante, Joelinton começou a ter suas reuniões com a empresa em 2021, pouco antes de Eddie Howe assumir o clube. Ele revela que foi através do seu empresário que conheceu o serviço e se encantou.
Era um momento difícil: treinador antigo, resultados inconstantes e desempenho individual longe do ideal. Mas logo nas primeiras “aulas”, o brasileiro já ficou deslumbrado.
— No início, quando ele (analista) começou a falar, pensei: ‘Pô, estou quebrando a bola, fazendo tudo errado no jogo’. Porque o cara trabalha com isso, ele está vendo os jogos. Muitas coisas a gente não percebe. Tem coisas que, por exemplo, só por estar com o corpo mal posicionado, eu não consigo fazer, e se eu estivesse bem posicionado, poderia ter feito bem.
O brasileiro afirma que, desde que começou com as reuniões, entende melhor o jogo. “Por mais que o treinador traga essas coisas, ele está falando para 25 jogadores e comigo (na consultoria) é mais específico”.
Não à toa, o melhor momento da carreira do jogador coincidiu com a chegada de Howe, sua mudança de posição e o acompanhamento tático individualizado.
Planos grandes no Brasil
O grande plano de Joelinton em relação ao Brasil começa por representá-lo. Ele foi convocado pela primeira vez em junho de 2023, quando a Seleção ainda era comandada por Ramon Menezes, mas já era pedido por parte da torcida desde os tempos de Tite.
A lesão ao longo da temporada atrapalhou a sequência na Seleção, bem como a troca de treinadores: Ramon deu lugar a Fernando Diniz, que depois caiu para a chegada de Dorival Júnior.
O sonho segue vivo: Joelinton quer ir à Copa de 2026 e fazer seu nome representando seu país — do qual, inclusive, revelou sentir muita saudade. E, no cenário ideal, já sabe como gostaria de jogar na Seleção:
— Se fosse do meu jeito, se eu pudesse escolher, ia querer uma formação igual a minha no Newcastle (risos). Eu acho que a gente tem que se adaptar aos modelos de cada treinador. Com o Diniz, a gente jogava com dois volantes, com Ramon também. Na primeira vez que eu fui, joguei como esse segundo homem .
Em uma análise mais aprofundada, Joelinton acredita que, nas idas à seleção, também entra em cena o trabalho que faz com seu analista individual, de tentar se adaptar a outra formação. “Mas se eu tivesse que escolher, queria jogar em 4-3-3, e eu como meia pela esquerda”.
No Brasil, só o Sport?
Feito seu nome na Seleção, o plano no Brasil é outro: consolidação em território nacional. O gostinho amargo de ter saído tão rápido do país ainda atiça Joelinton, que revelou que pretende voltar e sabe onde vai jogar: no Sport.
O clube que o revelou ainda é levado com grande carinho no seu coração, mas o lado racional do meia também tem voz: pode ser que faça uma parada em outro clube antes de voltar a Pernambuco.
— Espero sim voltar para o Brasil, não sei se direto para o Sport ou antes por algum outro clube, mas eu tenho vontade de jogar o Brasileirão outra vez. Joguei pouco, quero muito disputar, quem sabe ser campeão. Então esse é um desejo que eu tenho para o futuro e espero poder realizar.
Um cenário não muito difícil de se imaginar no futebol brasileiro dos próximos anos é ver Joelinton encabeçando um dos candidatos ao título — assim como tem acontecido com alguns dos destaques brasileiros que voltam do futebol europeu.
Sem falar sobre times específicos, ele voltou a ser concreto sobre seu desejo de encerrar a carreira no Sport. Para o jogador de 28 anos, é algo muito concreto e, na sua opinião, vai acontecer.
E o retorno ao país não é apenas sobre disputar o Brasileirão. A saudade vai além do futebol: o clima, cultura e a proximidade da família falam mais alto. E, para quem vivenciou as diferenças gritantes vividas em países como Alemanha, Áustria e Inglaterra, voltar ao seu país tropical tem sido uma contagem regressiva:
— (Quando parar) eu vou morar no Brasil, com certeza. Sério, não me vejo morando aqui fora. Eu amo o meu país, eu amo estar no Brasil e ter minha família perto, meus amigos. Não sei se morar em Pernambuco ou em outro estado, isso eu não defini ainda, mas com certeza morar no Brasil.