Como uma música religiosa dos EUA virou hino de torcidas na Inglaterra

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As arquibancadas dos estádios na Inglaterra são recheadas de músicas que transformam as partidas da Premier League ou Championship em um verdadeiro espetáculo. Uma delas é a tradicional canção religiosa dos Estados Unidos, a “When the Saints Go Marching in”.

A tradicional canção americana se tornou um hino entre os torcedores ingleses. Tradicionalmente, ela é entoada durante alguns jogos de clubes como Tottenham e Southampton, além de ser utilizada em homenagens a ídolos dos times. Mas como ela chegou na Inglaterra?

A criação de “When the Saints Go Marching in”

“When the Saints Go Marching in” pode ser traduzido como “Quando os Santos estiverem marchando” para a língua portuguesa. Ela também é conhecida como “The Saints” e é um popular hino cristão dos Estados Unidos.

A música pertence ao estilo spirituals — um gênero de música cristã afro-americana — e não tem uma data exata de lançamento. A primeira versão gravada conhecida é de 1923 pelo grupo Paramount Jubilee Singers.

No entanto, a versão mais popular é de 1938, quando “The Saints” foi gravada pela lenda do jazz Louis Armstrong e sua orquestra.

Embora não haja registro de quem e quando a música foi gravada originalmente, alguns compositores alegam serem os autores da canção. Nomes como Luther G. Presley, Virgil Oliver Stamps e RE Winsett já reivindicaram a autoria.

As primeiras versões da música possuíam um ritmo mais lento, mas com o passar dos anos, ela ganhou o ritmo mais acelerado do jazz. Em 1956, a lendária banda de rock Bill Haley & His Comets lançaram uma versão, intitulada “The Saints Rock ‘N’ Roll”.

A letra de “When the Saints Go Marching in”:

Oh, when the saints go marching in (Oh, quando os Santos marcham)
Oh, when the saints go marching in (Oh, quando os Santos marcham)
Oh Lord I want to be in that number (Oh, Senhor, eu quero no meio desse número)
When the saints go marching in (Quando os Santos marcham)

O hino das torcidas inglesas

O jazz viveu os tempos de ouro na década de 1920, após o fim da Primeira Guerra Mundial. O ritmo animado trazia alegria aos americanos, principalmente em Nova Orleans, Nova York, Kansas City e Chicago.

A música atravessou fronteiras e o jazz começou a se popularizar no mundo. Ele chegou na Inglaterra no final da década de 1920 e 1930. Já “When the Saints Go Marching in” chegou até as arquibancadas inglesas apenas na década de 1950, se popularizando entre os torcedores do Southampton.

O Southampton também é conhecido como Saints — santos na tradução para o português. A melodia cativante, a letra simples de decorar e o saints na canção fizeram com que o jazz torna-se popular entre os torcedores da equipe.

No último domingo (26), o Southampton venceu o Leeds na final dos playoffs da Championship, garantindo o retorno à Premier League. Os torcedores presentes em Wembley celebraram a vitória cantando “When the Saints Go Marching in”.

Além de se tornar um hino para os torcedores do Southampton, a música ganhou espaço nas outras torcidas. Na década de 1960, a canção também foi entoada pelos presentes em Anfield, mas com uma adaptação. A palavra saints foi substituída por reds — vermelho, em português, e apelido do Liverpool.

A torcida do Liverpool também utiliza a versão original da letra para homenagear Ian St John. Ele é um dos ídolos do clube, defendendo a equipe entre as décadas de 1960 e 1971, mas faleceu em 2021 após longa batalha contra o câncer de bexiga.

Também é possível escutar a canção nos jogos realizado pelo Tottenham em casa desde a década de 1960. Os torcedores substituem o saints pelo spurs, com as partidas no Tottenham Hotspur Stadium sendo acompanhadas por trompetes.

Outras versões dos torcedores, além de mudarem o saints pelo apelido do clube, também trocam outra palavra. O marching — marcha, em português — dá lugar ao steaming — fumegante.

As versões de “When the Saints Go Marching in”

  • Aldershot Town – substituindo “Saints” por “Shots” e “Marching” por “Steaming”
  • Alverchurch FC – substituindo “Saints” por “Church”
  • Birmingham City – substituindo “Saints” por “Blues”
  • Bristol Rovers – substituindo “Saints” por “Gas”
  • Chelsea – substituindo “Saints” por “Blues” e “Marching” por “Steaming”
  • Chalfont St Peter – versão original
  • Fulham – substituindo “Saints” por “Whites”
  • Leeds – versão original
  • Leicester – substituindo “Saints” por “Blues”
  • Liverpool – substituindo “Saints” por Reds ou mantendo a versão original em homenagem a Ian St John
  • Luton Town – substituindo “Saints” por “Town” e “Marching” por “Steaming”
  • Maidstone United – substituindo “Saints” por “Stones”
  • Manchester United – versão original
  • Middlesbrough – versão original
  • MK Dons – substituindo “Saints” por “Dons”
  • Newcastle – substituindo “Saints” por “Mags”
  • Norwich – versão original
  • Oldham – substituindo “Saints” por “Blues”
  • Peterbrough United – substituindo “Saints” por “Posh” e “Marching” por “Steaming”
  • Plymouth Argyle – substituindo “Saints” por “Greens”
  • Queens Park Rangers – substituindo “Saints” por “R’s”
  • Rochdale – substituindo “Saints” por “Dale”
  • Rotherham United – versão original
  • Sheffield United – substituindo “Saints” por “Blades”
  • Solihull Moors – substituindo “Saints” por “Moord”
  • Southampton – versão original
  • Swindon Town – substituindo “Saints” por “Reds” e “Marching” por “Steaming”
  • Tottenham – substituindo “Saints” por “Spurs”
  • West Bromwich – substituindo “Saints” por “Stripes”
  • Wolverhampton – substituindo “Saints” por “Wolves”
Gabriel Lemes
Gabriel Lemes

Me formei em Jornalismo pela Univap em 2019 e sou redator da PL Brasil. Já escrevi para o Quinto Quarto, Minha Torcida, Futebol na Veia e Portal Famosos.