Jens Lehmann; Lauren, Kolo Touré, Sol Campbell, Ashley Cole; Gilberto Silva, Patrick Vieira, Robert Pirés, Fredrik Ljungberg; Dennis Bergkamp, Thierry Henry. Mesmo 15 anos depois, nenhum torcedor do Arsenal ou fã da Premier League esquece a escalação dos Invincibles.
O Arsenal de 2003/04 cravou seu nome de maneira definitiva na história do futebol. No dia 15 de maio de 2004, há exatamente uma década e meia, os Gunners venceram o Leicester por 4 a 2, em casa, na última rodada daquela PL.
E mais do que uma vitória, aquele triunfo confirmava a histórica conquista invicta. Com 26 vitórias, 12 empates e nenhuma derrota em 38 jogos, os comandados de Arsène Wenger receberam a taça de ouro da PL e marcaram a memória de vários torcedores pelo mundo.
PODCAST #66 | RESPEITEM A PREMIER LEAGUE!
Quinze anos já se passaram, praticamente todos os jogadores daquele elenco já encerraram a carreira e o próprio Arsenal já passou por grandes altos e baixos depois dali. Mas, para os fãs, o que aquele time fez jamais será esquecido.
Por isso, a PL Brasil faz uma homenagem de uma maneira diferente: vamos relembrar as grandes partidas daquela temporada. Iremos dissecar os principais jogos e ver como se deu a caminhada de um time que saiu do campo para entrar na história.
Arsenal 2×1 Everton – 1ª rodada – O começo de tudo
Somando o fim da PL de 2001/02 (ganhando o título sobre o Manchester United) e o começo da liga em 2002/03, o Arsenal emplacou 30 jogos sem derrotas. No meio do caminho, Arsène Wenger foi enfático e afirmou que a equipe poderia ser campeã invicta.
“Não é impossível. o Milan (na Itália) já foi uma vez, por exemplo. Mas não entendo porque é tão chocante dizer isso. Você acha que o Manchester United, o Liverpool ou o Chelsea não sonham com isso também? Eles são iguais. Só não dizem porque tem medo de parecerem ridículos, mas ninguém é ridículo nesse trabalho. Sabemos que tudo pode acontecer” – Arsène Wenger.
Obviamente Wenger foi ridicularizado pelo discurso, ainda mais quando a sequência sem derrotas se encerrou. Mas após uma temporada 2002/03 onde o Man United dominou a PL (a FA Cup veio como consolação), a expectativa era alta para 2003/04.
A estreia naquela PL foi contra o Everton em Highbury, diante da torcida. Apesar da expulsão de Sol Campbell logo aos 20 minutos, os Gunners venceram por 2 a 1 (gols de Thierry Henry e Robert Pirès, com Tomasz Radzinski descontando).
Mal todos sabiam que ali começava uma trajetória histórica.
Arsenal 1×1 Portsmouth – 5ª rodada – O primeiro tropeço
A primeira decepção da temporada foi na quinta rodada. Em Highbury, contra o recém-promovido Portsmouth e depois de quatro vitórias em quatro jogos, tudo indicava mais um triunfo vermelho.
Mas não foi isso que aconteceu. O Pompey fez 1 a 0 com Teddy Sheringham, levou o empate com Thierry Henry de pênalti, mas segurou o empate em 1 a 1 até o fim do jogo.
Na época, ainda se considerava que o Arsenal precisava dar um gás a mais no desempenho. Apesar dos 13 pontos de 15 possíveis e a vice-liderança, o time ainda parecia fora de forma.
E a rodada seguinte seria justamente contra o terceiro colocado Manchester United, um ponto atrás.
Manchester United 0x0 Arsenal – 6ª rodada – A Batalha de Old Trafford
O duelo entre os dois grandes rivais da época foi emocionante. Mas para isso, nem precisou ter gols. Até hoje o empate entre Man United e Arsenal, na sexta rodada, é lembrado como a partida onde os Gunners estiveram mais perto de perder a invencibilidade.
Importante destacar que, à época, Manchester United e Arsenal faziam grande rivalidade e eram os dois maiores times do país. Um algo a mais que carregou um jogo tão inflamado.
A temperatura, morna no primeiro tempo, esquentou de vez no segundo. Aos 36 minutos, Patrick Vieira tentou acertar Ruud Van Nistelrooy com um chute e foi expulso. Os jogadores do Arsenal reclamaram muito de simulação do holandês, mas nada foi dado.
O clima ficou cada vez mais tenso e, aos 45, pênalti de Martin Keown em Diego Forlán. Van Nistelrooy foi para a bola e teve a chance de dar a vitória aos Red Devils, mas carimbou o travessão.
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Ao fim do jogo em Old Trafford, vários jogadores do Arsenal partiram para cima do camisa 10 do Man United e a confusão se estabeleceu. Algumas punições foram aplicadas depois da partida, e aquele jogo é lembrado como um grande marco da temporada.
