Não é só a experiência de assistir a um jogo da Premier League que é muito diferente quanto a acompanhar uma partida do Brasileirão. Tudo que cerca esse ambiente é muito distinto de um país para o outro, incluindo a atuação da imprensa esportiva.
A PL Brasil conta agora, com o relato do correspondente na Inglaterra, Rodolfo Morsoletto, as grandes diferenças entre as duas.
Como são as transmissões?
O grito de gol não existe e emoção na voz do narrador é coisa rara. Dá para fazer um paralelo com as arquibancadas: no Brasil, tem muito mais vibração do que aqui. Emocionante mesmo só se o gol for nos acréscimos, valendo título da Premier League como o memorável grito para Aguero naquele título do City.
Por aqui, na Inglaterra, o narrador é chamado de “comentator” e o comentarista é o “pundit”, que normalmente é um ex-jogador ou ex-técnico. Não há espaço para jornalistas como comentaristas, bem diferente da realidade brasileira.
Nas transmissões inglesas, os comentaristas interagem muito mais com o narrador comparado ao Brasil. Os repórteres de campo só participam das entrevistas pré e pós jogo. Além disso, não há repórteres atrás dos gols, como é tão comum no futebol brasileiro.
Natalie Gedra, em entrevista à PL Brasil em 2020, contou que tem uma experiência mais tranquila como repórter de campo comparado aos anos em que trabalhou no futebol brasileiro.
“No geral, você não vê um jornalista da emissora x e é xingado no estádio. Isso não existe aqui. E isso acontece o tempo todo no Brasil e era algo que me chateava muito. Eles (torcedores) não veem quem você é, eles veem o microfone que você está segurando. Eu passei por momentos muito difíceis em estádios de futebol, de ser hostilizada, de correr perigo mesmo”.
No Brasil, às vezes, quebramos a cabeça para saber onde vai passar o jogo do nosso time diante de tantos canais e plataformas. Em território inglês, isso é um pouco mais tranquilo, mas também tem suas desvantagens. A Premier League não tem transmissão em TV aberta como o Brasileirão.
Caso queira acompanhar os jogos do time de coração, o torcedor precisa pagar para ter TV por assinatura ou serviço de streaming. A principal detentora de direitos da Premier League no Reino Unido é a Sky Sports.
O canal de TV onde atualmente trabalha a jornalista brasileira Natalie Gedra transmite 128 jogos por temporada e o valor da assinatura não sai por menos de 34 libras por mês (R$ 250).
- A Sky divide os direitos com a TNT Sports, que exibe 52 partidas e o serviço de streaming Amazon Prime Video, fica com outras 20.
- A TNT Sports, detentora dos direitos exclusivos da Champions League no Reino Unido, tem uma mensalidade de 15 libras por mês (R$ 110).
- A Amazon tem o valor mais em conta poque mostra menos partidas: 8,99 libras (R$ 65).
Na contramão do mercado brasileiro, onde o streaming está cada vez mais presentes nas transmissões do futebol, quem continuará mandando neste mercado na Inglaterra são os canais de TV.
Em um acordo recorde de 6,7 bilhões de libras, a Sky Sports já tem garantido os direitos de transmissão da Premier League por mais quatro anos a partir de 25/26. E ainda ampliou sua fatia. A emissora vai aumentar os números de jogos transmitidos de 128 para 215 por temporada.
A TNT Sports ficará com os direitos dos jogos que começam às 12h30 aos sábados e mais duas rodadas de meio de semana. A Amazon Prime Video não adquiriu nenhum direito.
Credenciamento para os jogos
A Premier League cuida do credenciamento dos jornalistas para todas as partidas. Os canais detentores dos direitos de transmissão, como é o caso da ESPN Brasil, têm a credencial de imprensa garantida. Os correspondentes João Castelo Branco e Renato Senise têm direito a fazer entrevistas com os técnicos e jogadores.
