Como a Inglaterra fracassou e ficou fora da Eurocopa de 2008 mesmo com Lampard, Gerrard, Rooney e cia?

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A Inglaterra se classificou com antecedência para a Eurocopa de 2024, mas essa facilidade na principal competição de seleções do continente nem sempre foi assim. Em 2008, a equipe chocou o mundo ao ficar fora da edição. Afinal, como um time recheado de craques não passou das Eliminatórias?

Decepções não faltam para o currículo da seleção inglesa, mas essa certamente está entre as maiores da história. A Inglaterra já participou da Eurocopa dez vezes, mas nunca conseguiu ganhar. A geração de ouro dos anos 2000 foi cotada como uma das favoritas para 2008, mas o sonho se tornou um pesadelo por uma série de fatores.

O caminho da Inglaterra até o fracasso

Os ingleses se acostumaram a cantar nas arquibancadas que o futebol “está voltando para a casa”. Se for assim, o esporte bretão perdeu o rumo entre 2006 e 2008, e teve de buscar uma nova morada. Nas Eliminatórias, a Inglaterra esteve em um grupo “acessível”: Croácia, Rússia, Macedônia do Norte, Israel, Estônia e Andorra.

Inicialmente, parecia absurdo pensar que um país com uma liga tão forte como a Premier League, que por temporadas seguidas, colocou times na final da Champions League, pudesse não se qualificar. Mas aconteceu.

A Inglaterra começou bem e goleou Andorra por 5 a 0, além de ter batido a Macedônia por 1 a 0. Contudo, empates sem gols nas rodadas seguintes contra Macedônia do Norte e Israel, e uma derrota por 2 a 0 para a Croácia, já mostraram que a caminhada da seleção inglesa seria árdua.

O time emplacou cinco vitórias consecutivas, mas derrapou nas duas derrotas finais. Dois reveses para Rússia e Croácia derrubaram os ingleses para o terceiro lugar. Com o resultado, o país que criou o futebol se viu fora da Eurocopa de 2008.

  • 12 jogos
  • 7 vitórias
  • 2 empates
  • 3 derrotas
  • 24 gols feitos
  • 7 gols sofridos

Artilheiro: Peter Crouch (5 gols)

Inglaterra 2×3 Croácia – O jogo da eliminação

Scott Carson, Micah Richards, Sol Campbell, Joleon Lescott e Wayne Bridge; Shaun Wright-Phillips (David Beckham), Steven Gerrard, Gareth Barry (Jermaine Defoe), Frank Lampard, Joe Cole (Darren Bent), Peter Crouch. Técnico: Steve McClaren.

O novo Wembley foi o palco de um dos maiores vexames da história do futebol inglês. Com 14 minutos apenas, Nico Kranjcar e Ivica Olic já haviam marcado dois gols para a Croácia, com falha do goleiro Carson – hoje terceiro reserva do Manchester City. O atropelo iniciou deixou a Inglaterra zonza e se manteve até o intervalo. Os jogadores britânicos saíram de campo vaiados e sentiram o peso do drama.

De volta, McClaren colocou Beckham e Defoe em campo. As mudanças deram resultado e o time conseguiu empatar, com Lampard e Crouch. O 2 a 2 dava a vaga aos campeões mundiais de 1966, mas o filme de terror voltou. Mladen Petric voltou a colocar os croatas na frente, desta vez em definitivo. 3 a 2 e a Inglaterra estava fora da Eurocopa.

O técnico Steve McClaren não pôde contar com os lesionados John Terry, Wayne Rooney, Rio Ferdinand e Michael Owen para a decisão contra os croatas. Mesmo com os desfalques, o técnico foi imediatamente demitido e só pôde lamentar.

–Eu acreditava que estava à altura do cargo quando o assumi e ainda acredito agora. Mas obviamente, você é julgado pelos resultados”, disse McClaren. Eu disse logo no início que viveria e morreria pelos resultados e os resultados não foram do meu jeito. Nesse sentido, falhamos. É o dia mais triste da minha carreira–, disse McLaren após a derrota para a Croácia.

Inglaterra
Campbell, Gerrard e Lamparda na derrota da Inglaterra para a Croácia (Foto: Icon Sport)

‘Não’ de Felipão e renovação de geração frustrada

Quando acabou a Copa do Mundo de 2006, a Inglaterra tentava juntar os cacos de mais uma frustração. A equipe treinada por Sven-Goran Eriksson foi eliminada para Portugal nas quartas de final. Antes mesmo do Mundial, porém, os dirigentes ingleses já planejavam o futuro e gostariam de ter Felipão no comando.

Luiz Felipe Scolari recebeu uma proposta da Inglaterra antes da Copa disputada na Alemanha. O comandante brasileiro balançou com a oferta, mas recusou por conta de um impasse.

–Eles queriam que eu assinasse contrato antes da Copa do Mundo. Esse era o impasse. Teria sido uma situação estranha: eu treinando Portugal e enfrentando a Inglaterra. Eu seria técnico de Portugal, mas com contrato assinado com outro país? Não seria certo. Se fosse outra situação, eu iria com o maior prazer–, revelou o brasileiro à “ESPN”.

Sem Felipão, a Federação Inglesa escolheu Steve McClaren. A solução caseira foi ousada. O comandante havia treinado o Middlesbrough por seis anos, e antes apenas tinha sido auxiliar em Derby County e Manchester United — cargo que ocupa hoje novamente. É bem verdade que o trabalhou no Boro foi histórico. Ele venceu a Copa da Liga Inglesa e foi vice da Copa da Uefa.

Na seleção, porém, nada deu certo. McClaren chegou ao cargo com a intenção de dar um choque de gestão e renovar. Logo de cara, transformou John Terry em capitão e parou de convocar algumas estrelas com cadeiras cativas. David Beckham, David James e Sol Campbell foram alguns dos experientes que o treinador tirou da seleção.

McClaren quebrou a constelação e deu espaço para nomes à época jovens e que não conseguiram se firmar na equipe. Chris Kirkland, Dean Ashton, Ben Foster, Michael Dawson e Andy Johnson foram alguns dos atletas chamados pelo comandante no curto ciclo de 16 meses.

A filosofia do treinador não deu certo e ele precisou se render aos medalhões novamente. Beckham, Campbell e James terminaram as Eliminatórias no elenco, mas não foram capazes de evitar o vexame.

O tempo passou, a Espanha foi campeã europeia em 2008 e a Inglaterra fechou com Fabio Capello. Desde então, o time britânico participou de todos os torneios continentais e mundiais, mas ainda não realizou o sonho do título e espera ver a geração de Bellingham fazer o que outras estrelas não conseguiram.

Lucas Barbosa
Lucas Barbosa

Redator da PL Brasil. Foi por meio da Premier League, na tela do antigo Esporte Interativo, em 2007, que o Jornalismo entrou na minha vida. Duas paixões que abriram portas e me fazem realizar sonhos todos os dias. Passei pelos portais Mais Minas e Esporte News Mundo.