E agora com a seleção inglesa? Ainda tem dois jogos da Liga das Nações no mês que vem, mas logo depois vai chegar a hora de definir o novo treinador.
Três opções: manter Lee Carsley como técnico interino enquanto busca um nome com mais peso. Trazer alguém já. Ou promover Carsley, nomeando-o como técnico definitivo — vale reforçar que ele já declarou não estar animado com essa opção.
Depois da euforia dos jogos de setembro, a bola de Carsley baixou um pouco nessa data FIFA, com a Inglaterra perdendo em casa para a Grécia e vencendo a Finlândia, mas sem grande estilo.
Aqui, tem o perigo de colocar uma importância excessiva em cima de jogos que, na verdade, são quase amistosos. Porque são oportunidades para fazer experiências — que nem sempre vão dar certo.
O time contra a Grécia foi aquele que todo mundo estava querendo ver — o time do povo, uma seleção ofensiva, na gíria do momento, um time como o freio desligado. Saka e Gordon como extremos, Foden e Bellingham juntos, mais Cole Palmer.
Não podia falhar — e falhou feio. Nada deu certo, não houve coordenação. Como o Dorival Júnior vem descobrindo, no ambiente de seleções, sem tempo para treinar, é difícil jogar sem um nove.
Então, muitas mudanças contra a Finlândia. Harry Kane voltou, e sumiram os extremos. Outro problema. Com Kane recuando, precisava de um extremo para fazer a corrida nas costas da defesa adversária, assim esticando o jogo e criando espaço para os meias.
Sem esse movimento, sempre houve o risco de um jogo de passes estéreis, para o pé e não para o espaço, tudo na frente da zaga rival. O panorama do jogo mudou de imediato quando entraram Watkins e Madueke, atacantes que preferem receber a bola na frente.
Experiências, aprendizagem. Com certeza Lee Carsley aprendeu mais nesta data FIFA do que com as vitórias fáceis de setembro.
Mas não importa como ele arma o seu time no mês que vem. Uma seleção inglesa ofensiva vai enfrentar um problema — o time parece muito vulnerável para um adversário que saiba contra-atacar em velocidade.

Quais são os problemas da defesa da Inglaterra?
Dois motivos. Primeiro, se fala bastante da grande geração inglesa. Não se aplica tanto aos defensores. Tem jogadores na linha da defesa que são muito melhores com a bola no pé do que cumprindo deveres de marcação.
O saudoso Valdir Espinosa gostava de chamar o último terço do campo como “a zona da coragem”. Quantos jogadores você está disposto a colocar aí? Contra os melhores, uma Inglaterra ofensiva teria a coragem de enviar tantos jogadores para a frente? Daria para confiar naqueles que ficam atrás?
O outro motivo leva a gente para o centro da questão. A defesa inglesa está ficando exposta porque os jogadores da frente não estão trabalhando suficiente. Trata-se de uma geração badalada, com méritos. Mas isso tem perigos. Tem toques de preciosismo.
Momentos quando os meias estão segurando a bola demais, esperando a possibilidade de um passe sensacional abrir, quando circular a bola com um passe simples seria melhor. E tem outros momentos em que, na pressão pós-perda, está faltando intensidade, quando não se tem empenho suficiente para recuperar a bola.
É natural que um grande jogador tenha um ego forte — e até saudável, porque sem uma autoestima forte não seria capaz de render num grande palco. Mas o ego do craque tem de ser alinhado com as necessidades do time — e consertar isso faz parte das funções do técnico.

Lidar com isso é novo na vida do Lee Carsley. Há esperanças dele como uma versão local de Scaloni com a Argentina ou De La Fuente com a Espanha — o cara de dentro pronto para ser promovido.
O trabalho de Carsley com a seleção Sub-21 realmente tem sido especial, e taticamente muito interessante, com o seu time mostrando uma fluência e uma variedade impressionante. Mas precisava do sacrifício dos seus jogadores, adaptando os seus estilos para fazer funcionar o coletivo — e conseguir isso pode ser mais fácil com novatos que com estrelas estabelecidas.
Talvez seja essa a grande dúvida que paira sobre a opção de escolher o Carsley como técnico em definitivo. Tem cacife para mandar nos craques?