Arsenal 2×1 Chelsea – 9ª rodada – Vitória importante no clássico
Com oito rodadas, Arsenal e Chelsea eram os dois únicos invictos da liga e o clássico entre eles era muito aguardado. Ambos estavam empatados na ponta, com 20 pontos, e o confronto direto seria importantíssimo.
Os Gunners abriram o placar logo aos cinco minutos, com um belíssimo gol de falta de Edu. Dois minutos depois, lindo chute de fora de Hernán Crespo e o Chelsea empatou. O jogo ficou amarrado e parecia que o resultado seria o empate.
Mas aos 35 do segundo tempo, Pirés cruzou, Carlo Cudicini furou ao sair do gol e largou nos pés de Henry. Gol do Arsenal, vitória por 2 a 1 e liderança assegurada na tabela.
Aquela era a primeira temporada do Chelsea com Roman Abramovich como dono e injetando dinheiro no clube. Após o jogo, Wenger assumiu que os Blues tinham mais elenco, mas ressaltou a unidade maior da sua equipe.
“Estamos juntos há anos e temos o conforto de saber que já ganhamos coisas antes. Quando somos desafiados, ficamos ainda mais unidos. O Chelsea talvez precise de um pouco mais de tempo, mas lá para o fim da temporada, seu grande elenco será uma vantagem”, disse o treinador francês.
Arsenal 2×1 Tottenham – 12ª rodada – O primeiro North London Derby
Depois de uma difícil sequência com Newcastle, Liverpool e Chelsea, enfim veio o North London Derby. Na 12ª rodada, Gunners e Spurs se enfrentaram em Highbury.
O Tottenham vinha de grande jejum: não ganhava qualquer partida contra os rivais desde 1999, e fora de casa não vencia o clássico desde 1993. E parecia que a seca acabaria quando Darren Anderton fez 1 a 0 logo com cinco minutos de jogo.
A partida ficou nervosa, o Arsenal atacava e não conseguia marcar. Mas com o time mais solto no segundo tempo, veio a virada: Pirés aos 24 e Freddie Ljungberg aos 34. Mais três pontos que consolidaram o time na ponta, em dura briga com o Chelsea.
Aston Villa 0x2 Arsenal – 22ª rodada – Liderança definitiva
Na rodada 21, o Arsenal havia goleado o Middlesbrough e o Manchester United empatou sem gols com o Newcastle, em casa. Com isso, os Red Devils tinham a liderança por apenas um ponto.
Eis que, na semana seguinte, o time de Manchester perdeu surpreendentemente para o Wolverhampton – brigando contra o rebaixamento – por 1 a 0. Um dia depois, era só o Arsenal bater o Aston Villa fora de casa e tomar a liderança.
E a vitória veio. Com dois gols de Thierry Henry, os Gunners venceram por 2 a 0 e assumiram a ponta. O primeiro foi polêmico: enquanto a barreira do Villa ainda se armava, o francês bateu falta rapidamente e marcou, gerando muitos protestos dos mandantes.
Aqueles três pontos representavam a última troca de liderança na Premier League 2003/04. Dali em diante, os londrinos assumiram a primeira posição para não largarem mais.
Chelsea 1×2 Arsenal – 26ª rodada – Consolidando a taça
Com o empate surpreendente do Manchester United diante do desesperado Leeds United, o Chelsea x Arsenal da rodada 26 ganhava ainda mais importância. Os Gunners estavam quatro pontos à frente dos Blues, que depositavam suas esperanças no clássico.
Tanto que o Chelsea começou elétrico e demorou 27 segundos para abrir o placar com Eidur Gudjohnsen. Mas os líderes controlaram os nervos e logo retomaram as rédeas da partida.
Aos 15 do primeiro tempo, linda tabela entre Robert Pirés e Dennis Bergkamp, e Patrick Vieira saiu na cara do gol para empatar. E cinco minutos depois, escanteio de Gilberto Silva, o goleiro Neil Sullivan saiu mal e Edu fuzilou na sobra para marcar 2 a 1.
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Aquela foi a sexta de uma sequência de nove vitórias seguidas, a maior do torneio. Agora, abrindo sete pontos de vantagem na liderança da PL, era cada vez mais questão de tempo até a taça chegar.
Arsenal 4×2 Liverpool – 31ª rodada – Alívio pós-eliminações
O começo de abril de 2004 causou tensão. No dia 3, derrota por 1 a 0 para o Manchester United e eliminação na semifinal da FA Cup. Três dias depois, veio o momento mais complicado da temporada.
Em 6 de abril, jogo da volta das quartas de final da Uefa Champions League. Com um grande time, os Gunners sabiam da chance de enfim serem campeões europeus e apostaram alto na possibilidade. Só não contavam com agora rival rico: o Chelsea.
Depois de 1 a 1 na ida fora de casa, derrota de virada por 2 a 1 em Highbury na volta. O gol de Wayne Bridge demoliu as esperanças europeias dos vermelhos e mostrou ao mundo que os azuis seriam relevantes sob comando de Roman Abramovich.