Para os veículos sem os direitos de transmissão, conseguir credencial para uma partida é uma tarefa mais complicada. Mesmo se o jornalista conseguir uma aprovação da Premier League, ainda tem que passar por uma peneira jogo a jogo. A concorrência é grande e a liga inglesa não alivia.
Em estádios com salas de imprensa menores como são os casos de Stamford Bridge e Craven Cottage, é bem difícil conseguir cobrir um jogo grande. Em estádios com estruturas maiores para equipes de comunicação, como o Emirates e o Tottenham Stadium, as chances aumentam
No Brasil, o credenciamento para jogos do Brasileirão é feito via CBF e tem maior flexibilidade que na Inglaterra, embora haja uma limitação do número de profissionais por veículo cadastrado.
Importância do jornal impresso
Quem tem presença garantida em cada jogo são os profissionais de jornais impressos. Esse é um setor da imprensa que ainda tem muita relevância no país e os assessores dos clubes fazem questão que os jogadores concedam entrevistas a esses veículos pós-jogo.
As edições de domingo costumam trazer reportagens especiais com um ângulo diferente do que rolou na partida. Os tabloides se destacam pelas manchetes e títulos criativos, fazendo trocadilhos. Esse tipo de jornal, aliás, é bem sensacionalista. Gostam de focar no extracampo, trazendo fotos de jogadores aproveitando a vida fora dos gramados.
Outra questão que reforça a importância do jornal impresso na Inglaterra é quanto ao embargo. Parte do conteúdo das coletivas na véspera de um jogo, geralmente às sextas-feiras, não pode ser divulgado de forma instantânea por ninguém da imprensa.
É preciso esperar até as 22h30 de sábado para que algumas falas de um treinador sejam publicadas por todos os veículos. A prática visa não prejudicar os jornais impressos, para que eles não publiquem a notícia com “atraso”.
É uma realidade muito diferente da do Brasil. Os principais jornais brasileiros, em geral, perderam força, cortaram investimentos para as editorias de esporte e diminuíram bastante o tamanho das equipes de reportagem nos últimos anos.
E os programas de esporte?
O principal e mais tradicional programa de esportes da Inglaterra é o Match of the Day (O Jogo do Dia), da BBC. A emissora, que tem os direitos de transmissão da FA Cup, exibe os melhores momentos de cada jogo da rodada da Premier League antes do início do programa, apresentado pelo ex-jogador inglês Gary Lineker.
Torcedor do Leicester assumido, o artilheiro histórico da seleção inglesa já chegou a apresentar o programa vestindo apenas uma cueca samba-canção do clube de coração, pagando uma promessa pelo título inglês de 2015/16.
Lineker tem, disparado, o maior salário entre comentaristas e apresentadores de TV no Reino Unido: 1,35 milhões de libras por ano (R$ 9,9 milhões). Alan Shearer, que é comentarista do “Match of The Day”, é o terceiro mais bem pago, com 445 mil libras por ano (R$ 3,35 milhões).
Os dois ex-centroavantes e o ex-lateral-direito do Manchester City Micah Richards formam um trio muito entrosado, debatendo o futebol inglês com conhecimento e descontração.
O entrosamento é tanto que os três apresentam um podcast chamado “The Rest is Football” (O resto é futebol). No programa, eles analisam a rodada, trazem entrevistas com nomes de peso (uma das mais recentes foi com Virgil Van Dijk) e respondem perguntas dos ouvintes enviadas por e-mail.
Os ex-jogadores comentaristas
Sky Sports
- Gary Neville
- Jamie Carragher
- Roy Keane
- Micah Richards
- Daniel Sturridge
- Jamie Redknapp
TNT Sports
- Rio Ferdinand
- Peter Crouch
- Joe Cole
- Michael Owen
- Paul Scholes
Amazon Prime Video
- Thierry Henry
- Patrice Evra
- Alan Shearer
- Michael Owen
- Jermain Defoe