Por que torcida do Chelsea feminino prefere Kingsmeadow a Stamford Bridge

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Enquanto o time masculino do Chelsea enfrentava o Liverpool, em Anfield, pela Premier League, em 20 de outubro, as mulheres comandadas pela treinadora francesa Sonia Bompastor se preparavam para receber o Tottenham, em um dérbi londrino pela Womens Super League (WSL) no Kingsmeadow. E A PL Brasil foi até lá para acompanhar o pré-jogo.

O Kingsmeadow, estádio do Chelsea Women e da equipe sub-21 dos Blues, está no bairro de Kingston, sudoeste de Londres. Podemos dizer que fica no meio do caminho entre o centro de treinamento de Cobham, um pouco mais afastado, e o Stamford Bridge, em uma região mais central da capital inglesa.

A principal diferença entre os dois estádios está obviamente na capacidade oito vezes menor: 5 mil contra 40 mil. Mas não é só isso. 

— Eu prefiro aqui. Acho mais fácil de chegar e tem mais chances de venderem todos os ingressos, o que é legal para as jogadoras. Gosto do Stamford Bridge, mas aqui o ambiente é mais família e amigável — contou Claire, torcedora que frequenta o Kingsmeadow desde a temporada 2017/18.

Para os moradores locais de Kingston que podem ir a pé ou ônibus, certamente a localização fica muito melhor, mas o local não oferece melhores opções de transporte público que o estádio principal dos Blues.

A estação de trem Norbiton, a mais próxima de Kingsmeadow, fica a cerca de 17 minutos caminhando. Enquanto a casa do time masculino fica a menos de cinco minutos a pé da estação de metrô Fulham Broadway.

Entrada do Kingsmeadow, casa do Chelsea Women, localizada no bairro de Kingston em Londres (Foto: Rodolfo Morsoletto)

Estádios diferentes, climas diferentes

O ambiente mais “família e amigável” a que se refere a torcedora faz muito sentido se levarmos em conta os arredores dos estádios. O Kingsmeadow fica em um bairro muito residencial e tudo que se vê ao redor são casas. O pub mais próximo dali fica a 1,6km.

Ao chegar em Stamford Bridge, o cenário é outro. São várias opções de restaurantes, cafés e lojas. Vendedores ambulantes estão por todos os lados, assim como as barraquinhas de comida. Para encontrar um pub, basta atravessar a rua e isso talvez explique um pouco sobre a diferença de público.

Os homens são mais presentes no Stamford Bridge e gostam de ficar tomando cerveja antes da partida. O público no Kingsmeadow é, em sua maioria, formado por mulheres e crianças.

A ausência dos beberrões coincide também com uma necessidade menor de policiamento. Mesmo se tratando de um dérbi de muita rivalidade entre Chelsea e Tottenham, nossa reportagem não viu nenhum tipo de policiamento ao redor do estádio das Blues, somente alguns “stewards” (aqueles funcionários vestindo coletes, que cuidam da segurança e organização dos torcedores).

Em Kingmeadow também não havia vendedores ambulantes, apenas um trailer funcionando como uma loja de produtos oficiais do Chelsea. A bilheteria tinha pouca fila, com ingressos que variavam de 5 libras — os “concession tickets” (algo similar à meia-entrada no Brasil) — e 21 libras — os ingressos normais — (por volta de R$ 35 a R$ 150).

— Eu prefiro aqui, é uma atmosfera muito melhor. Não acho que temos apoio suficiente jogando no Stamford Bridge com apenas uma arquibancada e o preço dos ingressos mais caros — relatou Jackie, torcedora do Chelsea.

Grafite em Kingsmeadow: “Nós não podíamos pensar em apenas uma razão para ajudar meninas a jogar futebol. Pensamos em 5 mil.” (Foto: Rodolfo Morsoletto)

A atmosfera tão comentada pelas torcedoras se deve ao fato de o estádio principal ser mais acanhado e menos monótono.

Nos jogos da Champions League feminina, em que o Chelsea tem mandado no Stamford Bridge, o clube também limita a capacidade a 5 mil, concentrando a torcida no setor “West Stand Lower”. Dessa forma, os lugares atrás dos gols ou dos bancos de reservas ficaram vazios.

Segundo comunicado divulgado pelo clube na estreia da equipe, contra o Real Madrid, em 8 de outubro, a decisão foi tomada por questões financeiras.

— Isso garante que a partida seja financeiramente sustentável e nos permite usar as arquibancadas de uma forma que crie uma atmosfera e experiência melhor para os torcedores — diz o comunicado do Chelsea.

Apesar da preferência pela casa oficial da equipe feminina, Karen, outra torcedora ouvida pela PL Brasil, afirmou que entende a importância de jogar no Stamford Bridge pelo crescimento da modalidade e para que o trabalho da equipe seja devidamente reconhecido.

— Kingsmeadow é ótimo por poder estar perto da atmosfera, sentindo cada toque na bola que o time dá. É um clima pulsante e adorável. Mas, ao mesmo tempo, estamos falando de um estádio pequeno, então acho que precisamos de mais jogos no Stamford Bridge para crescermos. Elas também são profissionais e merecem reconhecimento por tudo o que conquistaram podendo ter mais jogos no estádio principal — relatou Karen.

Rodolfo Morsoletto
Rodolfo Morsoletto

Jornalista formado pela Unimep com passagens por Terra e OneFootball. Foi repórter de rádio, setorista do XV de Piracicaba e cobria jogos do Campeonato Paulista da Série A3. Está em Londres desde 2018 onde atualmente é correspondente da PL Brasil. Já tietou José Mourinho andando aleatoriamente pelas ruas da capital britânica.

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