Ao Arsenal, restava a PL. E logo depois das eliminações, jogo contra o Liverpool em casa. Sami Hyypiä fez 1 a 0 para os Reds aos cinco minutos e o estádio se calou. Mas os mandantes controlaram os nervos e, mesmo estando duas vezes atrás no placar, venceram por 4 a 2.
A partida ficou marcada em especial pelo terceiro gol, o da virada. Em um lance de extrema habilidade, Henry recebeu no meio de campo, passou por toda a defesa sem freio e marcou um golaço. Jogada digna de um campeão.
Tottenham 2×2 Arsenal – 34ª rodada – O título
Dia 26 de abril de 2004, North London Derby no White Hart Lane. Com um simples empate, o Arsenal seria campeão inglês na casa do Tottenham, repetindo o feito de 1971. E o momento inesquecível para a torcida vermelha aconteceu.
Mostrando determinação para ser campeão, os Gunners logo partiram para cima. Aos três minutos, Bergkamp cruzou da esquerda e Vieira abriu o placar. E aos 35, foi a vez de Vieira dar assistência, agora para Pirés marcar 2 a 0.
O Tottenham, tentando evitar a chance de o rival ser campeão em sua casa, foi para cima no segundo tempo. Aos 16, Jamie Redknapp chutou de longe e diminuiu. E aos 48, Robbie Keane empatou de pênalti. Os Lilywhites até sonharam com a virada, mas não deu.
Fim de jogo, 2 a 2, Arsenal oficialmente campeão inglês pela 13ª vez. Com a torcida em polvorosa, os jogadores comemoraram com os fãs ainda dentro do campo, diante da torcida adversária. Ao ser perguntado sobre o assunto, Henry foi sincero.
“Embora tenha sido importante para nós ganhar o título aqui, era mais importante para eles (evitar A CONQUISTA). Mesmo não ganhando o jogo, as pessoas irão lembrar que ganhamos a liga no White Hart Lane. Você não ganha um título todo dia. Aconteceu de ser na casa do Tottenham e isso é especial, mas teríamos comemorado no campo em qualquer lugar. Sabemos que é especial para os fãs, então não poderíamos sair e ir para casa” – Thierry Henry.
Arsenal 2×1 Leicester – 38ª rodada – Invincibles
Dois empates e uma vitória depois do título, e o Arsenal voltava a Highbury na última rodada. Diante do rebaixado Leicester, o campeão buscava um feito inédito: a Premier League invicta. A expectativa era altíssima.
Por um instante, o estádio travou. Isso porque aos 26, Paul Dickov aproveitou cruzamento na área e fez 1 a 0 para os Foxes. Será que a primeira derrota aconteceria justamente no último jogo?
Não seria dessa vez. Logo com dois minutos do segundo tempo, pênalti que Henry cobrou muito bem e empatou. E aos 21, Vieira recebeu na área, driblou o goleiro e virou o placar. Nada mais justo que o capitão marcar o gol final da campanha.
Apito final, 2 a 1 e festa em Highbury. Com muita comemoração diante da torcida, os Invincibles receberam a taça de ouro. O time igualava o Preston North End de 1888-89 e era campeão inglês invicto (primeiro na era PL).
A conquista fez parte também da maior sequência invicta da história da liga. Entre maio de 2003 e outubro de 2004, passando por três temporadas, o time emplacou 49 jogos sem derrotas.
Um fato curioso: depois da declaração em 2002 falando que poderia ser campeão invicto, Wenger recebeu a seguinte manchete na imprensa: “Cômico Wenger“. Na comemoração do título invicto, ainda em campo, foi atirada uma camisa em sua direção com estes dizeres. Em tom igualmente cômico, o treinador respondeu:
“Alguém jogou em mim uma camisa depois que o troféu foi entregue, que dizia: ‘Cômico Wenger diz ‘nós podemos passar a temporada inteira invictos”. EU Estava apenas uma temporada adiantado!” – Arsène Wenger.
Quinze anos depois, muita coisa mudou, o futebol foi revolucionado e, aliás, novas forças surgiram. Mas nada irá apagar a história construída pelo Arsenal em 2003/04.
Estatísticas do Arsenal Invincibles na Premier League 2003/04:
- 90 pontos em 38 jogos: 26 vitórias, 12 empates e nenhuma derrota;
- Melhor ataque com 73 gols marcados, melhor defesa com 26 gols sofridos;
- Thierry Henry foi o artilheiro do campeonato, com 30 gols, e eleito o melhor jogador pelas Associações dos Jogadores (PFA), dos Treinadores (LMA) e dos Jornalistas (FWA);
- Kolo Touré indicado entre os finalistas para melhor jogador jovem da PFA;
- Seis jogadores no time do ano da PFA: Lauren, Sol Campbell, Ashley Cole, Patrick Vieira, Robert Pirés, Thierry Henry;
- Arsène Wenger eleito o treinador da temporada.