Quando foi anunciada a chegada de James Rodríguez ao Everton, a curiosidade surgiu: como será o desempenho de um dos maiores talentos sul-americanos nesta última década na liga mais badalada do mundo?
Claro, um grande talento que também trouxe dúvidas, já que seu papel no Real Madrid com Zinédine Zidane vinha sendo o de um reserva de luxo, com pouca participação efetiva no título de La Liga dos merengues em 2019/2020.
Tendo isso em vista, vamos buscar entender como vem sendo o desempenho de James nos Toffees até aqui, seu impacto dentro do conjunto de Carlo Ancelotti e como, em tão pouco tempo, o colombiano se lança como uma possível referência para um clube que não disputa a Champions League desde a temporada 2005/2006.
Como Ancelotti está escalando James Rodríguez no Everton?
A posição na qual James jogaria foi uma dúvida desde os primeiros dias após sua chegada. Ele é um jogador flexível, que atuou em diferentes posições ao longo de sua carreira. Contando suas passagens por Porto, Mônaco, Real Madrid, Bayern de Munique e seleção colombiana, o meia de 29 anos já jogou como meia aberto, meia-central e até como interior em um 4-3-3.
Importante destacar que muitos dessas passagens foram com o próprio Ancelotti, que pediu sua contratação no Real e também contou com seus serviços no Bayern. Carlo sabe como aproveitar o jogador e está comprovando isso em solo inglês.
Seu posicionamento atual é a de meia-direita, o meia mais aberto do 4-3-3/4-1-4-1, sistema que o Everton vem atuando.
Qual é a sua função dentro da equipe?
Essa pode parecer uma pergunta fácil, já que estamos falando de um meia cerebral. Ele arma o time, não? Sim, ele arma. Mas o mais importante é entender o modo que ele faz isso, já que, como falado, ele parte do lado do campo, e não propriamente do meio.
A sua função crucial até aqui é a de inverter o lado da jogada. Como um canhoto que atua pela direita, a tendência dos seus movimentos é sempre carregar a bola para o centro. A partir daí, ele ganha campo de visão para escolher a melhor jogada.
Sendo assim, uma das suas escolhas, e provavelmente recomendação de Carlo, é inverter a bola para o lado esquerdo. Quem se beneficia com isso são dois jogadores rápidos que funcionam bem recebendo esse lançamento para acelerar posteriormente: o lateral-esquerdo Lucas Digne e o atacante Richarlison.
A ideia é ter um lado cerebral (direito) e um explosivo (esquerdo). Essas inversões, se bem feitas, podem pegar a defesa adversária em situação complicada, dependendo do posicionamento dos defensores. Contra o Tottenham, por exemplo, Richarlison teve inúmeras oportunidades de gol arrancando após receber essas inversões.
O primeiro gol de @jamesdrodriguez pelo Everton…
DE TODOS OS ÂNGULOS! 🎥⚽️ pic.twitter.com/ahqsLzUdEG
— Everton (@Everton_PT) September 21, 2020
Leia mais: Seis promessas inglesas que não atingiram o potencial esperado
Mas seu papel não se limita a isso, longe disso. É importante ter a ideia que James não é estático, ou seja, ele também circula pelo campo. Não é incomum vê-lo no lado esquerdo do gramado, buscando associações com os já citados Digne e Richarlison, realizando um jogo curto.
Essa movimentação é importante pois agrega tabelas curtas pela esquerda e abre o corredor para o lateral-direito Seamus Coleman na direita. Coleman, assim como Digne, funciona bem sendo esse lateral que dá profundidade, que gosta de ir à linha de fundo. O lateral irlandês também é, inclusive, um “alvo” para James, como no lance do gol de Dominic Calvert-Lewin contra o Crystal Palace.
“Temos que considerar o aspecto físico. James não é o jogador mais rápido do mundo, mas ele tem muita qualidade e nós temos que usar isso. Ele não é um ponta, mas ele pode circular por dentro e aí ele pode ser perigoso”, disse Carlo Ancelotti em entrevista à Sky Sports, após a estreia contra o Tottenham.
Algo que muitas vezes é esquecido, mas que tem que ser ressaltado é sua qualidade nas bolas paradas. Especialmente em cobranças de escanteio, sua precisão tem chamado atenção. Um atacante bom no jogo aéreo como Calvert-Lewin tende a se beneficiar muito com isso. Foi o que aconteceu em seu terceiro gol na partida contra o West Bromwich.
Por último, esse movimento de centralizar seu posicionamento também oferece um atributo que James explora muito bem: o chute. O seu gol diante do West Bromwich é um bom exemplo. Ele se posiciona na entrada da área, recebe o passe e já “engata” um chute cruzado de esquerdo para marcar. É algo que pode ser muito explorado ao longo da temporada.
Como estão seus números até aqui?
Até aqui temos apenas três rodadas de Premier League e a margem de análise não é das maiores. Mas nesse intervalo curto, os números de James chamam muita atenção.
Segundo o Sofascore, além de um gol e uma assistência, ambos na partida contra o West Brom, o colombiano tem, em média por jogo, 1.3 finalizações e 3.7 passes para finalização.
Em relação a sua eficiência no passe, ele faz, em média, 26.3 passes no campo adversário (com 75% de aproveitamento), 7.7 bolas longas (com 88% de aproveitamento) e 5.3 lançamentos certeiros (com 76% de aproveitamento).
Ao lado de Allan, o primeiro volante, ele é quem mais toca na bola em média durante as partidas entre os jogadores do meio em diante (75.7 toques). Esse dado é interessante, pois mostra como ele busca o jogo e se apresenta para ajudar na construção ofensiva da equipe.
Qual a expectativa para o restante do campeonato?
É difícil cravar com precisão, mas James Rodríguez, em um Everton cada vez mais encaixado e renovado, tem tudo para fazer um excelente campeonato, como um dos destaques da liga.
É interessante notar como o coletivo dos Toffees está fluindo e, assim, o futebol do colombiano se potencializando. Manter esse nível até o fim da PL é tarefa árdua. A concorrência por competições europeias é grande, mas com um grande comandante e uma referência técnica como o James, o torcedor se permite sonhar. E não está errado.